Discurso de Posse
Acadêmica Rosana Cavalcante dos Santos - Cadeira 03
DISCURSO PROFERIDO PELA ENGENHEIRA AGRÔNOMA, ROSANA
CAVALCANTE DOS SANTOS, NA SOLENIDADE DE POSSE, COMO MEMBRO DA ACADEMIA ACREANA
DE LETRAS, NA CADEIRA Nº 3, REALIZADA NO DIA 22 DE MARÇO DE 2019, ÀS 18H, NO
CENTRO CULTURAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ACRE.
SAÚDO AS AUTORIDADES CONSTITUÍDAS,
SAÚDO A PRESIDÊNCIA E VICE-PRESIDÊNCIA DA ACADEMIA ACREANA
DE LETRAS, PROFª DRª LUÍSA GALVÃO LESSA KARLBERG E O POETA RENÃ PONTES,
SAÚDO OS MEMBROS DAS ACADEMIAS PRESENTES, ESPECIALMENTE O
PRESIDENTE DAS ACADEMIAS DE LETRAS E JORNALISMO DO ACRE, POETA MAURO MODESTO
SAÚDO OS PROFESSORES, AS COMUNIDADES ACADÊMICAS, E OS ALUNOS DAS
INSTITUIÇÕES PÚBLICAS, EM ESPECIAL OS DO INSTITUTO FEDERAL DO ACRE – IFAC,
SAÚDO A COMUNIDADE
ACREANA, EM GERAL
Sinto-me honrada com a presença de todos, inclusive, e em
especial, da minha família e dos amigos, considerando que nesta noite memorável
realizo o sonho de ser membro da Academia Acreana de Letras, ao tomar posse na cadeira
de número 03, desse Sodalício.
A Academia Acreana de Letras tem para mim, e acredito que
também para a sociedade acreana, relevância simbólica, histórica e
representatividade intelectual que enobrecem o povo acreano.
Nesta oportunidade, enquanto mulher e
intelectual acreana, adentro ao panteão da imortalidade vislumbrado pela
Academia de Paris, origem das Academias brasileiras, e agradeço o apoio
recebido, inicialmente da Prof.ª Dr.ª Maria José Bezerra pelo incentivo e Carta
de indicação para participar do processo seletivo, e aos confrades e
confreiras, que após análise da minha trajetória intelectual e profissional me
elegeram para fazer parte desta Casa.
Cabe-me, neste momento, cumprir o rito de
homenagear o patrono e antecessor, da cadeira de nº 3, respectivamente, Alberto
Torres e Sá Ribeiro, em cumprimento regimental.
Anselmo de Sá Ribeiro, foi jornalista e Membro-Fundador da
Academia Acreana de Letras, na cadeira de nº 3, que tem Alberto Torres, na
posição de Patrono. Destacou-se no cenário político da Amazônia, pela produção
de textos de conteúdo patriótico, divulgados no jornal “O Acre”, órgão oficial
do governo do Território Federal do Acre, nos quais assinalava - que cabia ao
Estado assumir a educação do povo.
No seu entendimento, a cultura proporciona o desenvolvimento
dos talentos, contribui para a formação das consciências histórica e cívica,
elementos esses indispensáveis a participação combativa que os segmentos
populares devem ter numa conjuntura em que os valores da pátria estavam sob
ameaça ante a expansão de ideologias contrárias a defesa da família, da moral,
da ética e da propriedade.
Seus artigos veiculados no jornal “O Acre”, na década de
1930, sobretudo após a instituição do “Estado Novo Varguista” exalta o
autoritarismo, o patriotismo e a inserção das massas trabalhadoras na ordem
política, guiadas e controladas pelo Estado.
A concepção integradora, coesa e harmônica da sociedade que
defendia, preconizava a união entre capital e trabalho, e, nesse sentido, Sá
Ribeiro se coloca contra a organização sindical fora da esfera de poder do
Estado.
Embora nos anos 40, do século XX, Sá Ribeiro em seus artigos
priorizasse as questões de ordem política, eventualmente se atinha a analisar
os efeitos da baixa densidade demográfica do Acre e os advindos da queda do
preço da borracha para a economia local, contexto este, que se modificou, com a
assinatura dos Acordos de Washington (1942), que desencadearam a “batalha da
borracha” e a intervenção do grande capital
(inglês e norte-americano), na produção gomífera para atender ao esforço
de guerra dos países aliados.
