15/11/2020

DISCURSO DE POSSE DA ACADÊMICA VALCILDA BEZERRA DE AMORIM (VAL AMORIM), NO SODALÍCIO DA ACADEMIA ACREANA DE LETRAS - AAL, CADEIRA N° 15.

 

 Discurso de Posse da Acadêmica Valcilda Bezerra de Amorim - Cadeira nº 15

 

Digníssima Senhora Presidente da Academia Acreana de Letras, Professora Doutora Luísa Galvão Lessa Karlberg, ilustres membros, senhoras e senhores acadêmicos, amigos e familiares.

         Boa noite a todos,

Hoje, 10 de julho de 2020, digo-lhes que este momento é, para mim, um dos mais especiais e importantes de minha vida, momento este em que tenho a honra de fazer parte deste ilustre Sodalício, onde tomo posse da cadeira de número 15, da Academia Acreana de Letras – AAL, tendo como meu Patrono, o Excelentíssimo General Belarmino Augusto de Mendonça Lobo, que aportou e participou da história do Acre como chefe da “Comissão Brasileira de Reconhecimento do Alto Juruá”, no ano de 1904.

O General Belarmino Augusto de Mendonça Lobo nasceu em 1850, na antiga Província do Rio de Janeiro, filho de Belchior de Mendonça Lobo. Participou de diversos combates, em 1867, dentre eles, a Guerra do Paraguai. Como militar, foi elogiado e promovido por atos de bravura, com a promoção de Alferes.

O relatório do General Belarmino de Mendonça Lobo, encarregado da missão no Juruá, contém a memória da Comissão Mista, com versão espanhola do Comissário peruano D. Nuno Pompílio Leon. Este relatório foi redescoberto pelo escritor Leandro Tocantins na década de 80, tendo sugerido que fosse publicado com o título "Reconhecimento do Rio Juruá".

Assim, nas curvas dos rios amazônicos que cruzam o Estado do Acre, General Belarmino de Mendonça Lobo registrou os limites e confrontações da região do Juruá, incluindo em seu relatório o mapeamento dos rios que, num outro momento, seriam percorridos por tantas outras famílias, como a do meu antecessor nesta casa e a minha também.

 Minha história, senhoras e senhores, está ligada ao meu antecessor, quando meus pais e meus avós vieram para este Estado e aqui permaneceram até suas partidas para a eternidade. Pelos rios da Amazônia, a família do meu antecessor também chegou e se instalou nesta bela terra, no meu querido Acre, e pelas curvas do destino hoje tomo posse da cadeira de nº 15, até então, pertencente ao ilustre confrade a quem passo a prestar minhas homenagens.

 Mário Lima Brasil, antecessor da cadeira de nº 15, personalidade inspiradora e que com muito orgulho faço-lhe deferência. Nasceu em Rio Branco – Acre, cursou o ensino fundamental no Grupo Escolar Presidente Dutra e ensino médio no Colégio Acreano. Graduou-se em música pelo Departamento de Música da Universidade de Brasília, mestrado na Universidade de Artes e Música de Tóquio e doutorado na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Professor de composição no Departamento de Música da Universidade de Brasília. Como compositor, é autor de diversas obras, entre elas pode-se destacar a ópera Aquiry, a Luta de um Povo, inspirada na Revolução Acreana. Atualmente é Presidente Nacional dos Grupos PETs (Programa de Educação Tutorial do Ministério da Educação) e desenvolve pesquisa na área de Música e Interfaces (ópera, cinema, videogame, teatro musical, música e saúde e música quântica).

Minhas senhoras e meus senhores:

Esta é a realidade que já foi sonho! Este é o momento em que, primeiramente, agradeço a Deus por tantos sonhos que foram convertidos em realidade; a minha família, por me apoiar e se alegrar comigo a cada conquista; aos membros dessa Augusta Academia, pelo voto de confiança que me foi conferido; ao incentivo e apoio de amigos e amigas, aqui, representados na pessoa do confrade Renã Leite Pontes, meu patrocinador, a quem coube a missão de me indicar a este Sodalício, quando acolheu a minha ousadia de pleitear uma vaga na Academia Acreana de Letras, trazendo comigo minhas obras literárias, que são a materialização das minhas riquezas culturais.

Não vou falar-lhes dos meus títulos, dos cargos que ocupei e tampouco das fronteiras que cruzei em busca de conhecimento. Vou falar-lhes somente sobre o que sinto que sou. Sinto que sou uma artesã. Uma artesã de palavras. Minha arte consiste em juntar palavras na intenção de tocar e encantar almas.

Espero fazer jus ao que preconizava Platão, o fundador da primeira Academia, na antiga Grécia, berço da civilização ocidental. Dizia ele: “toda vez que surge um novo Acadêmico a humanidade inteira fica mais enriquecida culturalmente!”

 Senhora Presidente, minhas raízes pertencem a esta terra que recepcionou meus antepassados e fez de mim uma sobrevivente. Já percorri muitas outras terras, mas é aqui, neste pedaço da Amazônia que descanso minha alma, pois aqui meu coração é completamente livre.

Concluo este momento solene homenageando minha mãe, que chegou ao Acre com sua família ainda muito jovem e que, prematuramente, partiu pouco tempo depois do meu nascimento. Realmente, o que escrevemos nos imortaliza. Minha mãe escrevia poemas, cartas, orações e talvez outros textos dos quais não tive acesso. Contudo, desde pequena observei que meu pai guardava num cofre alguns papéis, que aos 15 (quinze) anos de idade, ao perceber que meu pai havia esquecido o cofre aberto, decidi checar que papéis eram aqueles. Sentei-me no chão e me pus a ler aqueles textos maravilhosos, com uma caligrafia perfeita, comparo à dos calígrafos nos convites de casamento que recebi. Minha mãe é a minha maior inspiração para a literatura e o universo das letras e a ela presto minha homenagem para que se registre nos anais desta Academia o nome de Maria Joana de Amorim, in memoriam.

