Discurso de Posse
Acadêmica Deise Torres - Cadeira 12
EXMA. SENHORA PRESIDENTE DA ACADEMIA
ACREANA DE LETRAS, DOUTORA LUÍSA GALVÃO LESSA KARLBERG, ILUSTRES MEMBROS DA
MESA, SENHORAS E SENHORES ACADÊMICOS, DEMAIS AUTORIDADES PRESENTES, MINHAS
SENHORAS, MEUS SENHORES, AMIGOS E AMIGAS,
Boa noite!
Nesta
noite tenho a honra de assumir a condição de membro da Academia Acreana de
Letras. Agradeço a capacidade crítica de apreciação das obras literárias de
minha autoria dos acadêmicos que votaram em amparo à minha candidatura,
aceitando-me como sua confreira nesta honrosa Casa, a que pertencem nomes
significativos da Literatura, nossa literatura, e de toda história cultural do
Acre.
Agradeço,
de modo particular, aos amigos e amigas pessoais que, pela amizade que a eles
me liga, me estimularam para que eu me candidatasse a uma vaga desta Douta
Academia – AAL – e, assim, muito me encorajaram a participar dessa concorrida
eleição.
Desse
modo, sobreposta de coragem, optei por candidatar-me e, para a minha surpresa,
fui uma das eleitas; atônita, vi o inalcançável ser alcançado. Nunca havia
sonhado em ocupar lugar num posto de tão grande honradez, mas, enfim, fui
agraciada com esta notável respeitabilidade. É por essa razão que hoje aqui
estou, para celebrar, com todos vocês a minha grande felicidade. E,
impulsionada por esta alegria é que vou seguir e perseguir com novas
perspectivas em minha vida literária para que, desse modo, eu possa galgar
novos degraus, buscando sempre somar com os demais componentes dessa
Instituição. Serei ligada a eles e, ao mesmo tempo, livre! Deixarei que as asas
da poesia me levem até um sidéreo espaço e procurarei inovar e conciliar o
atual com o tradicional, sempre de mãos dadas com os meus pares. Pois, conforme
os versos do meu Patrono, Augusto dos Anjos:
“A
esperança não murcha, ela não cansa.
Também
como ela não sucumbe a Crença,
Vão-se
sonhos nas asas da Descrença,
Voltam
sonhos nas asas da Esperança”.
(Do
soneto “A Esperança”)
Bem,
este é o meu discurso de posse e, como manda a tradição, ele deve falar da
personalidade que me antecedeu nesta Cadeira de número 12 – e falar também do
meu Patrono da mesma cadeira. Trata-se de Augusto do Anjos, poeta
brasileiro, considerado um dos mais críticos de sua época. Nasceu no
Engenho do Pau-d’arco, na Paraíba, em 1884, e faleceu em 1914, com apenas 30
anos de idade, em Leopoldina, MG, onde era
diretor de um grupo escolar. Na casa em
que residiu, durante seus últimos meses de vida, funciona hoje, o Museu Espaço
dos Anjos.
Poeta de inegável valor compôs os primeiros versos
aos sete anos de idade e tornou-se original
pela temática materialista e vocabulário científico. Declarou-se "Cantor
da poesia de tudo que é morto". Sua obra poética está resumida em um
único livro "EU", publicado em 1912 e reeditado com o nome "Eu e
Outras Poesias", em 2013. À Propósito, isso só vem a corroborar que não é
a quantidade de obras que torna uma personalidade em um/uma imortal, mas o
valor e a qualidade de sua obra.
Findas as
palavras sobre o meu Patrono, passarei, agora, a discorrer sobre a
personalidade de minha antecessora. Trata-se da nobre Acadêmica, a Exma. Sra. Iris Célia Cabanellas
Zannini, Professora
e Educadora. Esta é a figura brilhante à quem tenho a honra de suceder. O
núcleo de sua personalidade é a educação, o idealismo da mulher educadora com
grande amor à sua missão.
Iris
Célia nasceu em 03/Julho/1938, em Rio Branco, é Professora, graduada em Letras e diplomada pela Universidade
Federal do Acre.
Em termos
profissionais, o exercício do magistério em sala de aula, a direção de unidades
escolares ou a gestão de instituições vinculadas à educação, constituíram o
cerne de sua contribuição sociocultural ao Estado do Acre.
Do ponto de
vista literário, além de artigos em periódicos especializados na área da
educação, também publicou os seguintes livros: “Fragmentos da Cultura Acreana”
e “Chapeuzinho Verde no Reino Encantado de Penápolis”.
Por
sua consistente formação e por suas qualidades intelectuais é que goza até
hoje, de grande prestígio no meio cultural da sociedade acreana. Prova disso é
que, atualmente, aos 81 anos de idade, ainda continua na
ativa, exercendo a função de Secretária de Estado do Acre, no Conselho Estadual da
Educação.