Nas pesquisas que realizamos, não foi possível saber se Sá
Ribeiro chegou a publicar algum livro, o fato é que, na função de jornalista,
em algumas ocasiões no cargo de assessoria de imprensa do governo, seus artigos
eram sempre centrados numa concepção ufanista e patriótica do Brasil,
particularmente nas décadas de 1930 e 1940.
Por sua vez, Alberto de Seixas Mateus Torres, nascido em
Itaboraí, em 26 de novembro de 1863, no Rio de Janeiro, é patrono da Academia
Acreana de Letras, sob o número 3.
Alberto Torres, no contexto do Brasil Imperial, da segunda
metade do século XIX, considerado o século da história, destacou-se na
política, no jornalismo e no exercício da advocacia.
Também foi um pensador da realidade social brasileira,
expressando suas preocupações com questões atinentes a unidade nacional e a
organização da sociedade.
No campo teórico, a sua concepção de sociedade se enquadrava
nos limites do conservadorismo, com ênfase no republicanismo, na defesa do
Estado forte e do pragmatismo como estratégia para solucionar os problemas
brasileiros da época em que vivia.
Sendo filho de um republicano entusiasta, Manoel Martins
Torres, que foi Vice-Presidente no governo de José Porciúncula, era também Bacharel
em Direito, pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1886.
Partidário dos ideais republicanos e partícipe atuante da
conjuntura de crise do império, juntamente com outros intelectuais e militantes
da causa republicana, funda em 1889, o jornal “O Povo”. Com a proclamação da
República, torna-se deputado da Assembleia Constituinte fluminense, instalada
em 1º de março de 1892, exercendo o cargo de deputado estadual até o ano
seguinte.
E, após a promulgação da Constituição Brasileira de 1891, a
primeira da República, é eleito em 1894, deputado federal. No ano de 1895, na
gestão do Presidente Prudente de Morais, é nomeado para o cargo de Ministro da
Justiça e Negócios Interiores. No entanto, por discordar da intervenção
realizada na cidade de Campos de Goytacazes, decretada pelo Vice-Presidente,
Manuel Vitorino, demite-se do aludido cargo.
Protagonista do cenário da política brasileira da virada do
século XIX para o XX, exerceu, também, o mandato de Presidente de estado do Rio
de Janeiro (31/12/1897 – 31/12/1900), sendo sucedido por Quintino Boicaiúva. Em
1901, torna-se Ministro do Supremo Tribunal Federal, afastando-se desta função
em 1907, por motivo de saúde. Posteriormente, viaja a Europa e quando retorna
(1909), solicita aposentadoria.
Convém ainda mencionarmos que Alberto Torres foi membro do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e ao sair da vida pública, este
passou a se dedicar a estudos e pesquisas sobre os problemas políticos e
sociológicos brasileiros. Possuidor de sólida cultura erudita, suas obras
revelam o seu alto saber, ressaltando-se o seu pensamento republicano e
nacionalista, além do gosto de polemizar através de artigos publicados na
imprensa da época, notadamente no jornal “Gazeta de Notícias”. Aliás, vários
destes artigos compuseram uma de suas obras – A Organização Nacional, editada
em 1914.
Durante a sua curta existência, Alberto Torres, falecido em
29 de março de 1917, aos 51 anos de idade, na cidade do Rio de Janeiro, fez da
imprensa, a tribuna, e do direito, o campo do conhecimento através do qual era
possível pensar os problemas nacionais.
As trajetórias de Sá Ribeiro e Alberto Torres, são
diferenciadas e referem-se a contextos históricos distintos, tanto no Brasil,
quanto no Acre. Sá Ribeiro, afinado com os totalitarismos de direita, em
expansão na Europa do Entre-Guerras, e o consequente combate a expansão do
comunismo soviético e Alberto Torres um nacionalista republicano, que defendia
a instauração de uma república democrática parlamentar no Brasil, inspirado no
modelo norte-americano.
Diferencio-me dos
dois! Impelida pelo ideal de valorização da educação, consciente da
responsabilidade assumida quanto a defesa das identidades, culturas e tradições
do Acre, juntamente com meus pares, pautada pelo senso crítico e cívico, e
posicionamentos firmes e claros, numa perspectiva democrática e republicana,
que assumo a cadeira de nº 3.
Almejo contribuir para
o desenvolvimento do Acre e do Brasil, num contexto global. As Ciências, as
Letras e as Artes só têm utilidade se servem a sociedade. O diálogo entre
teoria e prática, e pesquisa, ensino e extensão, são os alicerces da minha
formação, enquanto pesquisadora, educadora e gestora. E, é com estes referenciais
que atuarei no âmbito da AAL.
Obrigada.
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