Discurso de Posse
Acadêmico José do Carmo Carile - Cadeira 29
Excelentíssima Doutora
e Professora Luísa Galvão Lessa Karlberg, digníssima Presidente da Academia
Acreana de Letras.
Ilustres acadêmicos,
autoridades presentes, minha família, caros amigos.
Tenho prazer de abrir minha fala homenageando meu pai Antônio Carile e minha
mãe Regina Donato com o texto em italiano em respeito a minha origem. Questo
momento solene, chiedo la benedizione di mio padre Antonio e Regina mia madre
sapere che c'è il cielo accanto al nostro Signore, voi siete molto felice. Un
bacio nel cuore di voi due.
É com muita emoção que ingresso nesta gloriosa academia, onde tive a ousadia de
me inscrever e concorrer a um assento. Afinal, é patente a minha pequenez
diante da rica plêiade de intelectuais que compõem este nobre Sodalício, por
onde passaram tantos gênios da cultura acreana.
Ao ver-me alçado a essa turma, e diante de tantos outros grandes nomes,
sentados à minha frente, toma conta de mim um orgulho que não consigo esconder.
E, neste momento, há uma frase tão boa para definir tradição que, como era
inevitável, a tribo da internet já a creditou a mais de meia dúzia de autores
diferentes, tão famosos e heterogêneos quanto Thomas Morus, Benjamin Franklin
ou Gustave Mahler: "Tradição não consiste em venerar as cinzas, mas em
preservar as chamas".
Seja quem for o seu verdadeiro pai, não conheço fórmula melhor para descrever a
missão de uma Academia como esta: ela não existe só para guardar as cinzas,
mas, acima de tudo, para atiçar o fogo, para não deixá-lo morrer.
Nada mais acertado, portanto, que a posse de um novo acadêmico comece pela
evocação do patrono da cadeira que vai ocupar, renovando, simbolicamente, o
vínculo com o passado fundador e assegurando a memória das gerações que já se
foram. Das quarenta cadeiras que compõem esta Academia, contudo, nem todas têm
patronos que o leitor moderno reconhece.
José Lopes de Aguiar - Nasceu em Fortaleza a 12 de Março de 1884, filho de José
Martins de Aguiar e Silva e Josefina Lopes de Aguiar. É neto paterno do
português Antônio Martins do Rego, e materno de Manoel Lopes do Amaral e Maria
Lopes da Conceição, todos nascidos no Ceará.
Fez preparatório no Lyceu do Ceará e recebeu o grão de bacharel na Academia do
Recife em Dezembro de 1911. Exerceu o magistério no Instituto de Humanidades,
nos colégios Miguel Borges e Arruda, em Fortaleza. Colaborou no
“Jornal do Ceará” com Agapito dos Santos e Waldemiro Cavalcanti, no “24 de
Janeiro”, na Revista “Fortaleza” no Ceará, e no “Pernambuco”, do Recife. Ocupou
o cargo de delegado de polícia no governo do Coronel Carvalho Motta (nomeado a
26 de Janeiro e exonerado a pedido a 17 de Julho de 1912) e o de lente da
cadeira suplementar de Geografia do Lyceu, cargo que exerceu até 30 de Janeiro
de 1913 quando se exonerou. Exerceu no Alto Purus o cargo de Juiz Municipal da
Comarca de Senna Madureira. Faleceu em Fortaleza no dia 14 de outubro de 1.961,
aos setenta e sete anos.
Eu não poderia concluir essa fala sem deixar dois agradecimentos: o primeiro à
nossa Presidente, Prof.ª Dr.ª Luísa Karlberg, que com palavras ternas, de um
coração nada pequeno, recepcionou-me com o seu belo discurso, fruto da grandeza
do seu espírito acolhedor, fraternal, seguidora das letras, da literatura, dos
livros, como caminhos para enobrecer uma vida.
Hoje, nesta noite especial, mais procedente do que a aspiração de um autor à
auréola acadêmica, sinto-me elevado de gratidão. Todo aquele que preza uma obra
sua deseja vê-la aceita pelo voto deste colegiado. Longe de ser elitista, longe
de posições predispostamente sectárias, a Academia Acreana de Letras, esta a
que ora adentro, ainda que pareça um paradoxo, é a mais democrática de todas as
instituições acreanas.
Desejo agradecer, também, ao fraternal amigo, escritor, poeta e agora confrade
Mauro Modesto, que com generosas palavras e grandes olhos de um coração amigo
lhes revelou, de uma forma bem ampliada, um modesto livro que não tem a
pretensão de obra de vulto, mas apenas o leve registro de algumas passagens da
minha vida e ligeiras observações de um poeta sonhador como eu.
Os amigos são assim: fazem grandes as nossas normais atitudes. Aqui, lembro os
versos de Nê BlaCk:
“Há quem diga que
verdadeiros amigos não existem...
Há quem diga que
tudo sempre acontece sem que percebamos...
Há quem diga que o
amor de amigo não é verdadeiro... É algo passageiro...
Há quem diga que
para ser amigo precisa-se ser igual em tudo...
Amigos são
especiais... E verdadeiros amigos EXISTEM!
Amigos são como
família da gente... Quando percebemos já estamos juntos...
Amigos são como uma
parte da nossa vida que permanecerá para sempre!
Amigos são assim...
Quanto maior a distância entre eles... Mas o amor cresce... Aquele amor que dá
uma saudade nos fazendo até quase chorar...
Amigos são assim...
Não precisam ser iguais em tudo...
Mas o que realmente
une esses grandes amigos são as grandes diferenças que existem entre eles!
Por fim...
AMIGOS SÃO FIÉIS ATÉ
O FIM...
E o fim quando
será?!! Só Deus sabe...”
Concluindo, talvez não existam palavras suficientes e significativas que me
permitam agradecer aos confrades e confreiras, com justiça, com o devido
merecimento, o voto que depositaram em mim e que hoje me permite tomar
assento na cadeira 29. Vossos apoios foram para mim de valor inestimável, mas é
tudo o que me resta é essa imensa gratidão. Apenas posso me expressar através
da limitação de meras palavras, e com elas lhes prestar esta humilde, mas
sincera, homenagem. Obrigado, também, a minha querida Amines, você foi o maior
apoio para o meu encontro com as Letras!
Foi, igualmente, no século XV, quando os portugueses se fizeram aos mares
d’outrem nunca navegados, e a Língua depois de ter passado pela África chegou à
Ásia e desembarcou na Terra de Santa Cruz.
No século XVI, Camões, o maior épico da Renascença, salvando das águas revoltas
do oceano os Lusíadas, salva também a Língua Portuguesa e dá-lhe foros de
beleza, de suavidade, de independência, de “turba de alto clangor”, tornando-a
cantante e forte! Esta Língua é o nosso instrumento de trabalho e é ela que me
trouxe de São Paulo, terra dos bandeirantes, a esta Academia quase centenária.
Salve a Língua Portuguesa! Salve o Sodalício Acreano!
Muito obrigado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário