25/04/2020

DISCURSO DE POSSE DA ACADÊMICA PROF.ª DR.ª ROSANA CAVALCANTE DOS SANTOS - Cadeira 03


Discurso de Posse
Acadêmica Rosana Cavalcante dos Santos - Cadeira 03

DISCURSO PROFERIDO PELA ENGENHEIRA AGRÔNOMA, ROSANA CAVALCANTE DOS SANTOS, NA SOLENIDADE DE POSSE, COMO MEMBRO DA ACADEMIA ACREANA DE LETRAS, NA CADEIRA Nº 3, REALIZADA NO DIA 22 DE MARÇO DE 2019, ÀS 18H, NO CENTRO CULTURAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ACRE.

SAÚDO AS AUTORIDADES CONSTITUÍDAS,
SAÚDO A PRESIDÊNCIA E VICE-PRESIDÊNCIA DA ACADEMIA ACREANA DE LETRAS, PROFª DRª LUÍSA GALVÃO LESSA KARLBERG E O POETA RENÃ PONTES,
SAÚDO OS MEMBROS DAS ACADEMIAS PRESENTES, ESPECIALMENTE O PRESIDENTE DAS ACADEMIAS DE LETRAS E JORNALISMO DO ACRE, POETA MAURO MODESTO
SAÚDO OS PROFESSORES, AS COMUNIDADES ACADÊMICAS, E OS ALUNOS DAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS, EM ESPECIAL OS DO INSTITUTO FEDERAL DO ACRE – IFAC,
SAÚDO  A COMUNIDADE ACREANA, EM GERAL
Sinto-me honrada com a presença de todos, inclusive, e em especial, da minha família e dos amigos, considerando que nesta noite memorável realizo o sonho de ser membro da Academia Acreana de Letras, ao tomar posse na cadeira de número 03, desse Sodalício.
A Academia Acreana de Letras tem para mim, e acredito que também para a sociedade acreana, relevância simbólica, histórica e representatividade intelectual que enobrecem o povo acreano.
         Nesta oportunidade, enquanto mulher e intelectual acreana, adentro ao panteão da imortalidade vislumbrado pela Academia de Paris, origem das Academias brasileiras, e agradeço o apoio recebido, inicialmente da Prof.ª Dr.ª Maria José Bezerra pelo incentivo e Carta de indicação para participar do processo seletivo, e aos confrades e confreiras, que após análise da minha trajetória intelectual e profissional me elegeram para fazer parte desta Casa. 
        Cabe-me, neste momento, cumprir o rito de homenagear o patrono e antecessor, da cadeira de nº 3, respectivamente, Alberto Torres e Sá Ribeiro, em cumprimento regimental.
Anselmo de Sá Ribeiro, foi jornalista e Membro-Fundador da Academia Acreana de Letras, na cadeira de nº 3, que tem Alberto Torres, na posição de Patrono. Destacou-se no cenário político da Amazônia, pela produção de textos de conteúdo patriótico, divulgados no jornal “O Acre”, órgão oficial do governo do Território Federal do Acre, nos quais assinalava - que cabia ao Estado assumir a educação do povo.
No seu entendimento, a cultura proporciona o desenvolvimento dos talentos, contribui para a formação das consciências histórica e cívica, elementos esses indispensáveis a participação combativa que os segmentos populares devem ter numa conjuntura em que os valores da pátria estavam sob ameaça ante a expansão de ideologias contrárias a defesa da família, da moral, da ética e da propriedade.
Seus artigos veiculados no jornal “O Acre”, na década de 1930, sobretudo após a instituição do “Estado Novo Varguista” exalta o autoritarismo, o patriotismo e a inserção das massas trabalhadoras na ordem política, guiadas e controladas pelo Estado.
A concepção integradora, coesa e harmônica da sociedade que defendia, preconizava a união entre capital e trabalho, e, nesse sentido, Sá Ribeiro se coloca contra a organização sindical fora da esfera de poder do Estado.
Embora nos anos 40, do século XX, Sá Ribeiro em seus artigos priorizasse as questões de ordem política, eventualmente se atinha a analisar os efeitos da baixa densidade demográfica do Acre e os advindos da queda do preço da borracha para a economia local, contexto este, que se modificou, com a assinatura dos Acordos de Washington (1942), que desencadearam a “batalha da borracha” e a intervenção do grande capital  (inglês e norte-americano), na produção gomífera para atender ao esforço de guerra dos países aliados.
Nas pesquisas que realizamos, não foi possível saber se Sá Ribeiro chegou a publicar algum livro, o fato é que, na função de jornalista, em algumas ocasiões no cargo de assessoria de imprensa do governo, seus artigos eram sempre centrados numa concepção ufanista e patriótica do Brasil, particularmente nas décadas de 1930 e 1940.
