12/05/2020

DISCURSO DE POSSE DO ACADÊMICO PROF. DR. EDUARDO DE ARAÚJO CARNEIRO - Cadeira 38



Discurso de Posse
Acadêmico Eduardo de Araújo Carneiro - Cadeira 38

Digníssima Presidente da Academia Acreana de Letras

SENHORAS E SENHORES,
AUTORIDADES,
CONFRADES, AMIGOS
E A TODOS OS PRESENTES
Meu Muito Boa Noite,

Foi com muita alegria e satisfação que recebi a notícia de ter sido eleito como imortal dessa honrosa academia. Por isso, quero, desde já, agradecer publicamente àqueles que me dignificaram com os seus respectivos votos, em especial a Professora Dra. Maria José Bezerra, minha patrocinadora, a quem coube a missão de me indicar ao Sodalício. Quero também estender os meus agradecimentos a todos os confrades que, mesmo não tendo votado em mim, estão aqui presentes para me acolher nessa cerimônia de posse.
Na minha vida, tudo parece acontecer de maneira bem natural. Há 15 anos eu nunca me imaginaria um professor universitário, nem um escritor, nem um editor de livros, nem um doutor, muito menos um “imortal”. Há 15 anos eu era mais um policial militar à serviço da manutenção da ordem pública. Mas a minha grande virtude foi nunca ter parado de estudar. O que me faltou na escola pública, onde sempre estudei, eu ia buscar nos livros por esforço próprio. E foi dessa forma que adotei a Cultura do Livro como estilo de vida. Abdiquei das “festinhas e baladas” de convites fáceis como é para qualquer jovem e, desde cedo, dediquei-me aos livros, mesmo vindo de uma família cujos pais eram semianalfabetos.
A dedicação às leituras acabou me afastando do convívio social e muito dos meus amigos passaram a dizer que havia me tornado “um ser um tanto antissocial”. Mas a leitura é uma atividade de caráter individual: eu tive que pagar o preço. Com o tempo, valeu em mim o provérbio: “quem muito lê um dia se depara com a vontade de escrever”. Com 21 anos escrevi meu primeiro livro “O Perigo da Apostasia” ainda por ser publicado, que espelhava bem o jovem religioso egresso do curso de Teologia. Passei a escrever artigos para jornais até ser colunista durante meses em um jornal local. Hoje, aos 38 anos, tenho 5 livros publicados e mais três em fase final de redação. Apesar das minhas limitações, de uma fase difícil pelo qual venho passando em minha vida particular, ainda consegui colaborar com alguns autores locais, alguns dos quais presentes nessa solenidade, editorando seus respectivos livros. Ao todo já foram mais de 30 livros editorados em menos de 1 ano, de modo que eu acho que serei lembrado no futuro mais como editor do que como escritor propriamente dito. Se assim o for, ficarei feliz com isso.
Todos nós da AAL estamos imersos na cultura do livro, mesmo sem saber. Essa cultura não se restringe apenas à fomentação do hábito da leitura. É preciso promover e valorizar todo o processo que envolve a produção e o consumo do livro. Nesse processo que o ESCRITOR assume um papel fundamental. A biblioteca, templo do livro, também.  E eu como editor estou na base, como um parteiro que ajuda a nascer um filho alheio.
O poder público deveria ser o maior promotor da cultura do livro, no entanto, em nosso Estado, as Fundações de Cultura estão sucateadas e inoperantes. Mas nem mesmo a Secretaria de Estado de Educação tem se atentado para isso. Na minha opinião, os estabelecimentos de ensino deveriam estar comprometidos com a “articização do escritor” e a “manumentalização das bibliotecas”. Ora, o que é isso afinal?
Valorizar a cultura do livro é, acima de tudo, adotar uma política de ensino que trate o escritor como celebridade, como um artista. (Torná-lo notório. Engrandecê-lo, enobrecê-lo, evidenciando-o nas mídias). Isso porque valorizar a cultura do livro é tratar as bibliotecas como um monumento. Um local de apreço, em as pessoas se sintam atraídas a apreciar a beleza estética das curvas do conhecimento.
Afinal, se escrever fosse fácil, a comunidade letrada seria composta por escritores. Porém, o máximo que se consegue, mesmo após terminar uma faculdade ou até mesmo um doutorado, é se tornar AUTOR de uma monografia ou tese. E vocês sabem que há uma diferença muito grande em ser autor e escritor. Então vamos homenagear os com as devidas honras. 
No entanto, falta CULTURA DO LIVRO mesmo em estabelecimentos que deveria sobejá-la. Vou citar apenas o caso da Universidade Federal do Acre:
- Eventos como este da posse de dois imortais não estão sendo prestigiados por representantes da IFES, mesmo tendo um dos seus funcionários agraciados com a imortalidade literária;
- Biblioteca e Editora sucateados;
- Coisas escabrosas acontecem, por exemplo, na FICHA DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DOCENTE temos:
- LIVROS publicados por editoras de circulação regional = 0,6 pts
- Revisão de um documento institucional da UFAC = 0,3 pts
- Editoração de livro = 0,0 pts
- Cargo em comissão em pró-reitoria = 6 pts

 Vejam que há uma pedagogia interna na UFAC de valorizar aquele que assume cargos técnicos em vez de valorizar aquele que escreve livros ou ajuda outro a publicar, como é o caso do editor.
Bem, assumo a cadeira nº 38, que tem por PATRONO Plácido de Castro e como meu antecessor Jarbas Passarinho. Pelo ritual do Sodalício, o MOMENTO AGORA É DE REVERÊNCIA. Como novo imortal, teria que, neste momento, reverenciar e destacar as virtudes do meu Patrono e do meu Antecessor. No entanto, como pesquisador que sou, após consultar o patrimoniada literário deles, me dei conta que se tornaram "IMORTAIS" mas por conta da atuação política que tiveram do que propriamente de seus dotes na arte da escrita.
Mas eu tentei manter-me em uma visão ACREANOCÊNTRICA e, numa leitura vaidosa dos meus antecessores, destacar, meio que usando uma “lupa” suas qualidades no campo da literatura. No entanto, como historiador que sou, tenho lentes “anti-epopeicas” e acabo desacreanizando tudo.
       PLÁCIDO DE CASTRO (1873-1908) - Por ironia do destino assentar-me-ei na Cadeira de N° 38, cujo Patrono é nada menos que José Plácido de Castro. Digo ironia, pois nos meus livros o militar recebe um devido julgamento histórico desapaixonado de acreanismo. Portanto, da minha boca não receberá elogios. Nem como escritor, nem como pessoa.
JARBAS PASSARINHO (1920-2016) - Xapuriense, nascido em janeiro de 1920, no entanto, pouco contato teve com o Acre, uma vez que desde os três anos foi morar no Pará. Tornou-se um oficial militar, essa era a sua profissão. Nos tempos da Ditadura Militar de 1964, se tornou político. Foi um dos principais porta-vozes da Ditadura Militar no Estado do Pará, indicado como governador do Pará (1964-66).
Menos conhecida é sua atividade como escritor e intelectual: em 1949, ganhou prêmio de concurso da Prefeitura de Belo Horizonte com o conto “Um Viúvo Solteiro”. Em 1959, com o romance “Terra Encharcada”, recebeu da Academia Paraense de Letras o prêmio Samuel Wallace Mac Dowell.
Em maio de 1991, lançou “Na Planície”, o primeiro volume de suas memórias. Em 1996, o conjunto das memórias foi publicado com o título “Um Híbrido Fértil”. Autor de outras obras, como “Amazônia, o Desafio dos Trópicos” (1971) e “Liderança Militar” (1987). Em 1967-1969 foi Ministro do Trabalho. Atuou na pior fase da Ditadura (Mais de 100 sindicalistas foram destituídos).
Quando COSTA E SILVA propôs o famigerado Ato Institucional nº 5, em 1968, como Ministro, ele foi um dos que o aprovou.
De 1969 a 1974 foi Ministro da Educação. (MOBRAL e UFAC)
De 1981-83, Presidente do Senado Federal.
De 1983 a 85, foi Ministro da Previdência Social.
De 1990-1992, Ministro da Justiça (Collor)
1967-83, Senador pelo Pará.
Tornou-se articulista do Estado de S. Paulo e ficou famoso por eleger o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) como alvo de suas críticas. Enfim, foi um homem cuja importância política excedeu à literária.
EPÍLOGO
Para finalizar, quero dedicar o meu ingresso nessa honrosa Academia à minha mãe, Helena de Araújo Carneiro, uma niteroiense (RJ) que residiu no Acre por mais de 15 anos e que veio a falecer, precocemente, por conta de um diagnóstico errado dado em um hospital público de Rio Branco. A essa mulher dedico o meu ingresso, uma analfabeta que soube, do jeito dela, ensinar os seus filhos a se dedicarem aos estudos, de modo que um virou professor universitário, outra enfermeira e outra médica. Que fique registrado nos anais desta Academia o nome dela, para que seja honrada in memoriam, já que em vida, foi somente mais uma anônima residente na periferia de Rio Branco.
Encerro o meu discurso declamando um poema de minha autoria, que foi publicado no meu livro intitulado POESIAS NOTURNAS, que seria lançado aqui, neste evento, caso não tivesse ocorrido alguns contratempos. O poema que vou declamar é dedicado a pessoa mais importante da minha vida, a minha filha Sarah Cristina.

Oh, minha pequenina,
Papai sempre vai te amar,
Ao teu lado,
Continuamente vou estar,
E entre os meus braços,
Eternamente iremos brincar.

E mesmo quando a velhice me assaltar,
E o meu vigor me abandonar,
Ao ponto de o meu corpo
Não conseguir sustentar,
O meu espírito há de me renovar.

A tua cabeça, em meu seio irás reclinar,
Para dos meus lábios os teu ouvido escutar,
Pois em versos irei declamar:

Minha primogênita,
Comigo podes contar,
Pois neste mundo nada vai nos separar,
E quando para os teus braços eu não mais voltar,
E a minha trêmula voz em um suspiro falhar,
E ao pó da terra o meu corpo tombar,
As minhas lembranças te farão dizer com fervor:
- O meu pai sempre foi o meu primeiro amor.


Eternamente seu pai,
Eduardo de Araújo Carneiro,

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