Esta
Academia Acreana de Letras, embora tenha sido até nos dias atuais, esquecida
pelo poder público, tem sobrevivido aos acontecimentos de toda casta da
sociedade acreana e às transformações do mundo moderno. Mas, ainda assim, com
tantos percalços a serem ultrapassados, a Exma. Senhora Presidente, Dra. Luísa
Karlberg, há três anos, tem conduzido, com êxito, os rumos desta Instituição
que antes tinha feição monocrática, mas hoje mostra-se com outro
aspecto, muito mais democrático, com decisões colegiadas; tendo, portanto,
avançado rumo à modernidade e buscado maior proximidade com o público, em
geral.
É assim que
nós que estamos chegando agora haveremos de querer, uma Academia com feitio de
progresso, crescimento, evolução e estabilidade, para que desse modo ela possa
mover-se com desenvoltura, levando mais cultura aos rincões do Estado do Acre.
Nestes meses
primeiros, convém que tenhamos objetivos de mudança, mas que sejamos prudentes,
conciliadores e sensatos. Interessa que as promessas não sejam de todo,
espaçosas. Tudo deverá vir ao seu tempo, gradativamente, e com mansidão. E
nesse caminho de dedicação e parcimônia da Presidente Prof.ª Dr.ª Luísa Karlberg e de outros ou outras
Presidentes que haverão de lhe suceder, rogamos aos céus que nós continuemos
tendo a proteção de fadas madrinhas, como a que tivemos da Vossa Exma. Sr.ª
Desembargadora Denise Bonfim, que muito tem nos auxiliado e nos
reabilitou para que pudéssemos continuar tendo a honra do uso deste lindo e
histórico espaço cultural do Centro Cultural do Tribunal de Justiça.
A Academia,
que trabalha pelo conhecimento dos fenômenos culturais de seu povo, procurará
ser, como sempre o foi, a guardiã da nossa língua. Caberá, então, a nós, que a
compomos, protegê-la e defendê-la de tudo o mais que não provenha de nascentes
legítimas - entenda-se que defender e proteger não é impor, não é decretar
modelos -, para tanto, necessário se faz que preservemos as obras produzidas
por nossos escritores e poetas.
Pois
bem, a Casa está repleta de amigas, amigos e colegas de todas as camadas
sociais, desta minha querida cidade de Rio Branco; e até de outras cidades do
Estado do Acre. Nossa vida é formada por pequenos, mas muito importantes
fragmentos de amizades que vêm do todo, que é o “amigo, a amiga”. O que seria
de cada um de nós sem as nossas amizades? Amigos são pedaços de nossas vidas.
Como
expressar meu sentimento de apreço e respeito à nossa Presidente Luísa, que por
mais de um mandato, vem conduzindo os rumos da Academia, com muito zelo,
dedicação, carinho e responsabilidade. Como expressar meu sentimento de enorme
carinho a todos os Acadêmicos, Acadêmicas, familiares, amigas e amigos aqui
presentes? Com a palavra gratidão ou simplesmente com o coração? Realmente não
sei, e na dúvida, deixarei aqui expresso um sentimento dúbio de gratidão e
coração. Eu bem sei que uma eleição acadêmica não é um julgamento, é uma
escolha e, como tal, é um desejo de convivência. Esta, não abandonarei jamais!
Eu
estou aqui trazida pelos estímulos de pessoas amigas, conforme já mencionei,
mas estou aqui, principalmente, pela vocação às letras, uma vocação que me
seduz e me encanta, que com rimas transforma palavras em poemas e canções e faz
derreter o mais duro dos corações.
A
Academia para mim era um horizonte muito distante e talvez por isso eu nunca
tenha tido ambição em compor o seu colegiado. Mas, nos últimos tempos, repito,
com seguidos estímulos amigos, fui arrebatada pelo sonho de fazer parte de seu
sodalício. Eis que o sonho se concretizou e como versejou o poeta e escritor
argentino, Jorge Luís Borges, “quem realiza um sonho, constrói uma parcela de
sua própria eternidade”.
Eu
que sou do Estado do Maranhão, cá estou sob a proteção de Deus, nesta longínqua
terra que me deu muitas amizades que se transformaram na extensão de Minh
‘alma. Aqui já vivi muito mais do que o tempo vivido no Maranhão. E, portanto,
mesmo não sendo a minha terra natal, é como se assim o fosse; pois aqui plantei
meu coração, neste torrão, neste meu Acre-doce!
Muito
obrigada!
Rio
Branco, 18 de Novembro de 2019.
Deise
Torres - Cadeira 12
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