Discurso de Posse
Acadêmico José Wilson Aguiar - Cadeira 39
Excelentíssima Presidente da ACADEMIA ACREANA DE LETRAS,
Prof.ª Dr.ª Luísa Galvão Lessa Karlberg
Excelentíssimo Vice-Presidente da ACADEMIA ACREANA DE
LETRAS, escritor Renã Leite Corrêa Pontes
Excelentíssimos Confrades e Confreiras da ACADEMIA ACREANA
DE LETRAS
Senhoras e Senhores,
Confesso, humildemente, que já
fiz parte de fato mas não de direito da octogenária ACADEMIA ACREANA DE LETRAS;
convivi com os imortais de memória saudade nos anos 80 e 90 e, muitos deles, ensinaram-me
a amar o Acre, seu povo, sua História ímpar e suas instituições. Esse amor
ainda continua e vai fazer em breve quarenta anos e, com certeza, todos serão
testemunhas desse amor incontido que existe dentro de mim nos próximos anos.
Lembro-me de um dia em que conheci nosso escritor Leandro Tocantins num evento
literário ocorrido no auditório da Ufac, Centro, quando lá me falou: “continue
resgatando nossa História”! Isso ocorreu depois que li, minuciosamente, os três
volumes de sua célebre obra “Formação
Histórica do Acre” (1ª edição), hoje em meu acervo só tenho um dos dois
volumes da 3ª edição (1979).
Pois bem, agora me sinto dentro
de Casa, hoje comandada pela uma conterrânea daquele célebre escritor amazônida
e porque não dizer, acreano, que é Leandro Tocantins.
O ano de 2020, marcará as vidas
de novos imortais que, comigo, ingressaram na ACADEMIA ACREANA DE LETRAS. Para o
registro da posterioridade menciono meus confrades e confreiras que juntos
ingressamos: Valcilda Amorim (Cadeira 15, Patrono Belarmino Mendonça);
Hermógenes Pereira Lima Neto (Cadeira 16, Patrono Cândido Rondon); Adalberto Queiróz
(Cadeira 17, Patrono Carlos Vasconcellos); Fátima Cordeiro (Cadeira 20, Patrono
Emílio Goeldi); Sanderson Moura (Cadeira 23, Patrono Francisco D’Oliveira
Conde); Nilda Dantas (Cadeira 26, Patrono Humberto de Campos); Elizeu Melo
(Cadeira 35, Patrono Mário Lobão), e José Wilson Aguiar (Cadeira 39, Patrono
Raymundo Moraes).
De todos os Patronos acima
citados eu conheço o passado brioso de cada um, porquanto como disse alhures,
aprendi, há anos, a amara esta Augusta Casa a Academia Acreana de Letras e,
hoje, mais do que antes, porque sou integrante dela, tendo por patrono Raymundo
Moraes.
Já os ocupantes das atuais
Cadeiras, também merecem meus cumprimentos sinceros, todos fazem História e têm
suas marcas deixadas no contexto atual do Acre; os segmentos culturais de cada
um, são todos importantes para uma sociedade ainda em formação, como é a do
Acre; uma sociedade sempre se renova.
Antes de registrar meus feitos
aqui no Acre, desde 1986, não só em Rio Branco, mas nos demais 21 municípios,
falarei daquele que foi o ocupante número 1 da Cadeira quando da fundação de
nossa ACADEMIA ACREANA DE LETRAS.
O Patrono da Cadeira 39 é o
escritor paraense Raymundo Joaquim de Moraes (15 de setembro de 1872, Belém
(PA) – Ϯ3
de fevereiro de 1941, Belém (PA).
Seu pai, Miguel Quintiliano
Moraes era prático no rios caudalosos da região, inclusive, indo navegar nas
águas dos rios Madeira e Purus. É daqui que veio a inspiração de Raymundo
Moraes escrever belissimamente a região em livros clássicos no contexto regional.
Suas obras ainda ganham espaço nos espaços literários sendo lidas e [re]lidas,
eivadas de fontes da vida cotidiana do caboclo amazônico, da fauna e da imensa
flora verde.
Ao longo da carreira de escritor
amazônida, Raymundo Moraes fez publicar 17 livros, todos são clássicos. O mais
célebre de todos, comparado aos demais, é a obra Na Planície Amazônica, um clássico de nossa literatura regional,
inclusive a obra foi de cabeceira do então presidente Washington Luís, que
conheceu muitíssimo bem a realidade amazônica lendo e relendo aquela obra. Sic!
Raymundo Moraes foi um “autodidata,
comandante de navios pelos rios da região, jornalista, político, partícipe de
atividades intelectuais de seu tempo.
Foi ao pódio literário na década
de 1930 e depois baixou às catacumbas do olvido, merecendo ser representado e
reconhecido num preito de gratidão e justiça em decorrência de sua considerável
produção a respeito da Amazônia, pois muitas de suas obras, como O meu
dicionário de cousas da Amazônia (1931), continuam sendo fonte de investigação
inesquecível para os que dedica[re]m à estudar a respeito da Região Amazônica e
sua[s] cultura[a], assim como alimentaram a voracidade antropófaga de Márcio de
Andrade”. 1
Sobre a colonização da nossa região, disse:
“Foram os paraenses que a devassaram a Amazônia. Escalaram-na
silenciosa e anonimamente. A curiosidade os levou a espiar por todos os buracos
[...] os buracos eram os rios [...], fios d’água [...] a energia paraenses
concretizada nos seus marujos das canoas pratas”. 2
Aos poucos, autor e obras serão reconhecidos e incorporados no
contexto regional!
Quanto à minha pessoa como mais um
apaixonado pela região, pela História, serei breve nos feitos tidos desde 1986.
Lembro-me muito bem minha infância de
quando era estudante, lá nos idos anos de 1969; quando das aulas de estudos
sociais, da minha professora Liduína; recordo quando via o mapa do Brasil e sem
querer, acabava olhando para a Região Norte e via os imensos rios que circundam
a cobiçada Região Amazônica. Uma obra cobiçada. Um dia, ocorreu o encontro. Do
sertão cearense, fui morar em Manaus, e vi e convivi com as águas do rio Negro,
do Solimões, enfim, do rio Amazonas, sem contar, então, com os demais rios
Madeira e rio Acre. Nas idas e vindas, navegando de Manaus até Tefé, pelo rio
Negro, sempre pensava: essas águas são testemunhas da História, e realmente
são. Não tinha medo nenhum de navegar como foi várias ocasiões, e testemunhar o
vai-e-vem de embarcações com seus passageiros em pé acenando para outras embarcações
no remanso dos rios. Outras, fiz isso deitado nas redes que se atam nos convés
inferiores daquelas embarcações. Lembro-me de uma viagem feita no rio Madeira,
de Manaus a Porto Velho, foram sete dias de viagem, quantas embarcações
passamos e quantos vimos de seus tripulantes acenando para os demais; com
certeza, essas cenas ocorreram nos anos bem longínquos. Nesse contexto, me
sentia ser mais um caboclo!
Deixando as águas caudalosas dos rios
da nossa região, parto agora a andar pelas estradas, muitas vezes, empoeiradas
nos municípios do Acre; desde meados de 1986 tenho feito essas viagens,
sozinho, com o objetivo de fazer e iniciar meu trabalho, de resgatar História
do Acre. Toda vez que ia, já ia com um caminho a percorrer em cada um desses
municípios, ia até na secretaria das igrejas em buscas de dados históricos, ia
nas câmaras municipais, nas prefeituras, nas casas de moradores envolvidos com
a história do lugar, do município, também ia nas escolas atrás das bibliotecas
e dos professores doces recordações! Enfim, esses momentos estão registrados
nas fotos que pedia para alguém tirar para mim, e até hoje, guardo-as com
cuidado e zelo e me vejo no passado, como eu era, como me vestia, e essas doces
lembranças ainda guardo na memória.
Experiente, aos poucos fui para outros
lugares, outros estados, com o mesmo fito. Conhecendo História do Acre e seus
personagens, fui em busca de historiar aqueles personagens de nossa História
bem longe: Manaus, Recife, Salvador, Sergipe, Ceará, Belém, Rio de Janeiro; hoje
mesmo, vejo, com tristeza no coração, uma imensa tristeza e ainda mais
preocupado com o que estão fazendo com a nossa História, nosso passado. É
triste! A História do Acre aos poucos, vai se esvairando! Mas, se depender de
mim, não irei deixar nossa História se acabar. Quando vejo que isso está
acontecendo, me vejo com mais afinco que não deverei parar de fazer o que
sempre fiz: resgatar a nossa História para publicar livros. É isso que faço de
segunda a segunda, até não mais tiver forças para tal.
Essa missão para mim aumentou,
aumentou, pois sou parte do grupo seleto de imortais da ACADEMIA ACREANA DE
LETRAS. Em nosso Sodalício esta cada qual está arregaçando suas mangas e
fazendo florescer o amor e o respeito que devemos ter com a nossa História, com
a História dos nossos antepassados, com as mais diversas formas de culturas e
expressões abstratas, como na música, nas artes, na literatura, nas letras.
Viva a ACADEMIA ACREANA DE LETRAS! Viva a seu Sodalício!
_____________
1 “Na planície do
esquecimento”. Sebastião Larêdo. Dissertação de Mestrado em Letras /
Estudos Literários do Centro de Artes da Universidade Federal do Pará, 2007.
2 Ibid
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