15/11/2020

DISCURSO DE POSSE DA ACADÊMICA VALCILDA BEZERRA DE AMORIM (VAL AMORIM), NO SODALÍCIO DA ACADEMIA ACREANA DE LETRAS - AAL, CADEIRA N° 15.

 

 Discurso de Posse da Acadêmica Valcilda Bezerra de Amorim - Cadeira nº 15

 

Digníssima Senhora Presidente da Academia Acreana de Letras, Professora Doutora Luísa Galvão Lessa Karlberg, ilustres membros, senhoras e senhores acadêmicos, amigos e familiares.

         Boa noite a todos,

Hoje, 10 de julho de 2020, digo-lhes que este momento é, para mim, um dos mais especiais e importantes de minha vida, momento este em que tenho a honra de fazer parte deste ilustre Sodalício, onde tomo posse da cadeira de número 15, da Academia Acreana de Letras – AAL, tendo como meu Patrono, o Excelentíssimo General Belarmino Augusto de Mendonça Lobo, que aportou e participou da história do Acre como chefe da “Comissão Brasileira de Reconhecimento do Alto Juruá”, no ano de 1904.

O General Belarmino Augusto de Mendonça Lobo nasceu em 1850, na antiga Província do Rio de Janeiro, filho de Belchior de Mendonça Lobo. Participou de diversos combates, em 1867, dentre eles, a Guerra do Paraguai. Como militar, foi elogiado e promovido por atos de bravura, com a promoção de Alferes.

O relatório do General Belarmino de Mendonça Lobo, encarregado da missão no Juruá, contém a memória da Comissão Mista, com versão espanhola do Comissário peruano D. Nuno Pompílio Leon. Este relatório foi redescoberto pelo escritor Leandro Tocantins na década de 80, tendo sugerido que fosse publicado com o título "Reconhecimento do Rio Juruá".

Assim, nas curvas dos rios amazônicos que cruzam o Estado do Acre, General Belarmino de Mendonça Lobo registrou os limites e confrontações da região do Juruá, incluindo em seu relatório o mapeamento dos rios que, num outro momento, seriam percorridos por tantas outras famílias, como a do meu antecessor nesta casa e a minha também.

 Minha história, senhoras e senhores, está ligada ao meu antecessor, quando meus pais e meus avós vieram para este Estado e aqui permaneceram até suas partidas para a eternidade. Pelos rios da Amazônia, a família do meu antecessor também chegou e se instalou nesta bela terra, no meu querido Acre, e pelas curvas do destino hoje tomo posse da cadeira de nº 15, até então, pertencente ao ilustre confrade a quem passo a prestar minhas homenagens.

 Mário Lima Brasil, antecessor da cadeira de nº 15, personalidade inspiradora e que com muito orgulho faço-lhe deferência. Nasceu em Rio Branco – Acre, cursou o ensino fundamental no Grupo Escolar Presidente Dutra e ensino médio no Colégio Acreano. Graduou-se em música pelo Departamento de Música da Universidade de Brasília, mestrado na Universidade de Artes e Música de Tóquio e doutorado na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Professor de composição no Departamento de Música da Universidade de Brasília. Como compositor, é autor de diversas obras, entre elas pode-se destacar a ópera Aquiry, a Luta de um Povo, inspirada na Revolução Acreana. Atualmente é Presidente Nacional dos Grupos PETs (Programa de Educação Tutorial do Ministério da Educação) e desenvolve pesquisa na área de Música e Interfaces (ópera, cinema, videogame, teatro musical, música e saúde e música quântica).

Minhas senhoras e meus senhores:

Esta é a realidade que já foi sonho! Este é o momento em que, primeiramente, agradeço a Deus por tantos sonhos que foram convertidos em realidade; a minha família, por me apoiar e se alegrar comigo a cada conquista; aos membros dessa Augusta Academia, pelo voto de confiança que me foi conferido; ao incentivo e apoio de amigos e amigas, aqui, representados na pessoa do confrade Renã Leite Pontes, meu patrocinador, a quem coube a missão de me indicar a este Sodalício, quando acolheu a minha ousadia de pleitear uma vaga na Academia Acreana de Letras, trazendo comigo minhas obras literárias, que são a materialização das minhas riquezas culturais.

Não vou falar-lhes dos meus títulos, dos cargos que ocupei e tampouco das fronteiras que cruzei em busca de conhecimento. Vou falar-lhes somente sobre o que sinto que sou. Sinto que sou uma artesã. Uma artesã de palavras. Minha arte consiste em juntar palavras na intenção de tocar e encantar almas.

Espero fazer jus ao que preconizava Platão, o fundador da primeira Academia, na antiga Grécia, berço da civilização ocidental. Dizia ele: “toda vez que surge um novo Acadêmico a humanidade inteira fica mais enriquecida culturalmente!”

 Senhora Presidente, minhas raízes pertencem a esta terra que recepcionou meus antepassados e fez de mim uma sobrevivente. Já percorri muitas outras terras, mas é aqui, neste pedaço da Amazônia que descanso minha alma, pois aqui meu coração é completamente livre.

Concluo este momento solene homenageando minha mãe, que chegou ao Acre com sua família ainda muito jovem e que, prematuramente, partiu pouco tempo depois do meu nascimento. Realmente, o que escrevemos nos imortaliza. Minha mãe escrevia poemas, cartas, orações e talvez outros textos dos quais não tive acesso. Contudo, desde pequena observei que meu pai guardava num cofre alguns papéis, que aos 15 (quinze) anos de idade, ao perceber que meu pai havia esquecido o cofre aberto, decidi checar que papéis eram aqueles. Sentei-me no chão e me pus a ler aqueles textos maravilhosos, com uma caligrafia perfeita, comparo à dos calígrafos nos convites de casamento que recebi. Minha mãe é a minha maior inspiração para a literatura e o universo das letras e a ela presto minha homenagem para que se registre nos anais desta Academia o nome de Maria Joana de Amorim, in memoriam.

Meus pais e avós, como a maioria dos seringueiros e negociantes que aqui chegaram, criaram raízes e jamais retornaram as suas terras de origem, como descreve meu antecessor, Mario Lima Brasil, na Ópera Aquiry, a Luta de um Povo, que aqui deixo-lhes um pequeno trecho:

[...]

Ah! Como vou voltar

Pro meu Ceará

Isto eu não sei

Ah! Mas quando eu voltar

Que eu volte como

Se Fosse um rei

[...].

 

 Muito obrigada a todos!

Rio Branco – AC, 10 de julho de 2020.

Valcilda Bezerra de Amorim (Val Amorim)

 

CONSULTA DE APOIO REFERÊNCIAL:

Discurso de Posse do Acadêmico Prof. Dr. Mário Lima Brasil - ACADEMIA ACREANA DE LETRAS.

Disponível em: <https://academiaacreanadeletras-aal.blogspot.com/2016/09/posse-do-academico-mario-lima-brasil-na.html>. Acesso em: 07 de maio de 2020.

SILVA, Hiran Reis e. Belarmino Mendonça Lobo. Gente de Opinão. Disponível em: <https://www.gentedeopiniao.com.br/colunista/hiram-reis-e-silva/belarmino-augusto-de-mendonca-lobo>.  Acesso em: 07 de maio de 2020.

SILVA, Hiran Reis e. Desafiando o Rio-Mar. Disponível em:

<http://desafiandooriomar.blogspot.com/2012/05/belarmino-augusto-de-mendonca-lobo-os.html>. Acesso em: 20 de junho de 2020.