Meus pais e avós, como a maioria dos seringueiros e negociantes que aqui chegaram, criaram raízes e jamais retornaram as suas terras de origem, como descreve meu antecessor, Mario Lima Brasil, na Ópera Aquiry, a Luta de um Povo, que aqui deixo-lhes um pequeno trecho:

[...]

Ah! Como vou voltar

Pro meu Ceará

Isto eu não sei

Ah! Mas quando eu voltar

Que eu volte como

Se Fosse um rei

[...].

 

 Muito obrigada a todos!

Rio Branco – AC, 10 de julho de 2020.

Valcilda Bezerra de Amorim (Val Amorim)

 

CONSULTA DE APOIO REFERÊNCIAL:

Discurso de Posse do Acadêmico Prof. Dr. Mário Lima Brasil - ACADEMIA ACREANA DE LETRAS.

Disponível em: <https://academiaacreanadeletras-aal.blogspot.com/2016/09/posse-do-academico-mario-lima-brasil-na.html>. Acesso em: 07 de maio de 2020.

SILVA, Hiran Reis e. Belarmino Mendonça Lobo. Gente de Opinão. Disponível em: <https://www.gentedeopiniao.com.br/colunista/hiram-reis-e-silva/belarmino-augusto-de-mendonca-lobo>.  Acesso em: 07 de maio de 2020.

SILVA, Hiran Reis e. Desafiando o Rio-Mar. Disponível em:

<http://desafiandooriomar.blogspot.com/2012/05/belarmino-augusto-de-mendonca-lobo-os.html>. Acesso em: 20 de junho de 2020.

31/08/2020

DISCURSO DE POSSE DO ACADÊMICO JOSÉ WILSON AGUIAR

  
 Discurso de Posse 
Acadêmico José Wilson Aguiar - Cadeira 39

Excelentíssima Presidente da ACADEMIA ACREANA DE LETRAS, Prof.ª Dr.ª Luísa Galvão Lessa Karlberg
Excelentíssimo Vice-Presidente da ACADEMIA ACREANA DE LETRAS, escritor Renã Leite Corrêa Pontes
Excelentíssimos Confrades e Confreiras da ACADEMIA ACREANA DE LETRAS
Senhoras e Senhores,
Confesso, humildemente, que já fiz parte de fato mas não de direito da octogenária ACADEMIA ACREANA DE LETRAS; convivi com os imortais de memória saudade nos anos 80 e 90 e, muitos deles, ensinaram-me a amar o Acre, seu povo, sua História ímpar e suas instituições. Esse amor ainda continua e vai fazer em breve quarenta anos e, com certeza, todos serão testemunhas desse amor incontido que existe dentro de mim nos próximos anos. Lembro-me de um dia em que conheci nosso escritor Leandro Tocantins num evento literário ocorrido no auditório da Ufac, Centro, quando lá me falou: “continue resgatando nossa História”! Isso ocorreu depois que li, minuciosamente, os três volumes de sua célebre obra “Formação Histórica do Acre” (1ª edição), hoje em meu acervo só tenho um dos dois volumes da 3ª edição (1979).
Pois bem, agora me sinto dentro de Casa, hoje comandada pela uma conterrânea daquele célebre escritor amazônida e porque não dizer, acreano, que é Leandro Tocantins.
O ano de 2020, marcará as vidas de novos imortais que, comigo, ingressaram na ACADEMIA ACREANA DE LETRAS. Para o registro da posterioridade menciono meus confrades e confreiras que juntos ingressamos: Valcilda Amorim (Cadeira 15, Patrono Belarmino Mendonça); Hermógenes Pereira Lima Neto (Cadeira 16, Patrono Cândido Rondon); Adalberto Queiróz (Cadeira 17, Patrono Carlos Vasconcellos); Fátima Cordeiro (Cadeira 20, Patrono Emílio Goeldi); Sanderson Moura (Cadeira 23, Patrono Francisco D’Oliveira Conde); Nilda Dantas (Cadeira 26, Patrono Humberto de Campos); Elizeu Melo (Cadeira 35, Patrono Mário Lobão), e José Wilson Aguiar (Cadeira 39, Patrono Raymundo Moraes).
De todos os Patronos acima citados eu conheço o passado brioso de cada um, porquanto como disse alhures, aprendi, há anos, a amara esta Augusta Casa a Academia Acreana de Letras e, hoje, mais do que antes, porque sou integrante dela, tendo por patrono Raymundo Moraes.
Já os ocupantes das atuais Cadeiras, também merecem meus cumprimentos sinceros, todos fazem História e têm suas marcas deixadas no contexto atual do Acre; os segmentos culturais de cada um, são todos importantes para uma sociedade ainda em formação, como é a do Acre; uma sociedade sempre se renova.
Antes de registrar meus feitos aqui no Acre, desde 1986, não só em Rio Branco, mas nos demais 21 municípios, falarei daquele que foi o ocupante número 1 da Cadeira quando da fundação de nossa ACADEMIA ACREANA DE LETRAS.  
O Patrono da Cadeira 39 é o escritor paraense Raymundo Joaquim de Moraes (15 de setembro de 1872, Belém (PA) – Ϯ3 de fevereiro de 1941, Belém (PA).
Seu pai, Miguel Quintiliano Moraes era prático no rios caudalosos da região, inclusive, indo navegar nas águas dos rios Madeira e Purus. É daqui que veio a inspiração de Raymundo Moraes escrever belissimamente a região em livros clássicos no contexto regional. Suas obras ainda ganham espaço nos espaços literários sendo lidas e [re]lidas, eivadas de fontes da vida cotidiana do caboclo amazônico, da fauna e da imensa flora verde.
Ao longo da carreira de escritor amazônida, Raymundo Moraes fez publicar 17 livros, todos são clássicos. O mais célebre de todos, comparado aos demais, é a obra Na Planície Amazônica, um clássico de nossa literatura regional, inclusive a obra foi de cabeceira do então presidente Washington Luís, que conheceu muitíssimo bem a realidade amazônica lendo e relendo aquela obra. Sic!
Raymundo Moraes foi um “autodidata, comandante de navios pelos rios da região, jornalista, político, partícipe de atividades intelectuais de seu tempo.
Foi ao pódio literário na década de 1930 e depois baixou às catacumbas do olvido, merecendo ser representado e reconhecido num preito de gratidão e justiça em decorrência de sua considerável produção a respeito da Amazônia, pois muitas de suas obras, como O meu dicionário de cousas da Amazônia (1931), continuam sendo fonte de investigação inesquecível para os que dedica[re]m à estudar a respeito da Região Amazônica e sua[s] cultura[a], assim como alimentaram a voracidade antropófaga de Márcio de Andrade”. 1
Sobre a colonização da nossa região, disse:
“Foram os paraenses que a devassaram a Amazônia. Escalaram-na silenciosa e anonimamente. A curiosidade os levou a espiar por todos os buracos [...] os buracos eram os rios [...], fios d’água [...] a energia paraenses concretizada nos seus marujos das canoas pratas”. 2
Aos poucos, autor e obras serão reconhecidos e incorporados no contexto regional!
Quanto à minha pessoa como mais um apaixonado pela região, pela História, serei breve nos feitos tidos desde 1986.
Lembro-me muito bem minha infância de quando era estudante, lá nos idos anos de 1969; quando das aulas de estudos sociais, da minha professora Liduína; recordo quando via o mapa do Brasil e sem querer, acabava olhando para a Região Norte e via os imensos rios que circundam a cobiçada Região Amazônica. Uma obra cobiçada. Um dia, ocorreu o encontro. Do sertão cearense, fui morar em Manaus, e vi e convivi com as águas do rio Negro, do Solimões, enfim, do rio Amazonas, sem contar, então, com os demais rios Madeira e rio Acre. Nas idas e vindas, navegando de Manaus até Tefé, pelo rio Negro, sempre pensava: essas águas são testemunhas da História, e realmente são. Não tinha medo nenhum de navegar como foi várias ocasiões, e testemunhar o vai-e-vem de embarcações com seus passageiros em pé acenando para outras embarcações no remanso dos rios. Outras, fiz isso deitado nas redes que se atam nos convés inferiores daquelas embarcações. Lembro-me de uma viagem feita no rio Madeira, de Manaus a Porto Velho, foram sete dias de viagem, quantas embarcações passamos e quantos vimos de seus tripulantes acenando para os demais; com certeza, essas cenas ocorreram nos anos bem longínquos. Nesse contexto, me sentia ser mais um caboclo!
Deixando as águas caudalosas dos rios da nossa região, parto agora a andar pelas estradas, muitas vezes, empoeiradas nos municípios do Acre; desde meados de 1986 tenho feito essas viagens, sozinho, com o objetivo de fazer e iniciar meu trabalho, de resgatar História do Acre. Toda vez que ia, já ia com um caminho a percorrer em cada um desses municípios, ia até na secretaria das igrejas em buscas de dados históricos, ia nas câmaras municipais, nas prefeituras, nas casas de moradores envolvidos com a história do lugar, do município, também ia nas escolas atrás das bibliotecas e dos professores doces recordações! Enfim, esses momentos estão registrados nas fotos que pedia para alguém tirar para mim, e até hoje, guardo-as com cuidado e zelo e me vejo no passado, como eu era, como me vestia, e essas doces lembranças ainda guardo na memória.
Experiente, aos poucos fui para outros lugares, outros estados, com o mesmo fito. Conhecendo História do Acre e seus personagens, fui em busca de historiar aqueles personagens de nossa História bem longe: Manaus, Recife, Salvador, Sergipe, Ceará, Belém, Rio de Janeiro; hoje mesmo, vejo, com tristeza no coração, uma imensa tristeza e ainda mais preocupado com o que estão fazendo com a nossa História, nosso passado. É triste! A História do Acre aos poucos, vai se esvairando! Mas, se depender de mim, não irei deixar nossa História se acabar. Quando vejo que isso está acontecendo, me vejo com mais afinco que não deverei parar de fazer o que sempre fiz: resgatar a nossa História para publicar livros. É isso que faço de segunda a segunda, até não mais tiver forças para tal.
Essa missão para mim aumentou, aumentou, pois sou parte do grupo seleto de imortais da ACADEMIA ACREANA DE LETRAS. Em nosso Sodalício esta cada qual está arregaçando suas mangas e fazendo florescer o amor e o respeito que devemos ter com a nossa História, com a História dos nossos antepassados, com as mais diversas formas de culturas e expressões abstratas, como na música, nas artes, na literatura, nas letras.
Viva a ACADEMIA ACREANA DE LETRAS! Viva a seu Sodalício!

_____________
1 “Na planície do esquecimento”. Sebastião Larêdo. Dissertação de Mestrado em Letras / Estudos Literários do Centro de Artes da Universidade Federal do Pará, 2007.  
2 Ibid







06/08/2020

DISCURSO DE POSSE DA ACADÊMICA NILDA DANTAS

Discurso de Posse 
Acadêmica Nilda Dantas - Cadeira 26

Excelentíssima Presidente da Academia Acreana de Letras, Prof.ª Dr.ª Luísa Galvão Lessa Karlberg
Excelentíssimo Sodalício da AAL, confreiras e confrades
Senhoras e senhores,
Meus cumprimentos e gratidão por está convosco nesta data memorável. Agradeço a participação de todos neste evento, que se dá de modo virtual, em razão do momento de pandemia que assola o mundo, o Brasil e também nosso Estado do Acre. Mas, estarmos aqui, em rede, em uma cerimônia on-line é uma prova de que somos uma espécie resiliente; sob a bandeira da cultura e das letras que nos motivam à luta, estamos nos adaptando aos novos tempos e às novas tecnologias. Somos agora cidadãos e acadêmicos de um mundo globalizado e digital.
Agradeço a Prof.ª Dr.ª Luísa Galvão Lessa Karlberg, presidente desta honrada associação literária, pelo honroso convite para concorrer à eleição e, eleita, tomar assento na 26ª (vigésima sexta) cadeira, das quarenta que compõem este seleto grupo de literatos. Cadeira esta que tem por patrono o escritor, jornalista, contista, memorialista e político Humberto de Campos, sobre o qual peço licença para fazer aqui um breve relato de sua biografia.  
Nascido em 25 de outubro de 1886, em Miritiba, cidade do interior do Maranhão (que hoje leva o nome de seu ilustre cidadão), faleceu no Rio de Janeiro em 5 de dezembro de 1934, há exatos 86 anos. Se vivo fosse teria, hoje, 134 anos. Ele era filho de pequenos comerciantes e desde cedo teve que trabalhar no comércio como meio de subsistência. Órfão aos seis anos, foi levado para a capital, São Luís. Aos 17 anos passou a residir em Belém, Estado do Pará, onde conseguiu um lugar de colaborador e redator na Folha do Norte e, pouco depois, no Periódico “Província do Pará”. Em 1910, publicou seu primeiro livro, uma coletânea de versos intitulada Poeira. No ano de 1912 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde entrou para O Imparcial, na fase em que ali trabalhava um grupo de escritores ilustres, como redatores ou colaboradores, entre os quais Goulart de Andrade, Rui Barbosa, José Veríssimo, Júlia Lopes de Almeida, Salvador de Mendonça e Vicente de Carvalho. O diretor, José Eduardo de Macedo Soares participava da segunda campanha civilista[1]¹. Humberto de Campos ingressou no movimento, mas logo depois o jornalista militante deu lugar ao intelectual. Fez essa transição com o pseudônimo de “Conselheiro XX”, como assinava os contos e as crônicas, hoje reunidos em vários volumes. Assinava também com os pseudônimos: Almirante Justino Ribas, Luís Phoca, João Caetano, Giovani Morelli, Batu-Allah, Micromegas e Hélios.
Humberto de Campos, meu Patrono, o terceiro ocupante da Cadeira de número 20 na Academia Brasileira de Letras, eleito em 30 de outubro de 1919, na sucessão de Emílio de Menezes e recebido pelo Acadêmico Luís Murat, em 8 de maio de 1920. No mesmo ano, já acadêmico, foi eleito deputado federal pelo Maranhão. A Revolução de 1930 dissolveu o Congresso e ele perdeu o mandato. O presidente Getúlio Vargas, que era admirador do talento de Humberto de Campos, procurou minorar as dificuldades do autor de Poeira, dando-lhe os lugares de inspetor de ensino e de diretor da Casa Rui Barbosa.
Em 1933 publicou o livro que se tornou o mais célebre de suas obras, Memórias, crônica dos começos de sua vida. O seu Diário secreto, de publicação póstuma, provocou grande escândalo pela irreverência e malícia em relação aos contemporâneos. Autodidata, grande leitor, acumulou erudição que utilizava nas crônicas. Fez também crítica literária de natureza impressionista. Poeta neo-parnasiano, fez parte do grupo da fase de transição anterior a 1922. Poeira é um dos últimos livros da escola parnasiana no Brasil.
Como podemos ver, um homem com uma trajetória de vida ímpar. Tê-lo como patrono da cadeira na qual hoje tomo lugar é para mim uma grande honra e, ao mesmo tempo, me faz lembrar a minha própria trajetória de vida.
Acreana, nascida em Rio Branco, na Rua da Palha e criada no bairro do IPASE; família de muitos irmãos e irmãs; minha mãe Raimunda trabalhou toda sua vida na maternidade Bárbara Heliodora e também como costureira; meu pai, Emídio, era funcionário da União e exercia a profissão de carpinteiro; deixou-nos muito cedo. Eu, desde muito nova sonhava cantar nos programas de calouros na Rádio Difusora Acreana e apesar das dificuldades vividas na infância, fui atrás do meu sonho. Enfrentei diversos tipos de preconceitos, resisti a tempestades, venci obstáculos. Constitui-me mulher, esposa, mãe. Profissionalmente, radialista, repórter, apresentadora de telejornal, me consolidei no mundo da comunicação em um Acre distante do eixo Rio-São Paulo, onde a comunicação de massa já estava bastante avançada. Porém, aqui, a sociedade ainda era muito conservadora e machista; uma mulher trabalhar em rádio e em televisão não era vista com bons olhos.
Há um poema, bastante conhecido, do poeta Carlos Drummond de Andrade do qual eu sempre lembro quando penso nas dificuldades pelas quais passei ao longo da minha jornada de vida, o poema tem por título:
“No meio do caminho”.
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
(...)

Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
(...)
Tinha uma pedra

E ao lembrar esse poema, sempre estabeleço uma fala imaginária com o autor:
- Não meu caro Drummond, não era UMA pedra no meio do caminho! tinha muitas pedras, Poeta!
Mas, com paciência e argúcia, muitas vezes com as mãos e o coração sangrando fui removendo dia a dia cada pedra do caminho. Sem olhar para trás, sem usar as pedras para revidar as agressões, por vezes sofridas. Assim, vim pavimentando a estrada que me trouxe até aqui.  Hoje, vejo no sofrimento a matéria-prima de muitos poetas e escritores.
Meus primeiros versos ou poesias, eu mesma não sabia definir exatamente o que eram, mostrava para algumas pessoas próximas ou para quem eu tinha confiança. Essas pessoas, que nem eram críticas literárias, davam suas opiniões e, em geral, diziam que eu deveria publicar. Assim, meus primeiros escritos foram em uma linguagem coloquial, sem a lapidação literária cobrada aos poetas e escritores, já “tarimbados” eram expressões das minhas vivências, de sonhos, realizados ou não. De amores, vividos ou imaginados. Foi quando me atrevi a publicar o “Quase nua”. Uma maneira de jogar para fora, de expurgar as paixões que me fizeram sofrer ou que de algum modo tinham me machucado.  Foi uma espécie de catarse.
Assim como o patrono da cadeira que hoje venho ocupar, eu também era, e continuo sendo autodidata. Até a publicação de “Quase nua” o que eu sabia de poesia e de poetas era o que eu intuitivamente lia, minha convivência com poetas e artistas locais. O fato de ser locutora de rádio me deu o privilégio de sempre ser convidada para compor júris de festivais de música, prestigiar noites de autógrafos de escritores acreanos, compor conselhos de cultura, fazer teatro, participar de shows como o Boca de mulher entre tantos outros. Esse transitar no ambiente cultural acreano e nacional me deu os elementos necessários à minha constituição enquanto poeta e artista plural, que as pessoas dizem admirar.
Sobre essa admiração pública, é muito comum eu ser abordada na rua por pessoas que querem tirar uma foto comigo e falam que ouvem meu programa na rádio difusora. Então, nesse momento, lembro-me da menina que cantarolava no alto dos galhos das goiabeiras de minha infância, sonhando em ser artista e quase sempre me vem à mente uma composição do Ivan Lins e Vitor Martins, gravada pela Lucinha Lins em 1982 e que se chama espelho de camarim.
Diz, um pouco, assim:
Quem mais sabe de mim
É o espelho do meu camarim
Ele tem o estranho poder de me ver
De me conhecer, de me refletir, de me envolver
(...)
Isso porque as pessoas não sabem a vida real da cada artista, de cada poeta, de cada escritor.  Como citei antes, não sabem das pedras no caminho, imortalizadas por Drummond de Andrade.
Após a publicação de “Quase Nua” eu senti a necessidade de aperfeiçoar a minha escrita, ainda que os sentimentos sejam a matéria-prima do poeta, mas chega um momento que os conhecimentos técnicos se fazem necessários para uma escrita de qualidade, para uma poesia mais refinada e que atenda aos requisitos da academia.   
Foi assim que, cinquentenária, cruzei o portal da UNOPAR e fui cursar Letras Vernáculas. Dividindo o espaço estudantil com jovens que poderiam ser meus netos e netas e com essa ousadia, de voltar ao banco escolar, me reinventei e rejuvenesci. O conhecimento acadêmico me permitiu outras possibilidades de produção literária para além do instinto poético do primeiro livro.
A publicação do segundo livro “Devora-me”, trouxe uma Nilda Dantas mais poeta e mais madura; ainda que o tema abordado fosse o dos amores, dos sonhos, das vivências. Porém, foi um livro melhor elaborado. Os conhecimentos acadêmicos, o contato com outras literaturas me possibilitou fazer poesia sob uma nova perspectiva.
A terceira publicação “Saturitas”, saiu mais lapidada que as antecedentes. Os elementos que compõem as poesias estão mais sutis, a linguagem mais sofisticada, sem perder a essência que caracteriza a poeta que fui me tornando. A constatação do avanço literário que tive foi minha inclusão nos livros da Literatura Acreana, após participar em 2009 e 2011 do concurso Garibaldi Brasil, com publicação de um poema e dois contos, a publicação de poemas e crônicas em três Antologias e ter me tornado “frasista”, quando eu nem sabia existir essa categoria de poeta. Enfim, o que quero dizer aqui, em poucas palavras, é o quanto foi importante buscar a formação acadêmica e aprimorar a prática da escrita.
          Para finalizar, gostaria de agradecer as pessoas que contribuíram com incentivos, críticas, ajuda nas publicações. Gratidão aos meus amigos e em especial a confreira Margarete Prado, o poeta e professor Marcos Jorge Dias o, advogado e músico  João Veras , o advogado e professor Francisco Generoso, os confrades José do Carmo e Adalberto Queiróz, o TI Antônio José Macedo, meus filhos Michel e Lídia e meu genro Paulo Sampaio.
Enfim, sozinha eu não teria chegado até aqui. Contudo, se eu for nomeá-las, poderei incorrer de não citar alguém que possa ter sido fundamental; de modo que agradeço aos senhores e senhoras, amigos, familiares, a todos, indistintamente. Há, porém, alguém que não posso deixar de citar. Aquele me antecedeu nesta cadeira que hoje tomo posse. O jornalista, escritor e poeta Naylor George. Nossa convivência nos espaços de cultura sempre foi pautada pelo respeito, admiração mútua e incentivo, por parte dele, em minhas atividades artísticas. Ocupar a cadeira que foi dele, nesta Academia  Acreana de Letras, ao mesmo tempo que me deixa honrada, me entristece por não tê-lo aqui conosco. Na impossibilidade de poder compartilhar com ele este momento, finalizo com a passagem de “Outra parte do nada”, obra consagrada de Naylor George Pires, que se constitui numa aquarela de fragmentos da realidade recortada e justaposta dialeticamente: “O nada é tudo”.
A partir desse “olhar” se compreende que ninguém precisa ser nada para ser alguma coisa. E ser acadêmica, sucessora de Naylor George é um grande prêmio, é tudo que o poeta gosta. Prometo amar a Academia o quanto amava Naylor. Ele escrevia no Jornal páginas inteiras sobre a Academia. Eu farei na Rádio Difusora Acreana programas inteiros para a Academia Acreana de Letras, seus poetas, escritores, professores, cronistas, pesquisadores, contistas, músicos, historiadores, juristas, enfim, essa plêiade que faz a Academia Acreana de Letras.
Muito obrigada!



[1] Campanha civilista foi uma campanha eleitoral à presidência brasileira, que ocorreu em 1910, durante a República Velha. Foi o nome dado à campanha de Rui Barbosa à presidência, tendo Albuquerque Lins, presidente do estado de São Paulo, como candidato a vice-presidente. O nome de civilista deu-se por defender a candidatura de um civil, em oposição à candidatura de um militar, o Marechal Hermes da Fonseca, candidato apoiado pelo então presidente da república, Nilo Peçanha.




[1] Campanha civilista foi uma campanha eleitoral à presidência brasileira, que ocorreu em 1910, durante a República Velha. Foi o nome dado à campanha de Rui Barbosa à presidência, tendo Albuquerque Lins, presidente do estado de São Paulo, como candidato a vice-presidente. O nome de civilista deu-se por defender a candidatura de um civil, em oposição à candidatura de um militar, o Marechal Hermes da Fonseca, candidato apoiado pelo então presidente da república, Nilo Peçanha.

30/07/2020

DISCURSO DE POSSE DA ACADÊMICA FÁTIMA CORDEIRO


Discurso de Posse
Acadêmica Fátima Cordeiro – Cadeira 20

Senhora Presidente Prof.ª Dr.ª Luísa Galvão Lessa Karlberg
Senhores Acadêmicos da AAL
Senhoras e Senhores, amigos, familiares.

Inicialmente, manifesto as minhas condolências às famílias que perderam seus entes queridos diante nesta pandemia (covid 19), que assola o nosso planeta.  Em pleno sec. XXI, novas formas de convivência social, com a Natureza e consigo mesmo, deverão ser repensadas.
Sinto-me, nesta memorável noite, tal como a personagem de Felicidade Clandestina de Clarice Lispector, que de posse de algo tão especial, no caso dela, um livro que estava além de suas possibilidades, entretanto, após muitas idas e vindas o conseguiu, finalmente! E, poderia ficar com ele pelo tempo que quisesse... No meu caso, após saber que pertenceria a esta conceituada Academia Acreana de Letras, ainda assim, finjo que não sei, só para depois ter o susto de saber que sei. Quando soube da cadeira nº 20, fingia esquecer... só para depois lembrar que nela tomei assento.  Caminhar ao lado de Doutores, Mestres, Grandes intelectuais da Literatura e Cultura Acreana? Não, não seria para mim este o enredo. É um momento inusitado.
Mas, aqui estou. Com o coração cheio de júbilo, sinto-me lisonjeada, após uma democrática eleição marcada pela lisura e a transparência, que agradeço ao Presidente da Comissão Eleitoral poeta Renã Leite Pontes.
Mas, como expressar momentos tão especiais? Destaco o livro poético dos Salmos, Salmos 30:11-12 'Mudaste o meu pranto em dança, a minha veste de lamento em veste de alegria, para que o meu coração cante louvores a ti e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te darei graças para sempre" [...]
A poetisa Cecilia Meireles dizia:

Ai, palavras, ai, palavras,
Que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
Sois de vento, ides no vento,
No vento que não retorna [...]
Não seria possível neste rito de posse, neste discurso, deixar de agradecer e de reconhecer alguns nobres imortais:
Inicialmente, a coragem e a alegria da escritora, advogada, professora, mãe e filha dedicada, DEISE BRANDÃO TORRES LEAL - Cadeira de nº 12 - que usando de palavras tão singelas e altruístas se manifestou em apresentar-me a concorrer ao Sodalício da Academia Acreana de Letras – AAL, meus sinceros agradecimentos pela sua paciência, pela humildade de compartilhar conhecimentos, pela sua irreverência de ser poeta, nos contagiando com o seu estilo de expressar a alegria, a vida, as flores, os sentimentos, o amor pelas artes e pela poesia.
A todos os confrades e confreiras, que depositaram confiança na minha candidatura desejando votos de vitória! Como também, a consideração ao responder-me aos e-mails. Muito Obrigada!
MARGARETE EDUL PRADO, pelas incansáveis vezes que me deu ânimo em acreditar que publicaria um livro, ora revisando, ora fazendo convites para participar em Antologias e, na sua turma de Mestrado na UFAC, para contação de histórias.
A MAZE OLIVER, que muito me incentivou a acreditar que, um dia, eu escreveria um livro! Já estou a caminho do 4º livro...
JOSÉ DO CARMO CARILE concedeu-me a honra de recitar no lançamento de seu livro, em 2015, como também, CECILIA UGALDE que, de forma afetuosa, me fez este honroso convite.
CLAUDEMIR MESQUITA, no lançamento do meu 1º livro: SEMENTES DE MOSTARDA, em 2016, fala: ‘Vem pra Academia’’!          
MOISÉS DINIZ, em 2019, provoca-me: -Você já concorreu alguma vez para a Academia Acreana de Letras?
DALMIR FEREREIRA, GREGÓRIO FILHO, ambos, compartilham em comum: o amor pela Cultura, incentivadores, seja no contar Histórias ou na precisão das ferramentas para entalhar a arte das palavras, através das formas, texturas, cor, ou simplesmente, a criatividade na revisão do que pode ser melhorado.
A SLA –SOCIEDADE LITERÁRIA ACREANA, em nome de Maria Xavier, da qual também faço parte, espaço que permite a igualdade de oportunidades para quem deseja colaborar para o engrandecimento da leitura entre as crianças, jovens e adultos.  
Mas, é preciso compreender que este exato momento é construído pelas mãos do tempo.  Vinicius de Moraes nos convida “a viver cada segundo como nunca mais” (...)
A nós, mulheres, muito nos foi negado ou arrancado no contexto da História. Quantas cientistas, filósofas, matemáticas, tiveram que lutar para fazer jus a sua sede pelo conhecimento. A corajosa Sophie Germain que estudava à luz de velas, escondida, embaixo dos cobertores os proibidos livros de Matemática.
Quantas outras foram queimadas vivas na fogueira da ignorância. Condenadas como “feiticeiras” apenas por seus experimentos na pesquisa de ervas para a cura de muitos males.   
Como, também, não está tão distante o nosso direito ao voto. Visto que até o início do século XX, o voto, na quase totalidade dos países, era um direito exclusivo dos homens.
Aqui, gostaria de destacar uma Mulher de grande valor e além de seu tempo! PROF.ª DR.ª LUÍSA GALVÃO LESSA KARLBERG- Nascida no Igarapé Humaitá, Seringal São Luís – situado às cabeceiras do Rio Muru, distante de Tarauacá oito dias de barco –   para ela “a Academia deve espelhar a alma, retratar o espírito, expressar a gênese e as potencialidades de um povo”; seus membros, chamados “imortais”, traduzem o lastro cultural do povo acreano.    
Desta forma, fico a imaginar, quantas renúncias pessoais, preconceitos, ou até mesmo incredulidades oriundas tanto dos homens quanto das próprias mulheres, ela teve que enfrentar para ser a 1ª MULHER a ocupar a presidência desta importante Entidade Cultural, prezando pela ética, respeito aos seus pares,  espírito democrático, zelo pela Literatura Acreana e, acima de tudo amiga das Letras, da Literatura, da Cultura.
Senhores, senhoras,
Sou uma mulher simples, filha do êxodo rural da década de 70, amontanhando milhares de pessoas nas periferias de Rio Branco, sem condições dignas.  Filha de Antônia Valdira Mendes Cordeiro, uma lavadeira de roupas e que possuía muitos canteiros de belíssimas alfaces, pepinos e couves. Meu pai, José Arruda Cordeiro, um guarda que tinha orgulho de sua farda da antiga A MERCHED LTDA.
Sim, conheço a realidade e a carência dos que vivem na periferia, expostos as mais diversas formas de violência. Por muitos anos, caminhei por trapiches para chegar até a escola, nosso quintal alagava e, quando isso acontecia, eu e meus irmãos pegávamos uma grande bacia de alumínio de nossa mãe e fazíamos um grande barco.Sim, sei o que é olhar sua mãe dividir um pão entre cinco filhos e ela dizer que não está com fome!
Mas, minha mãe sempre me deu um conselho: - estude! Pois, é a única herança que levamos. Eu não tive esta oportunidade, mas você tem! Nem é preciso dizer que a minha saia escolar de tergal azul marinho de pregas era, religiosamente, lavada na goma e passada a ferro de carvão, kichute engraxado e meias brancas até a altura dos joelhos.
Meu pai, outro conselho: - sempre pague o mal com um bem! Mas, a vida não traz manual de instruções para não errarmos no caminho. Assim, vamos construindo os nossos caminhos, ora sofridos, ora alegres, ora temerosos...Fazemos as nossas escolhas, embora, muitas vezes, as nossas escolhas não nos escolhem.
A leitura faz parte da minha vida desde criança através das cartas de minha avó Jandira Ferreira Lima, moradora do município de Manuel Urbano. Naquela época, então, Vila Castelo.  Todos os meses, as cartas chegavam, devidamente, acompanhadas por um grande embrulho de papel, que finalizavam com um forte laço de barbante. Minha avó era caprichosa! Nossa alegria de adivinhar o que teria desta vez naquele embrulho. Mas, tinha algo que nunca faltava: o colorau. Ela dizia ter sido feito no seu velho pilão.
Posso dizer que os professores desempenham um grande papel social na vidas das crianças e jovens, pois, muito do que eu sou devo as falas de incentivo de alguns de meus professores Prof.ª Elza Viana ao olhar meus desenhos da época do antigo ginásio falava –Tu ainda vai ser professora de Arte (dos 30 anos na Educação, 16 foram dedicados a esta disciplina); prof.ª Eunice – Um dia vou assistir a uma exposição tua! E, foi mesmo!
Mas, o meu primeiro texto foi somente depois que Ismália enlouqueceu. Explico: a Prof.ª Raquel Santos, na época do magistério, nos apresentou a poesia Ismália, de Alphonsus de Guimarães, daí nos pediu uma tarefa. Chega o dia, eu não havia feito porque minha família não tinha condições para comprar o livro! minhas colegas, mais que depressa, me emprestaram um livro, dai, às pressas me deu um’’ insight’’ - já sei! Vou escrever Ismália antes da loucura, porque ela enlouqueceu.