Por sua vez, Alberto de Seixas Mateus Torres, nascido em Itaboraí, em 26 de novembro de 1863, no Rio de Janeiro, é patrono da Academia Acreana de Letras, sob o número 3.
Alberto Torres, no contexto do Brasil Imperial, da segunda metade do século XIX, considerado o século da história, destacou-se na política, no jornalismo e no exercício da advocacia.
Também foi um pensador da realidade social brasileira, expressando suas preocupações com questões atinentes a unidade nacional e a organização da sociedade.
No campo teórico, a sua concepção de sociedade se enquadrava nos limites do conservadorismo, com ênfase no republicanismo, na defesa do Estado forte e do pragmatismo como estratégia para solucionar os problemas brasileiros da época em que vivia.
Sendo filho de um republicano entusiasta, Manoel Martins Torres, que foi Vice-Presidente no governo de José Porciúncula, era também Bacharel em Direito, pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1886.
Partidário dos ideais republicanos e partícipe atuante da conjuntura de crise do império, juntamente com outros intelectuais e militantes da causa republicana, funda em 1889, o jornal “O Povo”. Com a proclamação da República, torna-se deputado da Assembleia Constituinte fluminense, instalada em 1º de março de 1892, exercendo o cargo de deputado estadual até o ano seguinte.
E, após a promulgação da Constituição Brasileira de 1891, a primeira da República, é eleito em 1894, deputado federal. No ano de 1895, na gestão do Presidente Prudente de Morais, é nomeado para o cargo de Ministro da Justiça e Negócios Interiores. No entanto, por discordar da intervenção realizada na cidade de Campos de Goytacazes, decretada pelo Vice-Presidente, Manuel Vitorino, demite-se do aludido cargo.
Protagonista do cenário da política brasileira da virada do século XIX para o XX, exerceu, também, o mandato de Presidente de estado do Rio de Janeiro (31/12/1897 – 31/12/1900), sendo sucedido por Quintino Boicaiúva. Em 1901, torna-se Ministro do Supremo Tribunal Federal, afastando-se desta função em 1907, por motivo de saúde. Posteriormente, viaja a Europa e quando retorna (1909), solicita aposentadoria.
Convém ainda mencionarmos que Alberto Torres foi membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e ao sair da vida pública, este passou a se dedicar a estudos e pesquisas sobre os problemas políticos e sociológicos brasileiros. Possuidor de sólida cultura erudita, suas obras revelam o seu alto saber, ressaltando-se o seu pensamento republicano e nacionalista, além do gosto de polemizar através de artigos publicados na imprensa da época, notadamente no jornal “Gazeta de Notícias”. Aliás, vários destes artigos compuseram uma de suas obras – A Organização Nacional, editada em 1914.
Durante a sua curta existência, Alberto Torres, falecido em 29 de março de 1917, aos 51 anos de idade, na cidade do Rio de Janeiro, fez da imprensa, a tribuna, e do direito, o campo do conhecimento através do qual era possível pensar os problemas nacionais.
As trajetórias de Sá Ribeiro e Alberto Torres, são diferenciadas e referem-se a contextos históricos distintos, tanto no Brasil, quanto no Acre. Sá Ribeiro, afinado com os totalitarismos de direita, em expansão na Europa do Entre-Guerras, e o consequente combate a expansão do comunismo soviético e Alberto Torres um nacionalista republicano, que defendia a instauração de uma república democrática parlamentar no Brasil, inspirado no modelo norte-americano.
 Diferencio-me dos dois! Impelida pelo ideal de valorização da educação, consciente da responsabilidade assumida quanto a defesa das identidades, culturas e tradições do Acre, juntamente com meus pares, pautada pelo senso crítico e cívico, e posicionamentos firmes e claros, numa perspectiva democrática e republicana, que assumo a cadeira de nº 3.
 Almejo contribuir para o desenvolvimento do Acre e do Brasil, num contexto global. As Ciências, as Letras e as Artes só têm utilidade se servem a sociedade. O diálogo entre teoria e prática, e pesquisa, ensino e extensão, são os alicerces da minha formação, enquanto pesquisadora, educadora e gestora. E, é com estes referenciais que atuarei no âmbito da AAL.
                       
  Obrigada.

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