02/05/2020

ELOGIO SOLENE (PANEGÍRICO) AO IMORTAL NAYLOR GEORGE PIRES



ELOGIO SOLENE A NAYLOR GEORGE PIRES - SAUDADE ETERNA DO SODALÍCIO DA ACADEMIA ACREANA DE LETRAS

Prof.ª Dr.ª Luísa Karlberg
Presidente da AAL
APRESENTAÇÃO  - A ACADEMIA ACREANA DE LETRAS – AAL com profundo pesar, realiza o Panegírico do ilustre CONFRADE EMÉRITO NAYLOR GEORGE PIRES, que deixa vacante a cadeira 26 da AAL.
Um panegírico era, originalmente, na Grécia Antiga, o discurso de caráter encomiástico ou laudatório que era pronunciado em grandes reuniões festivas do povo. Na Roma Antiga, denominava-se "panegírico" o discurso que os cônsules romanos pronunciavam diante do imperador, depois de serem eleitos, manifestando-lhe seu respeito e admiração.Hoje é uma saudação, uma homenagem pós-morte. Portanto, hoje, fazemos um hino de louvor e saudade a Naylor George Pires
Diz Costa (2013, in Bachelard, em A poética do espaço, 1986, p.42) “que os escritores nos dão seus cofres para ler. Ora, se os cofres funcionam, simbolicamente, como um dos órgãos da vida psicológica, a franquia deles para o deleite do leitor significaria a abertura de uma intimidade”. Em parte, faremos essa pesada tarefa. Salve Naylor Goerge Pires, os agradecimentos do Sodalício Acreano por sua vida dedicada à cultura, as artes, aos livros, ao jornalismo!

NAYLOR GEORGE PIRES - 12/03/1956 - 18/12/2019 – CADEIRA Nº 26 E MEMBRO EMÉRITO DA ACADEMIA ACREANA DE LETRAS. 

I – ORIGENS - Nascido no Seringal Iracema, Xapuri, no rio Acre, no dia 12 de março de 1956, filho de Mizael Montizuma e Raimunda Pires. Saiu bem jovem do seringal para a cidade, segundo ele, ainda sem conhecer o gelo, vindo morar no Bairro Quinze, na provincial Rio Branco dos anos 60. Naylor George Pires é membro de uma família tradicional de reconhecidos nomes de nossa educação, como os irmãos Montizuma, ou da cultura como seu primo, o músico João Donato.
Durante toda sua infância e adolescência, morou no Bairro Quinze, um dos mais antigos bairros da cidade, e o local de moradia de segmentos diferenciados étnico, cultural e socialmente. É o lugar que imortalizou com sua obra, a Décima Quinta Lembrança, livro que sem dúvida é um dos trabalhos literários mais expressivos da década de 70.
Naylor, desde muito jovem, se destacou pela inteligência, inquietude e criatividade, qualidades que entre outras, o tornaram conhecido em toda a cidade. Tendo participado ativamente da grande ebulição das artes que foi na década de 70, na cidade de Rio Branco, destacando-se, inicialmente, no Teatro e, em seguida, após a conclusão do curso de História, pela UFAC, torna-se, com seu aguçado senso crítico, jornalista, escritor e poeta, antes de tudo, com uma forte consciência histórico-social e política. Síntese, talvez, do tempo vivido no Bairro Quinze. Tinha excelente formação universitária, bom escritor, domínio correto do idioma pátrio. Brincava com as palavras e com elas também fazia humor bastante criativo. Um homem de rara inteligência e cultura. Escreveu seis livros e mais de 10.000 artigos. Uma produção que o fez jornalista respeitável e respeitado, em decorrência, ora das importantes narrativas e registros sobre nossa história e nossa cultura, ora pela importante expressão literária, onde exprime, com vigor, revolta, desencanto e, sobretudo, uma agressiva sinceridade que é parte reconhecida de sua personalidade.
O imortal, poeta e escritor Naylor George, segundo a confreira Prof.ª Dr.ª Maria José Bezerra, sua biógrafa, as experiências na Universidade o ajudaram a desenvolver sua potencialidade poética, dentre as quais citamos: Curso de formação jornalística e Curso de Metodologia de Pesquisa Literária. Representou o Estado do Acre no Encontro Norte-Nordeste de Escritores, realizado em Manaus-AM, pela União Brasileira de Escritores do Amazonas.
Também, participou de vários cursos de extensão e seminários, desde a época de universitário. Naylor George se fez atuando em diferentes expressões das Letras e das Artes, dentro e fora da UFAC, inclusive atuando no Teatro Amador, para dar livre curso ao seu potencial. Prestou serviços à educação em nossa região, inclusive como representante do Estado do Acre, no Encontro Nacional de Teatro Amador, realizado, à época, em Goiânia.
Com bastante mérito é membro da Academia Acreana de Letras, desde 2005. Em decorrência, ora das importantes narrativas e registros sobre nossa história e nossa cultura, ora pela importante expressão literária, onde exprime, com vigor, revolta, desencanto e, sobretudo, uma agressiva sinceridade que é parte reconhecida de sua personalidade.
Em 1981, lançou seu primeiro livro intitulado “Veredas Mundanas”, centrado em temas amazônicos. E juntamente com outros autores, Naylor George representou o Acre em Osasco – SP, com a peça teatral “Os filhos da Mata”. Em 1982, torna-se responsável pela coluna “Reflexo Cultural”, no jornal acreano “O jornal”. Posteriormente, participa, na condição de ator e diretor, da peça “A grilagem do cabeça”. Também inicia a apresentação de programas de cunho cultural: “Coisas Nossas” e “Comunicação Artesanal” na Rádio “Novo Andirá”.
Em 1982, com apoio da Fundação Cultural do Acre, publica “A Décima Quinta Lembrança”, e, ainda representa os escritores acreanos no Segundo Encontro Brasileiro de Escritores, realizado em São Paulo, Capital. Foi também, Coordenador local do Projeto Pixinguinha, em 1986, além de editor cultural do jornal “O Rio Branco”. Lançou também o livro “Encontro de Paralelas”.
Ainda, segundo a excelente biografia da Professora e Doutora Maria José, numa análise de sua obra, ao longo dos últimos anos, texto e contexto se articulam dialeticamente, numa totalidade em que a criação deste é marcada pela experiência social de ser do “Quinze”, espaço de Rio Branco, que desde a gênese da cidade é caracterizado como o lócus de escritores, poetas, boêmios, bares, casas noturnas de espetáculos. Transgredir, na acepção profunda e múltipla, é a palavra que personifica esse filho das barrancas do Rio Acre.
A obra lançada, “as outras partes do nada”, nas palavras do acadêmico Dalmir Ferreira: “se constitui numa aquarela de fragmentos da realidade, recortados e justapostos, dialeticamente. O nada é tudo...A partir desse “olhar” se compreende que ninguém precisa ser nada para ser alguma coisa. Poesia e prosa, sem contraponto”.
Um excelente trabalho, complexo e simples a um só tempo, em que o autor propõe a nova geração, dispensando materiais e técnicas modernas, os diversos olhares e as diversas possibilidades de que disponibilizam convívio com a cultura no dia a dia, um exercício crítico, para quem queira produzir poesia, música ou qualquer expressão artística que pretenda. Há, a meu ver, a maior homenagem desse velho autor e parceiro da cultura, é no, entanto, prestada aos seus velhos companheiros de caminhada pela arte, inscrita nas entrelinhas, nas outras partes do nada...”O meu filho Naylor é minha continuidade nesse plano material, visão de anos luz, cabeça de Albert Einstein, um bom menino, meu terceiro olho”.