Eu ficava comovida lendo a situação vivida pela pobre da Ismália... E, esse foi o meu primeiro excelente na disciplina de Literatura. Guardei por anos aquele trabalho.
Muitas experiência interessantes pude vivenciar seja no teatro, cinema ou artes visuais, como, também, nas comunidades de base com as irmãs Missionárias de Jesus Crucificado, Pe.Emanuel e Pe. Maximo Lombardi.
Dos 30 anos dedicados a Educação na escola pública, pude perceber a importância da leitura lúdica na vida do leitor, seja criança, jovem ou adulto. Assim, também, como professora de Arte, Ensino Religioso e Filosofia, motivar os jovens a serem protagonistas do conhecimento, usando as diversas linguagens artísticas como forma de expressão. A dança, o teatro, a música, as artes visuais, são formas de dialogar com a realidade, manifestando a imensa criatividade e a capacidade intelectual de nossos jovens tão carentes de oportunidades. Mas, também, presenciei a forma pejorativa de tratamento desta área do conhecimento quanto às demais. Arte como apenas passatempo, ou para entretenimento. Não! Não é isso. Arte é ciência, arte é vida, arte é conhecimento. Arte é Cultura!   O espírito humano cria, continuamente, sua consciência de existir na busca para o sentido da vida. Não existe Arte sem conhecimento. Existe, sim, a necessidade de novos paradigmas quanto aos novos conceitos neste século XXI, diante das transformações políticas, sociais e culturais, como também da Neurociência.  A faculdade imaginativa está na raiz de qualquer processo de conhecimento, seja científico, artístico ou técnico.
Michelangelo foi um pintor, escultor, poeta e arquiteto italiano uma de suas frases sobre escultura diz: “Vi um anjo no bloco de mármore e simplesmente fui esculpindo até libertá-lo.'’
Ao PATRONO da cadeira 20 - Emílio Augusto Goeldi, podemos destacar que EMÍLIO AUGUSTO GOELDI - Cientista Naturalista nascido na Suíça, cujos estudos se centraram na fauna brasileira atraíram a atenção de todo o mundo. Formou-se em zoologia no país natal, onde defendeu tese sobre osteologia e anatomia dos peixes.  Ele foi convidado pelo governador do Estado do Pará, Lauro Sodré, para reorganizar o Museu de Pará de História Natural e Etnografia, em Belém, que tinha sido fundada em 1866 por Domingos Soares Ferreira Penna.  Foi contratado (1891) para reorganizar o Museu Paraense, em Belém do Pará, e novamente de mudança (1894), passou a dirigir o Museu Paraense (1895). O museu passou por uma reforma total, onde foram criadas diversas seções científicas, sendo este patrimônio considerado um dos maiores parques zoobotânicos do mundo.  Contratou especialistas que deram projeção científica internacional ao museu. Em 1902, o “Museu Paraense de História Natural e Etnografia” foi renomeado em sua homenagem. Ele agora é chamado o Museu Paraense Emílio Goeldi. Em 1905, Emilio Goeldi renunciou ao seu cargo, devido a problemas de saúde, e voltou para a Suíça, onde morreu em Berna, em 1917, com a idade de apenas 58 anos.
Aproveito-me de alguns trechos da pesquisa biográfica cedida pela respeitável confreira historiadora Dr.ª MARIA JOSÉ BEZERRA, pesquisadora de assuntos ligados à inclusão social. A Pesquisa intitulada: RECONHECIMENTO E VALORIZAÇÃO DA CULTURA ACREANA, CELEIRO DE PRÁTICAS EDUCATIVAS E SOCIAIS, para homenagear a minha antecessora, a pedagoga Glória Oliveira, ressaltando que:  
MARIA DA GLÓRIA DE QUEIROZ OLIVEIRA, nasceu em 12 de fevereiro de 1953, na cidade de Cruzeiro do Sul. Filha de Pedro Gomes de Oliveira e Antônia de Queiroz Oliveira. É membro da Academia Acreana de Letras, desde 1987, na cadeira de nº 20, cujo Patrono e Membro Fundador são, respectivamente, Emílio Göeldi e Roberval Cardoso. E, numa fase mais recente foi elevada à categoria de Membro Emérita. Iniciou seus estudos no Instituto Santa Terezinha, em Cruzeiro do Sul.
Glória Oliveira é licenciada em Ciências Físicas e Biológicas, pela Universidade Federal de Pernambuco UFPE (1975); licenciada em Pedagogia, pela UFAC (1977), sendo, ainda, pós-graduada, em termos de especialização em: administração Escolar – Universidade Federal de Santa Maria – RS (1978); Metodologia do Ensino Superior – UFAC (1982); e Métodos Quantitativos em Educação, através do Convênio UFAC – UFC (1983).
 Iniciou suas experiências em sala de aula, no ano de 1968, no “Colégio São José”, em Cruzeiro do Sul, permanecendo nesta unidade escolar até o ano de 1970.  Em 1975 prestou concurso público na UFAC, para o provimento de cargo de agente administrativo, porém na prática exerceu atividades relativas à Secretaria e Assessora.
No ano de 1978 ingressa no quadro docente do Curso de Pedagogia, da Universidade Federal do Acre, permanecendo nesta função até 1996, quando se aposentou. Se notabilizou pela seriedade e competência no cumprimento do que se propõe a realizar.
Exerceu o cargo de Coordenadora Pedagógica do IESACRE, (2000 – 2006), faculdade privada localizada em Rio Branco, que, juntamente com a Professora Clara Bader e Maria José Bezerra, foi uma das fundadoras. Porém, esta instituição foi vendida e passou a integrar a UNINORTE.
Os trabalhos desenvolvidos por Glória Oliveira, consistiram em Projetos de criação de cursos, materiais alusivos à legislação Superior de Ensino e ao Projeto Pedagógico para UFAC, “Sapupema, a comunicação cabocla com o saber amazônico”, durante a gestão do Reitor Sansão Ribeiro, além de artigos publicados nos jornais locais e dos trabalhos de conclusão dos cursos realizados (Graduação/especialização).
Todavia, no exercício docência, a peculiaridade de Glória Oliveira, consistia em repensar o ensino, principalmente, de 1ª a 4ª série, no que se refere aos índices de repetência e evasão escolar.
Neste sentido, em parceria com, a também, pedagoga, Clara Bader, elaborou e publicou os resultados de uma pesquisa desenvolvida por elas, no livro “Educação Ambiental para alfabetizar crianças repetentes de 1ª a 4ª série”, que se constituiu uma inovação no contexto da época.
Hoje, Glória Oliveira, além de se manter atualizada, continua apaixonada pela educação, no entendimento de que esta é fundamental para re-humanizar a humanidade.
Senhores, senhoras!
Parabenizo aos demais confrades e confreiras que hoje ingressam neste Sodalício.
Agradeço aos amigos, aos leitores e familiares pelo incentivo. Aos colegas de trabalho da escola Estadual Samuel Barreira em nome da diretora Adriana Lima.
Aos meus filhos, Jerllyano, Gelciano e Luana Cordeiro Oliveira pela paciência.
À pessoa que é amigo, confidente, parceiro, e, que todos os dias insiste em me fazer acreditar que a alma gêmea existe e nunca é tarde para recomeçar uma nova história de amor, Dorielsom Lima.
Para concluir, minha saudação ao Sodalício desta Augusta Casa que hoje adentro.
Muito Obrigada!