QUANDO
SE FALA EM GÊNERO DAS PALAVRAS: CASO DE “TODOS, TODAS E TODES”
Luísa
Galvão Lessa Karlberg
Presidente da Academia Acreana de Letras
Quando
se fala em gênero das palavras, este termo nos remete aos conhecimentos dos
quais dispomos acerca dos fatos linguísticos. Gênero, por sua vez, representa
as flexões que se atribuem às classes de palavras, tais como os substantivos,
os adjetivos, entre outros, quanto à classificação em feminino ou masculino.
Enfim, flexões que permitem que tais classes permutem, variem.
Assim
sendo, afirma-se que o gênero diz respeito à variação da forma masculina e da
feminina, inerente a alguns vocábulos. Ele, assim como tantos outros elementos
que perfazem a língua como um todo, torna-se passível de alguns questionamentos
por parte de alguns usuários – fato esse que deu origem à finalidade discursiva
do presente artigo, para quem usa os pronomes indefinidos “Todos e Todas”, como
forma de tratamento. Absurdo maior é o caso de “TODES”. Ora, a língua
portuguesa possui dez classes de palavras e, destas “todos e todas” são
pronomes indefinidos. Os pronomes de tratamento são:
você
(v.)
senhor
(Sr.)
senhora
(Sr.ª)
senhorita
(Srta.)
Vossa
Senhoria (V. S.ª)
Vossa
Excelência (V. Ex.ª)
Vossa
Mercê (V.M.cê)
Vossa
Eminência (V. Em.ª)
Vossa
Magnificência (V. Mag.ª)
Vossa
Alteza (V. A.)
Vossa
Majestade (V. M.)
Vossa
Majestade Imperial (V. M. I.)
Vossa
Santidade (V. S.)
Vossa
Paternidade (V.P)
Vossa
Reverendíssima (V. Rev.mª)
Vossa
Onipotência (Sem abreviatura).
No
caso específico de “Todes”, há para observar o seguinte:
PROJETO
DE LEI N.º 5.198, DE 2020 (Do Sr. Junio Amaral) Veda expressamente a
instituições de ensino e bancas examinadoras de seleções e concursos públicos a
utilização, em currículos escolares e editais, de novas formas de flexão de
gênero e de número das palavras da língua portuguesa, em contrariedade às
regras gramaticais consolidadas.
O
CONGRESSO NACIONAL decreta:
Art.
1º É vedado a todas as instituições de ensino, no Brasil, independentemente do
nível de atuação e da natureza pública ou privada, bem como a bancas
examinadoras de seleções e concursos públicos, inovar, em seus currículos
escolares e em editais, novas formas de flexão de gênero e de número das
palavras da língua portuguesa, em contrariedade às regras gramaticais
consolidadas e nacionalmente ensinadas.
Parágrafo
único. Nos ambientes formais de ensino e educação, é vedado o emprego de
linguagem que, corrompendo as regras gramaticais, pretendam se referir a gênero
neutro, inexistente na língua portuguesa.
Art.
2º Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação.
Portanto,
na língua de uma nação nada se acresce pelo uso da força ou do enviesamento
político-ideológico. A língua e suas regras gramaticais amadureceram ao longo
de séculos e continuam a evoluir, mas de modo lento e extensivamente refletido.
Qualquer arroubo de opinião nesta seara não merece qualquer acolhida mais
séria, sob pena de se corromper o liame comunicacional mais elementar de um
povo: sua língua, o que faria jogar por terra todos os seus valores, identidade
e história comum.
As
línguas neolatinas não adotaram o neutro latino, caso contrário deveríamos
dizer dentistos e dentistas, oftalmologisto e oftalmologista, congressisto e
congressista, acordeonisto e acordeonista, acupunturisto e acupunturista,
ambientalisto e ambientalista, anestesisto e anestesita, etc. Logo se percebe
que esse “TODES’ é uma invenção absurda que fere as regras da gramática da
língua portuguesa, construída ao longo dos séculos, desde 1536, com Fernão de
Oliveira, nosso primeiro gramático. Quando se registra uma criança ela é menino
ou menina. São os gêneros que temos em português. Logo as pessoas e não “pessoes”
são do gênero masculino ou feminino. Não se mexe na estrutura da língua.
A
Academia Acreana de Letras é guardiã do idioma pátrio e das regras de bem
falar. Portanto vamos dizer: “Boa noite aos Senhores e Senhoras” e não a
“Todos, Todas e Todes”, aberração do idioma que repudiamos.
LIÇÕES
DE GRAMÁTICA
“Como
cumprimentar, à noite, uma platéia?”
-
Boa noite Senhoras e Senhores!
“A
princípio” / “em princípio”
-
A palavra “princípio” pode se referir tanto a ideologias e valores como ao
começo de alguma coisa. Então, a chave para a diferença entre essas duas
expressões está justamente aí: com “a” ela tem sentido de início, e com “em” de
valor ou essência. Observe:
• A princípio, pensava-se que a Terra
era o centro do universo.
• A poesia é, em princípio, a arte de
escrever em versos.
Há muitas e muitas eras, quando os primeiros homens começaram a habitar a terra, deuses e seres poderosos viviam em harmonia com a humanidade.
Enilson Amorim de Lima nasceu em Rio Branco-Acre, filho de migrantes nordestinos viveu a maior parte de sua infância produzindo histórias em quadrinhos. Com o passar dos anos revelou-se um ótimo pintor e mais tarde, ilustrador. Em 1994, aos 20 anos, foi convidado pela direção do jornal O Rio Branco para desenhar caricaturas. Ganhou vários prêmios como caricaturista, dentre eles o prêmio de jornalismo José Chalub Leite. É membro da Academia Acreana de Letras - AAL sendo titular da cadeira de número 07. Enilson já expôs seus quadros em diversos lugares do país. Agora, nos presenteia com esta linda obra voltada exclusivamente para crianças e adolescentes.
Que os leitores grandes (adultos) leiam com os leitores pequenos (crianças)
Maria de Fátima Mendes Cordeiro é natural de Rio Branco Ac. Bacharel em Teologia, nível superior incompleto em Artes Visuais. Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Federal do Acre. Possui três livros publicados: Sementes de Mostarda, A Louca do Orfanato, A Menina Fez Carinho na Lua (e-book na plataforma EDUFAC). Pós graduada em Pedagogia Social e Elaboração de Projetos. É membro da Sociedade Literária Acreana –SLA e Academia Acreana de Letras-AAL.
Quando
Auguste Rodin começou a deixar sobras de bronze nas suas esculturas, os
repuxados no corpo causaram espanto. Era a beleza do inacabamento chegando a
nossos olhos e nos dizendo que a perfeição não é para este mundo. Somos
inacabados, temos arestas, sobras, faltas. E então Rodin começou a torcer esses
seres quase reais de tão assimétricos e nos deu as famosas “posições
impossíveis”, como a d’O Pensador, apoiado pelo cotovelo de um lado na
perna oposta do outro. Muitos não notam, mas está lá. Como estão nossas impossibilidades,
tornadas possíveis na experiência real.
Evoco
Rodin para refletir sobre a poesia de Renã Corrêa Pontes porque, convidado a
antologiá-la, deparei-me com aquele estado em que percebemos uma mutação na
linguagem, a caminho de definir-se em sentido novo no arranjo formal com o
temático. Optei, assim, por combinar o critério estético com o histórico, em
função de supostos núcleos informativos; portanto, esta é uma antologia nem
sempre do que julgo o melhor do autor, mas de suas modulações de linguagem
desde a estreia até o presente — onde está, sem dúvida, o seu melhor no sentido
estético, apontando para outro ainda, por desenvolver.
Desse
modo, não quis esconder vezos do poeta, ou restos de moldes que deixou à
mostra, falseando sua constituição atual. Também não quis amputar suas nuanças,
nem todas já “redondas” na poesia que produz agora, mas latentes ou entrevistas
na produção anterior. E se retorci sua escrita, fazendo-a ajustar-se a três
pontos cardeais — pedra, terra e buquê –, sei bem que não escreve
assim naturalmente, mas parece que escreve, como aquele Pensador
de bronze parece estar em uma posição natural.
Os núcleos informativos foram
retirados do poema que fiz de pórtico, e este é uma ótima peça artística, a
servir de bússola. Corrêa Pontes é o poeta da pedra não no sentido da
economia emocional, sentido de poesia “mineral” posto em circulação pelo grande
João Cabral de Melo Neto, mas no sentido de uma poesia mais áspera na própria
emoção: poesia da perda, poesia dos momentos duros da experiência humana. É sua
lira mais dolorida, que avança na memória e nos desfeitos do amor. Mas este é
também o poeta da terra, no sentido que o faz atento às coisas de seu
estado, o Acre, tão desconhecido do resto do Brasil. Então Renã oscila entre a
crítica e o panegírico; no largo interstício, é de notar a sábia apropriação de
termos regionais, de temas remissivos às etnias indígenas, e sobretudo o
pertencimento que soa muito verdadeiro e poderá nos dar, como parecem apontar
alguns momentos, um poeta narrativo de fôlego. Por fim, temos ainda o poeta do buquê,
poeta de lira amorosa mais pulsante, na boa tradição luso-brasileira dos
falares de amor.
As seções são intercambiáveis: o
lírico da pedra também é o do buquê e os dois estão no da terra,
onde sopra às vezes um vento indigenista. São divisões para
amostragem, nas quais uma característica avulta, mas não exclui as demais, nem
outras que o leitor possa descobrir. Este notará que a linguagem tantas vezes
procura se enquadrar em um saber-fazer métrico e nos dar, por exemplo, um
soneto “bem feito”; mas a excelência formal existe até mais no aparente
descuido, pois atende a uma necessidade vital da expressão, necessidade que
impõe sua assimetria. Há supostos “descuidos” até em Camões; os parnasianos,
mais artesãos que artistas, fizeram seu catálogo.
A linguagem de um poeta vai-se
modelando com a vida e com a cultura. Não digo com isso que, na posição de
antologista, concedo maior indulgência ao meu antologiado que de regra aos
demais, quando me coloco na posição de crítico. Apenas, neste momento da
trajetória de Renã Corrêa Pontes, entendi ser especialmente produtivo, para ele
e talvez para muitos que aportem nestas páginas, dar com uma antologia um
pequeno panorama de certo desenvolvimento poético. Um desenvolvimento de
resistente, eu diria, isolado como está do meio em um dos estados mais jovens
do país.
Não é fácil fugir ao provincianismo.
O clichê mais corrente em publicações do Nordeste, por exemplo, tornou-se dizer
que tal escritor fala de sua terra “sem ser regionalista”. Cita-se ao cansaço a
frase atribuída a Tolstói: “Canta tua aldeia e tu cantarás o mundo”. E isso se
torna desculpa para se cantar infinitamente a aldeia, o rio que corre nela, a
moça que se banha nesse rio etc. É o salvo-conduto do provinciano tomado à
crítica literária dos anos 1930 e seguintes, quando o romance brasileiro
revigorou o regionalismo e foi dar na prosa inventiva de Guimarães Rosa. Alguém
leu, ou ouviu a palavra de ordem — não ser regionalista — e saiu advertido,
passando a senha para adiante.
Será vantagem ou desvantagem, nesse
ponto, escrever no Acre e às vezes sobre ele? É um lugar de recém-chegados,
onde a memória da imigração, levada muitas vezes no propósito de integrá-lo ao
país, ainda está muito forte. Ser regionalista, nesse contexto, é ser
memorialista — dos pais ou avós, nordestinos quase sempre — ou indigenista, mas
não de gabinete: colhendo nas etnias locais o substrato humano da literatura.
Porém,
memorialismo e indigenismo estão sempre à beira de falsificações românticas. É
muito fácil ceder à tendência autocomplacente de edulcorar nossa linhagem
familiar ou simplesmente repetir o idealismo antiquado do bom selvagem,
sobretudo hoje, quando o discurso ambientalista anda em voga.
Aqui não há, propriamente, o risco
do regionalismo, senão o daquele feito por empréstimo. Penso que até no
Amazonas ou no Pará, com seus ciclos econômicos extrativistas, com sua
aristocracia de latifundiários, sua arquitetura de espalhafatoso neoclássico, a
comida e os ritmos para onde convergiram todos os temperos, penso que até ali,
no Mercado do Ver-o-peso ou no Theatro Amazonas, o regionalismo seja mais
possível, mas não no Acre, um estado anexado após disputa militar e
diplomática, fronteira do país, onde há muito por fazer – por “regionalizar”
ainda. E é bem isso o que sinto na produção deste poeta, filho de imigrante
potiguar: o esforço de apropriação equatorial convivendo com a memória familiar
semi-árida. Uma região superposta a outra, que tem de despojar, assimilar pelos
usos e pela linguagem a grande floresta onde alguém, ao voltar do trabalho na
construção da estrada, sonha uma paisagem de umbuzeiro, mandacaru, carcarás e
lagartos. Que esse homem — o pai do autor — tenha se convertido, já na sua
primeira descendência, em linguagem poética, é algo notável (veja-se o poema
genealógico Morte e vida seringueira).
Não me refiro apenas aos momentos
expressamente dedicados ao pai, mas ao ciclo de usos, costumes, adequação ao
clima, à geografia — refiro-me ao imaginário. Essa amálgama ainda está se
processando em Renã Corrêa, e deve estar igualmente assim em outros de sua
geração e nos mais jovens. O tempo da Internet encurtou distâncias e decretou o
fim dos isolamentos totais. Hoje é possível isolar-se em grandes metrópoles,
bastando se “desconectar” — a palavra já virou sinônimo de introspecção. De
modo oposto, é possível estar na fronteira e “antenado” com todo o resto do
país ou do mundo — e agora uso outra palavra do jargão técnico, que talvez
denuncie minha própria obsolescência.
Passando desse plano maior, de
justaposição cultural, para o microcosmo das relações pessoais, observo como
são pungentes os momentos de memória familiar no autor. Os mais expressivos,
para mim, não são os do pai, senão os de seu irmão suicida. Há muita coragem
nesse gesto. A poesia exige que não lhe façam de máscara. Sempre acena com a
possibilidade do subterfúgio, cabendo ao poeta negar passagem e entregar-se. Eu
vejo que Renã se entrega, aqui com mais felicidade expressiva, ali com menor,
mas sua poesia lateja de vida — é de rosto aberto que o homem se coloca em
verso.
Outro ponto delicado onde o poeta se
coloca às vezes é o da crítica social e política. Facilmente se faz má poesia a
partir daí. As fórmulas estão gastas. As indignações em verso não impressionam
mais ninguém. Bem nisso observo, como no poema Pesadumbre, que Renã cria
ótimos arranjos de forma e conteúdo. Este pequeno poema é intitulado em
espanhol e fala de certo ladrão que persegue o sujeito lírico em sonhos. Diz
pouco, sugere muito: tráfico de drogas, contrabandos, descaminhos, subornos,
chantagens de fronteira — a fronteira geográfica, a da linguagem e a da
consciência, da vigília para o sono.
Outro
momento de avanço na crítica social, bem realizado pelo que demonstra do
temperamento poético do autor e suas opções de linguagem, é este soneto:
Este
poema é pouco e muito: é um semitom de dor humilde, com boas escolhas formais,
sem exageros, como a rima de “nipos” e “tipos”, ou o “lembro direitinho” — que
dá uma coloração de conversa de alpendre, algo bandeiriano, ao escrito. Não há
panfleto, nem demagogia, nem pretensão: é a perplexidade de um mundo onde nem
todos cabem mais. De igual modo, a poesia do autor, que nem acena para a
ideologia, nem para senhas estilísticas, nem para coisa alguma. Poesia pura e
simples.
A
vida por vezes surpreende assim. Aquele mesmo Auguste Rodin que se empenhava em
formas inacabadas certa feita esperou a hora de chegar a modelo de sua Eva,
parte da encomenda da grande Porta do Inferno, e Anna Abruzzezzi, a
moça, não apareceu, como nos dias seguintes. Rodin impacientava-se: precisava
aparar qualquer coisa no baixo ventre, pois lhe parecera irregular, de uma
irregularidade impensada. Foi ter com um amigo pintor, que sabia amante de
Anna: este lhe contou que soubera, por um bilhete, da fuga de Paris da modelo,
ao se dar conta de que estava grávida (talvez dele, talvez de outro homem
casado).
Rodin
então compreendeu que a sua dificuldade em fixar a forma do baixo-ventre era
devida à própria gestação — e assim deixou sua Eva, com as formas imprecisas,
móveis, da vida nova que se encaminhava. Recebeu como um presente e um encontro
com sua concepção de arte. Não retocou, não aplainou, não poliu. É pensando nesse
gesto do grande mestre escultor que ora lhes entrego a poesia de uma poesia em
expansão.
Por Olinda Batista Assmar
“A outra face da colheita... contos e recontos” são narrativas episódicas cheias
de vitalidade e encanto pela urdidura das tramas e pela mistura do real, irreal,
racional e emocional. A autora exibe ao leitor todo o seu processo criativo
quando dá nome aos seus personagens mostrando-os por fora e por dentro na
dinâmica da narrativa e, ao mesmo tempo, deixando-os livre para exporem sua
essência no desenrolar da história. Com essa liberdade muitos surpreendem ao
leitor com suas atitudes, muitas vezes incomuns e chocantes.
Alguns contos necessitam não apenas de uma leitura
simples e passageira para sua compreensão, mas de uma reflexão mais demorada e
profunda, pois, no geral, não são narrativas lineares, mas complexas. Há neles recursos
estruturais e narrativos incomuns na sua organização, quando não são antecipações
iniciais, são indefinições no final da história ou da trama, ou finais abruptos,
cujo corte, muitas vezes, deixa atônito o leitor. Além desses recursos
artísticos muito bem explorados, a autora também utiliza na elaboração das
histórias elementos mágicos e fantásticos inteiramente integrados à narrativa,
demonstrando total conhecimento sobre seu emprego e efeito que causa no leitor.
Tanto que o esquema da narração, na maioria desses contos
não obedece ao padrão clássico, mas inova na sua organização, invertendo a
ordem normal, resultando com isso um efeito narrativo e discursivo mais
surpreendente e ambíguo que potencializa a ficção como objeto artístico, capaz
de despertar no leitor as mais diferentes reações e emoções. Com esses arranjos
narrativos e linguísticos, a autora propõe um modo peculiar de narrar, próximo
ao ideário modernista e pós-modernista que rompe com algumas amarras do passado
e vai impondo o seu novo modo de conceber a obra ficcional ou artística. Este
fazer já fora iniciado por Machado de Assis, no século XIX, conhecido da
autora, em “Memórias póstumas de Brás
Cubas” quando apresenta seu narrador ambiguamente “Eu não sou um autor
defunto, mas um defunto autor”. Segue-o Mário de Andrade no início do século XX
com seu revolucionário livro “Amar, verbo
intransitivo” e Oswald de Andrade com “Memórias
sentimentais de João Miramar” romance composto inteiramente por fragmentos
e inserções de outros textos.
Conhecedora dos procedimentos contemporâneos de
leitura dos textos literários, a autora não foi tão radical como seus
antecessores, mas estrutura alguns de seus contos utilizando-se de diversos
recursos narrativos e formais, propostos pela teoria e crítica moderna, com
muita maestria.
Rompe com os paradigmas tradicionais à medida que
cria seus textos dialogando com outros textos de outras literaturas e épocas e
de outras esferas culturais. O dialogismo é observado em “Três encarnações de um errante” cuja alusão remete à obra de Jorge
Amado “A morte e a morte de Quincas
Berro D’agua”, ou quando alude à obra “Morte
e vida Severina” do poeta João Cabal de Melo Neto, com seu conto “Morte e vida seringueira” e também
quando faz alusão à tragédia grega de Eurípedes dando nome de Medéia à
personagem feminina do conto “Um homem
sem coração” cuja trama é tão trágica quanto à própria peça. Escreve também
a sua versão do mito do boto amazônico quando cria seu conto “O filho das águas”.
No conjunto, são contos modernos que apresentam um
mundo em ruínas onde os valores cristãos, éticos e morais são ignorados ou esquecidos.
Um mundo desmitificado em que predomina o mal configurado no desrespeito, na
violação dos direitos do outro, na violência, no crime e na morte.
Tanto que a quase totalidade desses contos aborda a
questão da violência nas suas várias facetas: crime, suicídio, estupro,
injustiça preconceito, exploração. Todos decorrentes das relações sociais no
seio da família ou da sociedade. Por isso mesmo a morte é uma constante na
maioria das narrativas, mas não é aquela que mata e acaba depois do velório e
sim aquela que deixa marcas profundas nas pessoas próximas à vítima não só pela
estupefação de como aconteceu a morte, mas pela incredulidade daqueles que
conheciam o criminoso(a). São mortes trágicas ou inesperadas que causam
surpresa e muitas vezes comoção. Alguns de seus personagens parecem agir apenas
pelo instinto, distantes da ética cristã. A religião ou a fé parece não
sustentar o ser de alguns desses personagens tão contraditórios que encarnam o
bem e o mal e nesse conflito são punidos quando a fé para eles passa a ser uma
farsa.
Logo a força que move a maioria dos contos é o poder
configurado aqui por quem tem o mando nas relações sociais: é o poder do chefe
do tráfico, é o poder que age sobre as minorias como o marido sobre a mulher, ou
a família do pretendido sobre o objeto desejado (mulher), o patrão sobre o
empregado, o poder pelo sortilégio, pelo amor e ódio. Junte-se a esse panorama
a possibilidade de criar histórias cujos personagens vivenciam outras vidas, ou
que mortos possam ressuscitar. Elas fazem parte das teorias espíritas que
acreditam na reencarnação.
Esse poder desmascara suas reações, a fraqueza e a
subserviência das minorias, do preto, da mulher, do pobre, mas também aponta a
grosseria e o machismo dos homens desvelando o seu ser, ou seja, o que são de
fato e do que são capazes de fazer para proteger, esconder suas mazelas e seus
crimes e até sua maldade e crueldade.
Apesar de tudo, a autora consegue tornar os contos
apreciáveis e cheios de humanidade e não ocultam e nem silenciam os humildes e
as minorias. Estas reagem diante da desfeita e da injustiça como relatam os
contos sobre seringueiros.
Alguns sonhos irrealizáveis dos personagens parecem
desvelar decepções e frustrações da autora que, por isso, mergulha na realidade
demonstrando toda a sua imaginação ao denunciar e combater as mazelas da elite
dominante e da sociedade opressora, machista e preconceituosa, ao mesmo tempo
em que mostra um avanço na conscientização das pessoas oprimidas que conseguiram,
muitas delas, reagir e sair da condição de subalternas, enveredando pelo
caminho escolhido por elas próprias.
Louve-se a coragem e o desprendimento da autora que
nos presenteia com uma coletânea de contos tão significativa e representativa nesse
momento brasileiro de tanta decepção, desesperança e
futuro incerto.
Olinda
Batista Assmar, Mestre e Doutora em Literatura Brasileira,
Professora aposentada da Universidade Federal
do Acre (Ufac),
ex Secretária de Educação do Estado do Acre,
ex reitora da Universidade Federal do Acre
(Ufac),
Membro efetivo da Academia Acreana de Letras-AAL.
Este
terceiro livro muito me surpreendeu ver a maturidade do poeta, que nesses
últimos anos realmente amadureceu muito na escrita, o eu lírico dos livros
anteriores, sempre muito alegre e apaixonado, cedeu lugar para um poeta mais
concatenado com o seu tempo, mais centrado.
Os
poemas deste livro LAMENTO por trás dos
muros (2019) são mais intimistas,
mais introspectivos, o poeta não fala só de amor, beijos, paixão, carinho
e trocas amorosas, agora ele se debruça em sua dor e enxerga a beleza e o amor
fiel da cachorra Pérola, sua filha canina; poema falando de bandidos e os
perigos do mundo; de lugares especiais para o poeta como Veneza e Lisboa.
Profa.
Dra. Margarete Edul Prado de SouzaMembro
da Academia Acreana de Letras
José do Carmo Carile é poeta, escritor, compositor e ativista cultural. Graduado em Gestão de Recursos Humanos pela UNOPAR e pós-graduado em Psicopedagogia pela faculdade Euclides da Cunha. Membro da Academia Acreana de Letras-AAL e Membro da Academia dos Poetas Acreanos-APA.
Elizeu Melo é Escritor – Poeta e Psicanalista Clínico. Mestre em Educação. Pós-graduado em Psicoterapia, Autismo, ABA, Educação Inclusiva, Música e Artes. Diretor do Centro de Estudo Teológico e Filosófico do Acre. Sócio-diretor da Clínica de Psicanalise e Psicopedagogia. Membro da Sociedade Literária Acreana – SLA e Academia Acreana de Letras – AAL.
Desse curso se inscreveram, inicialmente, duas alunas pretendentes à bolsa de iniciação cientifica. Estas alunas, Waneima de Brito Barbosa e Marilena Costa Chaves foram selecionadas com a bolsa pretendida do CNPQ e começaram a pesquisa a partir da orientação da coordenadora/orientadora que elaborou com elas o cronograma de atividades. A partir de então a orientação foi feita presencialmente e por telefone, até a apresentação avaliativa no ano seguinte pela UFAC/CNPQ, por meio do seminário de investigação cientifica PIBIC.
Por falta de publicações em livros, a investigação teve que ser direcionada para os periódicos locais, começando a busca desses jornais pelas visitas a escolas, bibliotecas, livro do Tombo e ao Fórum da cidade de Sena Madureira, onde foi possível investigar alguns jornais com a equiescência da juíza na época. No entanto, a maior parte foi coletada no Centro de Documentação e Informação Histórica (CDIH), hoje Museu Universitário da UFAC e no Museu da Borracha do Acre.
O objeto foi de livre escolha das bolsistas. Uma escolheu estudar as manifestações artístico-culturais, e a outra, as crônicas, assim o corpus do trabalho foi composto dos textos coletados dos jornais localizado nos dois municípios.
Depois dessa etapa, outra bolsista do curso de Letras de Rio Branco, Carla Soares Pereira, interessou-se em estudar a poesia senamadureirense, agora entre 2002 e 2004, realizando sua pesquisa também nos mesmos locais, onde investigou toda produção poética do século XX, encontrada nos jornais que circularam outrora no município de Sena Madureira.
Na presente publicação, os poemas integrantes da antologia foram coletados dos periódicos não oficiais de Sena Madureira e publicados entre 1909 e 1999, a saber: Jornal Estado do Acre, Brazil Acreano, O Acre, O Jornal, A Mutuca e Sena Madureira Hoje.
São 79 poemas publicados em sua maioria até 1920, que revelam a liricidade dos poemas publicados nos antigos jornais e as marcas da produção literária que acompanhou parte da história da economia gomífera que fundou o Acre.
Nos poemas encontrados nos jornais de Sena Madureira, pode-se identificar a erudição, o descritivismo e as palavras em ornamento dos poemas parnasianos, que constituem grande parte da produção poética publicada nos periódicos do início do século XX; tem-se também muito lirismo e sentimentalidade, emoção e subjetividade nos poemas de teor romântico. Além desses, foram identificados a crítica, o bom humor, a irreverência, presentes em poemas que já prenunciavam o Modernismo na Amazônia antes de o movimento se consolidar em São Paulo.
Este texto corresponde a uma compilação de informações constantes nas duas pesquisas realizadas sobre a poesia de Sena Madureira. Compõe-se de um breve texto sobre as relações entre poesia e sociedade, um pouco do percurso da pesquisa nos jornais e da(s) história(s) do município, análises de alguns poemas, uma amostra das entrevistas realizadas na época da pesquisa e uma coletânea de poemas, todos publicados originalmente nos jornais não oficiais de Sena Madureira.
Olinda Batista Assmar é graduada em Letras-Inglês, Mestre e Doutora em Literatura Brasileira, Professora aposentada da Universidade Federal do Acre (Ufac), ex Secretária de Educação do Estado do Acre, ex reitora da Universidade Federal do Acre (Ufac), Membro efetivo da Academia Acreana de Letras e tem várias publicações em conjunto com alunos pesquisadores da área de Letras de Rio Branco e do interior.
Para finalizar, digo que a publicação deste livro é um presente aos professores (bom material em mãos), aos alunos (qualidade e temática dos textos), tudo posto numa linguagem singela, límpida, correta, elegante, que dá gosto de ler.
Dr.ª Amines Bader
Professora no Estado do Acre
Geógrafa e Advogada, OAB
Luísa Lessa é da Academia Brasileira de Filologia, Presidente da Academia Acreana de Letras, membro-fundadora da Academia dos Poetas Acreanos e Membro da International Writers and Artists Association (IWA).
Um trabalho fantástico, bem elaborado e embasado da nossa confreira Olinda Assmar. Um marco na história da literatura acreana. Parabéns, Dra. Olinda!!!
ResponderExcluirUma pesquisa de qualidade e de grande valor à literatura, história e cultura regional. Um farto material aos estudantes de Pós-Graduação. Parabéns à Dr.ª Olinda Assmar.
ResponderExcluirO livro da Dr.ª Luísa Karlberg traz textos maravilhosos de apoio aos professoras, para melhorar os conhecimentos, a leitura e s escrita dos alunos. É um material que serve de fonte a variados estudos e refelexões para a melhoria da vida em sociedade.
ResponderExcluirParabéns a todos escritores pelas obras literárias maravilhosas!!!
ResponderExcluirGêneros literários: Literatura é uma maneira de expressar por escrito a manifestação histórica e social de determinado momento, sendo utilizados muitos efeitos.
ResponderExcluirOs escritores tentam passar através do texto sua maneira de olhar a realidade, juntamente de muita emoção. Nesses posteres o leitor irá conhecer os gêneros literários para se dar bem em Literatura no Enem e Vestibular!
A página está linda e muito organizada. A AAL está de parabéns pela bela apresentação das obras. Feliz por participar de tão belo trabalho.
ResponderExcluirA cada dia nossa página fica mais rica ao trazer parte da produção de nossos imortais. É um acervo muito importante para estudioso e e pesquisadores.
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