II – VIDA E TRABALHO - A morte de Naylor repercutiu na imprensa acreana. Conhecido por sua veia poética, Naylor George militou na imprensa acreana a maior parte de sua vida. Ele publicou mais de 15 mil textos, em variadas formas e com diferentes conteúdos, durante sua carreira.  Colunista, articulista, jornalista e repórter do jornal O RIO BRANCO, por cerca de 30 anos. Naylor é considerado, pelos próprios colegas, como o maior jornalista cultural do Acre. Por vários anos, ele influenciou e apoiou outros artistas, na capital e interior do Acre. Na década de 80, ele foi um dos fundadores da Associação dos Jornalistas do Acre (AJA), que mais tarde, em 1988, foi transformada em Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Acre (Sinjac).  No governo, Joaquim Macedo (1979-1982), ela ajudou a instituir a Fundação Cultural, que em 2000, deu origem a Fundação Elias Mansour, em homenagem ao ex-chefe da Casa Civil. Foi Editor de Cultura no Jornal o Rio Branco e também no jornal “Página 20”. Para Naylor, seu grande mestre foi José Chalub Leite, que esteve à frente do jornal “O Rio Branco”, entre os anos de 1969 e 1980, quando, então, Naylor, iniciava sua carreira. Foi grande apoiador, no Acre, do Projeto Pixinguinha, criado em 1997 pela Funarte, em parceira com as Secretarias de Cultura Municipais e Estaduais. Interrompido desde 1997 por falta de verba. Foi retomado em 2004 e atualmente é favorecido pela  Lei Rouanet, sendo a multinacional Petrobrás a maior patrocinadora. Nesse projeto Naylor se envolveu bastante, aqui no Acre, projetou músicos, artistas plásticos, escritores, escultores, jornalistas culturais e outras artes. Sobre sua literatura, ele” acredita que suas obras sejam uma referência para aqueles que têm a intenção de conhecer um pouco a história do Acre”. “Ele [Chalub Leite] foi meu grande mentor e hoje quem quiser saber um pouco sobre o Acre, os detalhes, a linguagem peculiar do nosso lugar, tem que ler Naylor George e futuramente também George Naylor. Meu filho foi uma forma de continuar o meu trabalho e ele escreve muito bem, tenho orgulho dos textos dele”.
Os textos de Naylor, nos jornais do Acre, davam apoio e divulgação de muitos artistas e movimentos culturais, tais como: O teatro de Betho Rocha, As matas de Matias, O filme de Silvio Margarido, A performance de Maués, As telas de Hélio Melo, Os violões de Dirciney, As crônicas de Toinho Alves, A precisão de Fátima Almeida, A poesia de Bartholomeu, A prosa de Océlio, O maestro Sandoval dos Anjos, O Coral de Elais Meira Eluan, A fanfarra de José Alberto, As escolas de samba de João, A música de Damião, Os causos de José Chalub, As pinturas de Danilo, As memórias de Naylor, A floresta de Ivan Campos,O cinema de Adalberto Queriroz, Toni Van, Teixeirinha do Acre (João Batista Marques de Assunção). As estripulias do palhaço Tenorino, As criações de Jorge Carlos, A xilogravura de Dalmir Ferreira, As canções de Keilah, A sanfona de Nilton, O regional de Bararú, Os bárbaros, Os Mugs, A voz de Nilda, Os contos de Leila, A miscelânea musical de J. Conde, A poesia de Juvenal Antunes, A cidade se diverte de Chico, As estórias de Gregório Filho, O Cine Rio Branco, O Cine Acre, O teatro de arena do SESC, O Casarão, O Jirau, O violão de Elias, A guitarra de Rubão, Os poemas de Manoel, As esportivas de Dandão, As lendologias de Clenilson, A vida musical de Pia Vila, A curta obra musical de Beto Rocha, As letras de Felipe, O cine teatro Recreio, A bateria elétrica de Hermógenes, O contrabaixo paciente de Clevisson, Os improvisos teatrais de Ivan, As danças de Regina, O canto de Heloy de Castro, A composição de Sérgio Souto, Os quadros de Bab França, Os ritmos de Narciso, As pinturas de Rivas Plata, As pastorinhas da Guajá, As aventuras de Gilberto Trotamundo.

III – LITERATURA - Décima Quinta Lembrança (duas edições); Outra Parte do Nada; Veredas Mundanas; Encontro das Paralelas; Notícia de Jornal; Contra Fluxo (inédita); mais de 10.000 artigos jornalísticos, peças de teatro e musicais. Sua estreia no mundo da escrita aconteceu em 1981, quando lançou “Veredas Mundanas”. No ano seguinte representou o Acre em Osasco – SP, com a peça teatral “Os filhos da Mata”. Torna-se responsável pela coluna “Reflexo Cultural”, no jornal acreano “O jornal” e segue participando do teatro, como ator e diretor da peça “A grilagem do cabeça”. Inicia no rádio com os programas “Coisas Nossas” e “Comunicação Artesanal”, na rádio Novo Andirá.
Do que li posso dizer com Clarice Lispector: “Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo entendimento”. Ou um poema de Fernando Sabino: “De Tudo Ficaram Três Coisas/A certeza de que estamos começando/A certeza de que é preciso continuar/A certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar/Fazer da interrupção um caminho novo/Fazer da queda um passo de dança/Do medo uma escola/Do sonho uma ponte/Da procura um encontro, E assim terá valido a pena existir!” Esses versos traduzem bem nosso imortal, poeta imortal Emérito, que deixa, em suas obras, lições preciosas de sabedoria, vida e, sobretudo, imensa saudade! Essa saudade que calcula as horas por meses, os dias por anos, essa ausência se faz uma eternidade.
Nas suas obras, Naylor George deixa vazar inquietações cotidianas e vive angústias em seu processo criativo. Logo, busca transformar em desafios criativos, como ensina Freud (1907-1908), o sofrimento em prazer e o faz por meio da sublimação, por meio de uma travessia poética, de uma ponte que liga o imaginário do escritor com o imaginário do leitor. Nesse particular, mergulha – quem sabe – na ânsia que sentiu no passado, lá no Seringal, com a inquietação da cidade, do futuro que se faz em presentes nessa veia poética de um tempo que é para sempre agora, início sem fim, tempo de escrita.  Aqui, segundo Johann Goethe, “Uma palavra escrita é semelhante a uma pérola”. E Naylor sabia bem escolher as palavras, assim como transitar entre elite e periferia.
Em Naylor, a deusa-mãe da Poesia e da Memória entrega Eros aos braços de Zeus, entrega à vida aos braços das letras, berço-histórico que, na literatura, faz-se presente e torna-se uma realidade de sua imortalidade. Dizemos isso porquanto sua literatura espelha um escritor criativo em sonhos e devaneios. Nesse particular, Freud já queria saber de que fontes esse estranho ser, o escritor criativo, retira seu material, e como consegue impressionar-nos e despertar-nos emoções das quais talvez nem nos julgássemos capazes. Naylor George faz isso como ninguém, somente Freud para explicar, eu não consigo. Talvez os nobres acadêmicos possam dizer mais e melhor do que eu. Charles Josephe Ramus, historiador inglês, diz que “Todo o segredo da arte é, talvez, saber ordenar as emoções desordenadas, mas ordená-las de tal modo que se faça sentir ainda melhor a desordem”. E a literatura também é isso, a Literatura é arte. Somente o escrito, com propósito ou a intuição dessa arte de invenção e de composição constitui a literatura.  Os livros de Naylor são sinônimos de boas letras, conforme a vernácula noção clássica de literatura, que é a melhor expressão de nós mesmos, claramente mostra que somos assim conforme Veríssimo (1916; 1963). A literatura não é um modo de libertar a emoção, mas uma fuga da emoção; não é uma expressão da própria personalidade, mas, talvez um recurso para uma fuga da personalidade ou uma revelação, como se observa na literatura de Naylor George. A obra “As outras partes do nada” é uma aquarela de fragmentos da realidade recortados, segundo definição do autor. Lendo Naylor, compreendemos porque Jean Paul (1999) afirma que ninguém é escritor por haver decidido dizer certas coisas, mas por haver decidido dizê-las de determinado modo. E o "estilo", decerto, é o que determina o valor da prosa. A literatura de Naylor revela o estilo polemista, igualmente de Sartre, com tal força que coloca o leitor em contato com um escritor que efetivamente exerce a sua liberdade de ter opiniões. Coerente com as suas ideias, escreve para revelar-se como homem em situação diante do mundo. É um belo legado, de preciosas lições e visões de mundo.

IV – DESCENDESTES - NAYLOR GEORGE E O FILHO GEORGE NAYLOR – “Eu sou o texto do contexto, a parte do todo. Sobre George filho, disse certa vez, o seguinte: “Ele é o contexto do texto, o todo na parte”. Afirmava que George parecia lhe completar e vice-versa. E era bem verdade, sua afirmativa, posto que durante uma entrevista era possível observar essa quase simbiose entre pai e filho.
NAYLOR e TAYGUARA FELIPE – O jurista que olhava o pai, sempre atento e dedicado, um temperamento calmo, era um ponto de amor e equilíbrio. Mas não pairou aí o nosso Imortal Emérito: deixa um vazio nos corações de João Moreno, Sidarta Dantas, Nanaiua Souza, Karima Pires.

V – AMIGOS E PROFESSORA - “O que eu mais gostava nele é que onde ele estivesse, os amigos estavam sempre por perto. Às vezes, ele acabava brigando com alguns mas logo refazia as amizades. Ele era um homem assim, sem mágoas”, disse Nazira Mamede, a comerciante do Novo Mercado Velho com a qual o poeta se relacionava como cliente desde os anos 80. “Era muito bom pagador”, elogia dona Nazira, que lhe vendia cerveja, como a muitos outros de seus clientes, na base do “caderno”, para pagar depois. “No dia do pagamento, o primeiro freguês a chegar na Nazira ou lá na dona Ray era ele”, diz o comerciante Antônio Augusto de Melo, dono da “Banca do Pelé”, no Centro de Rio Branco, um de seus muitos parceiros de boemia. “Era uma figura, às vezes encrenqueiro, implicando com quem falasse errado o português, e às vezes de coração transbordante, cheio de carinho”, acrescenta Pelé.
“Era um excelente amigo, bom papo, inteligente, culto. Enfim, um intelectual que se preocupava com a arte e com a cultura do nosso Estado”, disse outro de seus amigos e companheiro de mesa e copo, o advogado Ivo Araújo, professor aposentado da Universidade Federal do Acre (UFAC). “Polêmico, às vezes, mas uma pessoa que vai nos fazer muita falta”. Cera feita, em um evento cultural, se encontravam várias personalidades que se intitulavam membro de Academias no Acre. Naylor, após ouvir a fala de alguns, levantou-se indignado e disse: “A única academia que existe no Acre é a Academia Acreana de Letras. As demais são genéricas”(presente Enilson Amorim). No mesmo dia, quando um escritor soberbamente gabava que a língua portuguesa veio de Portugal, ironicamente Naylor retrucou: “Engano seu, todas as línguas latinas vieram do latim”.
Dr.ª Maria José Bezerra (confreira e ex-professora no Curso de História na UFAC): “No curso de história ele era atento, polêmico, questionador. Quando o professor não o atendia nos questionamentos ele o colocava fora de sala de aula. Eu fui a única que ele nunca brigou, fomos sempre amigos respeitosos. Era muito inteligente, um espírito inquietante, arguidor, todavia gentil, amoroso”.

VI DESPEDIDA - O vigoroso coração de Naylor insistiu por 63 anos, resistiu o quanto pôde no objetivo produtivo, assim como será sua vasta produção literária, fisicamente imortal, busca de imortalidade. Sei, sabemos, os que acreditam na permanência do espírito, que seu repouso final não representa a vitória da morte. Poderíamos perguntar até neste momento, nesta Sessão de Louvor, repetindo Paulo na Epístola aos Coríntios: Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? – Naylor continua entre nós, com seus pensamentos, suas palavras inquietantes e desbravadoras. Os seus livros, de repercussão regional, uma verdadeira acreanidade, jamais escondem a influência das suas raízes ribeirinhas, de alma inquieta e ansiosa de conhecimentos. Ele se destacava, com carisma especial, nos primorosos textos que escrevia. Nessa sua escrita está vazado que ninguém poderá negar-lhe as raízes, a ansiedade e o espírito amante da arte e da cultura. Assim, na escritura, está muito claro que Vita mutatur, non tollitur, a vida é mudada, mas não tolhida.
É num claustro de paz que Naylor George se encontra agora e donde virá sempre para junto dos seus confrades e confreiras, pois é verdade que ele amava a Academia Acreana de Letras, e tudo que por ela fazia ERA O MELHOR!
Escrever, escrever... escrever... Além de produzir trabalhos ficcionais ou não, o Naylor também falava sobre o ofício e a arte da escrita, muitas vezes ensinando os passos para escrever determinados gêneros ou como ser um bom escritor e sobre a importância da escrita, sua motivação e propósito.
Recordemos que também faz parte do ofício do escritor tecer críticas literárias sobre trabalhos de outros escritores para jornais, revistas ou periódicos. Naylor fazia isso, se importava com os colegas jornalistas. Para ele, os escritores produzem material em variados gêneros literários, ficcionais ou não ficcionais, através de mídias diversas, com uso ocasional de ilustrações, gráficos ou links, mas tudo deveria ser escrito no bom estilo, não importava se fosse das letras, do teatro, da música, deveria ser dedicado, bom. Caso recente, como o de Bob Dylan, que ganhou o Prêmio Nobel da Literatura, mostra, como via Naylor, que a arte da escrita pode ser expressa na forma de músicas e assim ser reconhecida como literatura e no cinema.
Nesse particular, trago a lume Montaigne dizendo que toda a filosofia é aprender a morrer, advertindo-nos de que pouco a pouco vamos percebendo que a aventura da vida não termina na morte. A vida daqueles que cuidamos e que desaparecem se prolonga em nossas vidas. Levamos até o fim as recordações dos que conosco morreram e, deste modo, continuam vivos nas nossas lembranças, nos nossos corações.
As lições que colhi da literatura de Naylor e que passo ao Sodalício Acreano:

     i.     Para que haja uma mudança, você deve estar aberto a novas ideias e perspectivas das coisas que acontecem ao nosso redor;

        ii.     Seja você mesmo; não o que querem que você seja;
      iii.     O lazer também é importante para que possamos alcançar nossos objetivos;
      iv.     Motivar as pessoas que nos cercam é escalar o nosso exército para a transformação por um bem maior;
        v.     Ser autêntico, leal, nunca utilizar inverdades;
      vi.     Amar a Academia e procurar fazer dela uma instituição modelar;
    vii.     Ter coragem para conviver com o diverso, aprender e construir com ele.
  viii.     Aprender com Naylor, assim como fez Vicent van Gogh: Todo dia é uma oportunidade diferente para aprendermos novas coisas. Apesar das aparências, tudo é para melhor e Deus está no leme. Não vamos esquecer que as emoções são os grandes capitães de nossas vidas, nós obedecemos-lhes sem nos apercebermos.

A AAL - Academia Acreana de Letras se despede de Naylor George Pires, mas o eterniza no coração, na forma de um farol de luz. O destino une e separa. Mas nenhuma força é grande o suficiente para fazer esquecer o nosso estimado confrade. A ironia, a inquietação, a ânsia pelo saber, o ardor da escrita, a arte da vida boêmia, os amores, os sonhos, o amor pela AAL, a morte não poupa ninguém. Aos familiares de Naylor George, nosso profundo pesar. Aos imortais da AAL, a saudade faz boa cama com as lembranças de nosso acadêmico Emérito Naylor George, por tudo que fez e que se eternizam nas suas obras — Mors omni aetate communis est. Adeus, ilustre imortal escritor, historiador, professor, jornalista NAYLOR GEORGE PIRES.

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