Discurso de Posse
Acadêmico Jefferson Henrique Cidreira - Cadeira 14
Saúdo-vos, Excelentíssima presidente da Academia Acreana de Letras, Prof.ª Dr.ª Luísa Karlberg, nobre Sodalício, senhores e senhoras, público convidado
É, para mim, uma imensa honra poder, agora, fazer parte da ilustre entidade, a Academia Acreana de Letras - AAL, tomando posse da cadeira de número 14. Lugar este que tem como patrono o Excelentíssimo João Barbosa Rodrigues: professor, engenheiro e botânico. Suas produções, como escritor, estão ligadas a botânica e a etnolinguística. Esteve na Amazônia em viagem de exploração do rio Capim, entre dezembro de 1874 e fevereiro de 1875. Foi uma das etapas da Comissão Exploradora do Vale do Amazonas. Esta comissão foi um projeto do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, cujo propósito era o de fazer o levantamento das riquezas naturais do vale do Amazonas. A fim de cumprir tal missão, Barbosa Rodrigues viajou com sua família para o vale do Amazonas em 1871, lá permanecendo até março de 1875.
Após explorar, em
sequência, os rios Tapajós, Yamundá, Urubu e Jatapu e Trombetas, em 1874,
Barbosa Rodrigues encontrava-se na cidade de Óbidos, na província do Grão-Pará,
uma de suas bases e, consequentemente, um dos lugares de realização de seus
estudos preliminares de gabinete. Sendo assim, após realizar pesquisas de quais
rios da província do Pará não tinham sido explorados por naturalistas, percebeu
que as informações encontradas indicavam que o rio Capim não havia sido
explorado até a sua nascente.
As mesmas informações também lhe diziam que o
único naturalista que havia passado pelo rio tinha sido Alfred Russel Wallace
(1823-1913), em 1849, o qual viajou da foz até o engenho Santo Antônio,
localizado na fazenda São José, uma das muitas propriedades que José Calixto
Furtado (1806-1882), fazendeiro e líder do Partido Conservador na freguesia de
Santana do Capim (hoje, vila de Santana do Capim, município de Aurora do Pará),
possuía ao longo do rio Capim. Barbosa Rodrigues, na introdução de seu
relatório, enfatizou que o naturalista não havia proposto nenhuma discussão
mais profunda acerca do rio Capim, como também não dissertou a respeito dos
animais e dos vegetais que compunham a região. Ainda segundo ele, Alfred
Wallace apenas havia descrito alguns lepidópteros (ordem onde estão inseridas
as mariposas e as borboletas) e a pororoca.
Barbosa Rodrigues não se ocupou apenas em descrever o curso
do rio Capim e de seus prováveis afluentes, ou seja, seus aspectos geográficos
e hidrográficos. Do rio Capim, elaborou vários estudos acerca das observações e
dos registros que realizou ao longo de sua viagem, levando sempre em
consideração as características físicas, históricas e antropológicas
encontradas por ele neste afluente. Uma dessas características foi a pororoca,
sobre a qual o naturalista elaborou estudo detalhado de suas causas no rio
Capim.
A escolha por explorar o rio Capim trouxe a Barbosa Rodrigues
um resultado ímpar, pois o botânico conseguiu classificar três novas espécies
de palmeiras, descritas no “Enumeratio
Palmarum novarum quas valle fluminis Amazonum inventas et ad Sertum Palmarum
collectas, descripsit at iconibus illustravit”, posteriormente adicionadas
ao “Sertum Palmarum Brasiliensium” ,
obra magna de magnitude.
Tal como fez em relação a este rio, o botânico procurou
explicar a origem e o significado da palavra pororoca. Suas conclusões foram
reproduzidas por José Coelho da Gama e Abreu, o Barão de Marajó (1832-1906), em
“As regiões amazônicas: estudos chorográficos dos Estados do Gran Pará e
Amazônas”. Foi o exímio estudioso a quem a região amazônica muito deve engrandecer
e enaltecer.
Essa cadeira de número catorze,
que recebo com muito orgulho, também foi ocupada pela vossa Excelência Silvio
Martinello, antecessor emérito da AAL.Silvio Martinello faz parte da história
acreana. Desde a década de 1970 vem tecendo narrativas sobre nosso amado Estado,
através do jornal Varadouro e, posteriormente, A Gazeta, onde ganhou diversos
prêmios. Varadouro teve papel preponderante de resistência contra os abusos de
poder e às explorações de seringueiros, colonos e indígenas. Isto é, com um
prisma em prol das classes desfavorecidas. Silvio Martinello não só figurou com
sua bela e crítica escrita nos jornais acreanos, mas, também, como escritor de
diversas obras como: "A ilha da consciência", "Amanda",
"Acre, onde o vento faz a curva", dentre outros. Diante das breves
apresentações, em especial, ao meu antecessor, sinto-me com uma
responsabilidade enorme em honrar essa cadeira, a qual ilustres intelectuais
fizeram-na justiça.
Neste momento de posse, é salutar
mencionar pessoas, pelas quais, nutro carinho, admiração e presença à
construção de minha vida literária. Agradeço, primeiramente, a Deus. Em seguida
aos meus pais, Maria Liberdade de Matos e Saint'Clair Cidreira, responsáveis
diretos pelo meu ensinamento, caráter, humildade. Minha mãe, a título de
exemplo, muitas vezes deixou de comer para que eu e o meu irmão amado, Saint'Clair
Cidreira Júnior, pudéssemos estudar. Outrossim, é destaque a presença de meu
irmão como um espelho de pessoa, o primeiro a fazer com que me debruçasse às
tessituras. Aos imortais: professora Doutora Maria José Bezerra, minha grande
professora na graduação; ao professor Doutor Francisco Pinheiro, o Dandão, que
enxergou potencial em mim e me incentivou a adentrar nesta conceituada casa; ao
professor Doutor Eduardo Carneiro, amigo de infância e incentivador das minhas
obras; e ao Professor José do Carmo Carile, meu padrinho querido neste Sodalício, pela
humildade e nobreza de caráter, exemplo humano modelar.
No mais, rogo a Deus para que abençoe e direcione nossos passos dentro dessa Augusta Instituição, em prol da cultura e da população acreana.
No mais, rogo a Deus para que abençoe e direcione nossos passos dentro dessa Augusta Instituição, em prol da cultura e da população acreana.
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