Apreciação crítica - Por Luísa Karlberg
O conto é uma obra de ficção, um texto ficcional.
Cria um universo de seres e acontecimentos de ficção, de fantasia ou
imaginação. Como todos os textos de ficção, o conto apresenta um narrador,
personagens, ponto de vista e enredo.
Conto é uma narrativa curta e que se diferencia dos
romances não apenas pelo tamanho, mas também pela sua estrutura: há poucas
personagens, nunca analisadas profundamente; há acontecimentos breves, sem
grandes complicações de enredo; e há apenas um clímax, no qual a tensão da
história atinge seu auge.
No conto, tempo e espaço são elementos secundários,
podendo até não existir. Além disso, os próprios acontecimentos podem ser
dispensáveis. Há, por exemplo, contos de Machado de Assis nos quais,
simplesmente, não tem nada que acontece. O essencial está no ar, na atmosfera,
na forma de narrar, no estilo.
Por outro lado, o conto é um gênero literário que
apresenta uma grande flexibilidade, podendo se aproximar da poesia e da
crônica. Os historiadores afirmam que os ancestrais do conto são o mito, a
lenda, a parábola, o conto de fadas e mesmo a anedota.
Para analisar um conto o leitor deverá está atento a
estrutura da obra, à composição, a organização interna. Assim, nesta obra de
Cecília Ugalde, fui observar os aspectos da composição dos contos. Nesse fazer,
algumas perguntas são muito importantes:
Quem? O que? Quando? Onde? Como?...
Neste livro de Cecília, "A OUTRA FACE DA COLHEITA", temos 22 contos. Todos
fabulosos, “A outra face da colheita – contos e recontos”, um título que diz
muito do universo da autora, vida no interior, vida urbana e, também, as
experiência vividas: realizações, perdas, perigos, a vida moderna, as lendas, a
cultura, os costumes, tradições, enfim, o modus vivendi regional, onde Cecília
mergulha no mundo conhecido em:
“Relatos de
um moribundo” – onde a narrativa em primeira pessoa, a Daiana é a princesa e
ele, o personagem inquietante, que estava enfermo – cujo nome a autora não
revela – pode ser quem o leitor desejar. Esse conto surpreende pela narrativa
palpitante, emotiva, amorosa, humana, plena mesmo de sentimentos. Uma revelação
na arte de tecer o texto. Fabuloso.
“Observação” – situa o conto no cotidiano da vida
moderna, quando a saúde é um caos e os melhores cuidados são de um paciente com
o outro. Triste realidade brasileira. Aqui, como em “relatos de um moribundo”,
há o perigo de perder a vida, a autora ambienta o conto em um hospital,
iniciando pela emergência. O final é surpreendente, de uma criatividade
incomum.
“Cavalo de tróia” – tempos antigos e tempos modernos
– os namorados, as brigas, cartas. Depois o avião, aeroportos, internet --- a vida
moderna e os novos hábitos. Ela consegue unir esses laços.
“O coveiro” – conto ambientado no cemitério, diálogo
entre coveiro e um sujeito que acabara de acordar. Saíra de casa de bicicleta
e, no meio do caminho Damião não sabia
como teria ido parar no cemitério. Bom, ao final Damião parece que havia bebido
muito e foi para naquele local para fugir do sermão da mulher. Vejam que trama
incrível a autora montou nesse belíssimo conto, para, ao final, mostrar as
inscrições na cruz de Damião, ali no cemitério. Leiam para descobrir como ela
conseguiu tecer esse conto.
“Último Natal” – conto urbano, quando a autora
conclui o conto com a imagem do trenó, símbolo do Natal, que carrega o papel
Noel e também os sonhos de todos nós. Fabuloso conto.
Não poderei revelar o livro aos senhores e senhoras,
mas vos digo:
Cecília é contista de primeira grandeza. Uma
revelação para a Academia Acreana de Letras e para o Acre. Nós necessitamos,
muito, de contistas por algumas razões:
1º) O Conto é um gênero textual marcado pela de
narrativa curta, escrita em prosa e de menor complexidade em relação aos
romances.
2º) A origem dos contos está relacionada à tradição
de contar histórias de forma verbal. Quando transcritas, essas mesmas histórias
(que geralmente seguem uma trama única) resultam em uma narrativa concisa que
pode ser lida em pouquíssimo tempo, como poderão se deleitar com este livro de
Cecília Ugalde;
3º) É bom dizer que esse termo conto pode ser
traduzido para a língua inglesa como "tale", um tipo de texto curto
que aborda, necessariamente, temas épicos, folclóricos ou fantasiosos, como faz
com arte a nossa imortal Cecília Ugalde. Por esse motivo, o conceito de conto
permaneceu, por muito tempo, relacionado a estes temas.
4º) Com o surgimento de novas técnicas e estilos de
escrita, o termo “CONTO” adquiriu um sentido mais amplo que pode ser expresso
na língua inglesa como "short story", um texto cujos únicos traços
obrigatórios são a curta extensão e a escrita em prosa.
O fantástico, que achei nesta obra, é a narrativa
inusitada, do antigo e do moderno, da cidade e do campo, da vida, do sonho, da
morte. A autora é pessoa de muita leitura, conhece a origem do folclore francês
do século XVII, acompanhou os irmãos Grimm que escreveram Branca de Neve e os
sete anões. Ela faz diferente, mas não menos belo, porquanto ambienta as
narrativas neste século XXI, e ao remontar ao campo, nos conduz ao passado,
como a dizer que o século XXI nos deve muito. Deve-nos saúde, educação,
habitação, lazer, mas nos deve, sobretudo, a vida que cada um de nós sonha.
Os tipos de contos que existem são: contos de fadas,
contos de encantamento, contos maravilhosos, contos de enigma ou mistério e contos
jocosos. Leiam e descubram os tipos de contos que escreve Cecília Ugalde. Terá
criado outro tipo de conto? Creio que viaja entre o maravilhoso, o mistério da
vida e o jocoso para tecer um modelo moderno para este século XXI. Isso porque
a criação literária bebe na fonte das lembranças e experiências pessoais. As
passagens pitorescas, as pessoas, as recordações e saudades de um tempo, de um
lugar, de alguém podem se tornar história, romance, conto, poema, prosa, verso.
A história da literatura é repleta de exemplos que confirmam essa ideia, como
aqui demonstra a contista Cecília Ugalde.
Obrigada, confreira Cecília, esta obra vai ganhar
mundo, ser fonte de Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado. Mas irá,
sobretudo, fomentar a leitura em nossa comunidade.
Saudações da Academia Acreana de Letras.
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