25/04/2020

DISCURSO DE POSSE DO ACADÊMICO PROF. ESP. JOSÉ DO CARMO CARILE - Cadeira 29


Discurso de Posse
Acadêmico José do Carmo Carile - Cadeira 29



Excelentíssima Doutora e Professora Luísa Galvão Lessa Karlberg, digníssima Presidente da Academia Acreana de Letras.
Ilustres acadêmicos, autoridades presentes, minha família, caros amigos.

      Tenho prazer de abrir minha fala homenageando meu pai Antônio Carile e minha mãe Regina Donato com o texto em italiano em respeito a minha origem. Questo momento solene, chiedo la benedizione di mio padre Antonio e Regina mia madre sapere che c'è il cielo accanto al nostro Signore, voi siete molto felice. Un bacio nel cuore di voi due.
       É com muita emoção que ingresso nesta gloriosa academia, onde tive a ousadia de me inscrever e concorrer a um assento. Afinal, é patente a minha pequenez diante da rica plêiade de intelectuais que compõem este nobre Sodalício, por onde passaram tantos gênios da cultura acreana.
       Ao ver-me alçado a essa turma, e diante de tantos outros grandes nomes, sentados à minha frente, toma conta de mim um orgulho que não consigo esconder. E, neste momento, há uma frase tão boa para definir tradição que, como era inevitável, a tribo da internet já a creditou a mais de meia dúzia de autores diferentes, tão famosos e heterogêneos quanto Thomas Morus, Benjamin Franklin ou Gustave Mahler: "Tradição não consiste em venerar as cinzas, mas em preservar as chamas".
      Seja quem for o seu verdadeiro pai, não conheço fórmula melhor para descrever a missão de uma Academia como esta: ela não existe só para guardar as cinzas, mas, acima de tudo, para atiçar o fogo, para não deixá-lo morrer.
      Nada mais acertado, portanto, que a posse de um novo acadêmico comece pela evocação do patrono da cadeira que vai ocupar, renovando, simbolicamente, o vínculo com o passado fundador e assegurando a memória das gerações que já se foram. Das quarenta cadeiras que compõem esta Academia, contudo, nem todas têm patronos que o leitor moderno reconhece.
      José Lopes de Aguiar - Nasceu em Fortaleza a 12 de Março de 1884, filho de José Martins de Aguiar e Silva e Josefina Lopes de Aguiar. É neto paterno do português Antônio Martins do Rego, e materno de Manoel Lopes do Amaral e Maria Lopes da Conceição, todos nascidos no Ceará.
      Fez preparatório no Lyceu do Ceará e recebeu o grão de bacharel na Academia do Recife em Dezembro de 1911. Exerceu o magistério no Instituto de Humanidades, nos colégios Miguel Borges e Arruda, em Fortaleza. Colaborou no “Jornal do Ceará” com Agapito dos Santos e Waldemiro Cavalcanti, no “24 de Janeiro”, na Revista “Fortaleza” no Ceará, e no “Pernambuco”, do Recife. Ocupou o cargo de delegado de polícia no governo do Coronel Carvalho Motta (nomeado a 26 de Janeiro e exonerado a pedido a 17 de Julho de 1912) e o de lente da cadeira suplementar de Geografia do Lyceu, cargo que exerceu até 30 de Janeiro de 1913 quando se exonerou. Exerceu no Alto Purus o cargo de Juiz Municipal da Comarca de Senna Madureira. Faleceu em Fortaleza no dia 14 de outubro de 1.961, aos setenta e sete anos.
      Eu não poderia concluir essa fala sem deixar dois agradecimentos: o primeiro à nossa Presidente, Prof.ª Dr.ª Luísa Karlberg, que com palavras ternas, de um coração nada pequeno, recepcionou-me com o seu belo discurso, fruto da grandeza do seu espírito acolhedor, fraternal, seguidora das letras, da literatura, dos livros, como caminhos para enobrecer uma vida.
      Hoje, nesta noite especial, mais procedente do que a aspiração de um autor à auréola acadêmica, sinto-me elevado de gratidão. Todo aquele que preza uma obra sua deseja vê-la aceita pelo voto deste colegiado. Longe de ser elitista, longe de posições predispostamente sectárias, a Academia Acreana de Letras, esta a que ora adentro, ainda que pareça um paradoxo, é a mais democrática de todas as instituições acreanas.
      Desejo agradecer, também, ao fraternal amigo, escritor, poeta e agora confrade Mauro Modesto, que com generosas palavras e grandes olhos de um coração amigo lhes revelou, de uma forma bem ampliada, um modesto livro que não tem a pretensão de obra de vulto, mas apenas o leve registro de algumas passagens da minha vida e ligeiras observações de um poeta sonhador como eu.
      Os amigos são assim: fazem grandes as nossas normais atitudes. Aqui, lembro os versos de Nê BlaCk:
“Há quem diga que verdadeiros amigos não existem...
Há quem diga que tudo sempre acontece sem que percebamos...
Há quem diga que o amor de amigo não é verdadeiro... É algo passageiro...
Há quem diga que para ser amigo precisa-se ser igual em tudo...
Amigos são especiais... E verdadeiros amigos EXISTEM!
Amigos são como família da gente... Quando percebemos já estamos juntos...
Amigos são como uma parte da nossa vida que permanecerá para sempre!
Amigos são assim... Quanto maior a distância entre eles... Mas o amor cresce... Aquele amor que dá uma saudade nos fazendo até quase chorar...
Amigos são assim... Não precisam ser iguais em tudo...
Mas o que realmente une esses grandes amigos são as grandes diferenças que existem entre eles!
Por fim...
AMIGOS SÃO FIÉIS ATÉ O FIM...
E o fim quando será?!! Só Deus sabe...”
      Concluindo, talvez não existam palavras suficientes e significativas que me permitam agradecer aos confrades e confreiras, com justiça, com o devido merecimento, o voto  que depositaram em mim e que hoje me permite tomar assento na cadeira 29. Vossos apoios foram para mim de valor inestimável, mas é tudo o que me resta é essa imensa gratidão. Apenas posso me expressar através da limitação de meras palavras, e com elas lhes prestar esta humilde, mas sincera, homenagem. Obrigado, também, a minha querida Amines, você foi o maior apoio para o meu encontro com as Letras!
     Foi, igualmente, no século XV, quando os portugueses se fizeram aos mares d’outrem nunca navegados, e a Língua depois de ter passado pela África chegou à Ásia e desembarcou na Terra de Santa Cruz.
       No século XVI, Camões, o maior épico da Renascença, salvando das águas revoltas do oceano os Lusíadas, salva também a Língua Portuguesa e dá-lhe foros de beleza, de suavidade, de independência, de “turba de alto clangor”, tornando-a cantante e forte! Esta Língua é o nosso instrumento de trabalho e é ela que me trouxe de São Paulo, terra dos bandeirantes, a esta Academia quase centenária.
      Salve a Língua Portuguesa! Salve o Sodalício Acreano!
      Muito obrigado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário