02/05/2020

AMIZADE EM POESIA (67 poemas) – Apreciação da obra - Por Luísa Karlberg



          Há muitas notas sobre esta obra, num total de 14 Depoimentos, cada um deles a enaltecer a literatura de Deise Torres, sobra pouco a dizer.
Mas atendendo pedido da autora, teço algumas considerações. Inicio pela composição da obra.
13 Partes ou capítulos e 67 poemas – Temática, amizade, amor, gratidão, lembranças, andanças – Parece ser uma tessitura de uma vida, um romance em versos. Algo maravilhoso, pouco lido e visto por esse mundo afora.
Parte 1 – A família (5 poemas) – Diz que sem o perdão a família se torna uma arena de conflitos e um reduto de mágoas. Muita sabedoria – Família é como poesia/Tem que ter inspiração/Família é como uma canção/Em que todos dão a mão e aprendem a recomeçar/Família é uma maravilha/Quando se acorda com harmonia/ E se ama com o coração.
Parte 2 – Família de segundo grau (6 poemas) –  Minha família de sangue e a de união/Eu não importo não/Porque família é família/De laços ou adoção/Mas o que importa é o coração/Na minha história eu escolho/Minha família que convivo/Dia-a-dia sem preconceito/E aqui termino com um conceito/Que independe do sujeito/Amo de coração.
Parte 3 – Amigas de minha infância (6 poemas) - Percebe-se que  mesmo com toda a importância que a infância e a amizade ganharam ao longo do século XX, na filosofia, na medicina e nas políticas públicas, por meio da especialização de saberes voltados para a compreensão dos dilemas específicos enfrentados pelos sujeitos que ocupam essa faixa etária, sua presença na literatura não é tão ampla. Igualmente a amizade, quando a ciência aponta que ela faz parte da felicidade humana.  No entanto, embora limitada do ponto de vista quantitativo, ela é significativa, se considerarmos o investimento na reflexão sobre o papel formativo e determinante da infância, como na obra de autores capitais para as literaturas do século XX, como Marcel Proust e Graciliano Ramos, ou da investigação do universo infantil e seu potencial criativo de transformação da própria linguagem literária, como na obra de Lewis Carroll e de Manoel de Barros. Em Deise Torres há um amplo manejo de recursos trópicos, a um investimento simbólico nas vivências infantis, seus textos parecem fazer referência a algo que está além dela mesma, são louvores ao vivido, experenciado, apreendido. E as amizades fazem parte dessa ambiência feliz, que estimula e alegra a vida.
Parte 4 – Amigas (transmigrações – Brasília/São Paulo (5 poemas) - Segundo o filósofo, o desejo de amizade pode surgir depressa entre as pessoas, mas a amizade em si, não, porque ela precisa ser colocada à prova; é preciso convívio constante e profunda intimidade entre os amigos, o que garante o seu caráter permanente. Por outro lado, a amizade baseada na utilidade e na troca de vantagens dura apenas enquanto duram as vantagens. Esta é a amizade entre os maus, acidental, porque se associam em busca do interesse próprio e se estabelece por analogia com a amizade perfeita, entre os bons, que se tornam amigos por si mesmos, sem visar a qualquer benefício. Para Aristóteles (2000), a convivência é um dos mais importantes pilares da amizade. Nesse sentido, não é possível ser amigo de muitas pessoas ao mesmo tempo, já que a intimidade demanda dedicação, tempo e muito esforço. Amar parece ser a virtude característica do amigo, mais do que ser amado. E esse amor deve ser voltado para as virtudes, para o caráter que o outro possui e, não, pelo prazer ou pela utilidade que dele possam provir. Aristóteles (2000) diz que a amizade que se constrói sob os pilares das vantagens e dos benefícios próprios deve ser rompida assim que for constatado esse aspecto utilitarista da convivência, pois o que é mau não merece ser amado.
 Parte 5 – Amizades – Rio Branco (7 poemas) - Uma pesquisa realizada pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e mencionada pela revista brasileira Superinteressante, indica que não é o dinheiro, a genética ou a alimentação que faz uma pessoa ser saudável, são os amigos. Esse capítulo 5 traz importante reflexão sobre a importância da amizade para o desenvolvimento humano, pois propõe uma discussão para além das relações e vínculos estabelecidos na infância e na adolescência, abordando a amizade na idade adulta e na velhice.
Parte 6 – Amigas – Professoras Universitárias – UFAC (7 poemas) 12 poemas – Ainda sobre amizade - quando faltar ao amigo constância e virtude afrouxe-se a amizade, até que ela se “descosture”. Note-se que, em vez de utilizar o verbo “romper”, o sábio prefere “descosturar”, que produz um efeito de sentido diferente. Mas pode o justo ser amigo do injusto, o moderado do licencioso, o bom ser amigo do mau, questiona Sócrates. E conclui: “Vejamos ainda outra hipótese, não se dê mais o caso de nos tornar a escapar que o amigo, na realidade, não é nenhuma dessas coisas. Aquilo que não é bom nem mau é que, por isso mesmo, se torna amigo do bom.” (PLATÃO, 1995, p. 52).
Parte 7 - Outros poemas lauréis (14 poemas)
Parte 8 – Louvores ao Estado do Acre (4 poemas) – A autora enaltece a terra onde vive, reverencia os amigos, as amigas, faz da poesia uma cortesia às mulheres com quem convive(u), de uma forma gentil, elegante, nunca antes vista por aqui. Digo isso porque o poeta costuma ser vaidoso, faz o mundo girar em torno de si. Deise não, ela poetiza em homenagem, louvores e tributos. Tem traços de Cecília Meireles, em toda sua poesia.
Parte 9 – Tributo a Cruz e Sousa (10 poemas) – Poeta do movimento literário do século XIX que defende a presença da emoção e da subjetividade humana na arte. A obra de Cruz e Souza é marcada pela musicalidade, subjetivismo, individualismo, pessimismo, misticismo e espiritualidade. Tal qual as obras de outros poetas simbolistas, seus escritos estão repletos de figuras de linguagem: metáfora, aliteração, sinestesia, etc. Igualmente Deise Torres, afora o pessimismo e o individualismo que não percebi nenhum traço.
Parte 10 – Amor infinito Amor (1 amor) – Diz que acreditava ser o amor um cálculo matemático que somava as compreensões; mais tarde compreendeu que é na incompreensões que se ama verdadeiramente. A partir deste olhar tece um belo poema, silenciosamente, eternamente, simplesmente, O AMOR! Maravilhoso... emocionante, um canto divino... Obrigada, estimada poeta por esse sentir tão humano.
Parte 11 – Andanças (1 poema) – Retrata a vida da autora, metaforicamente, pelos espaços geográficos por onde viveu, Maranhão, São Paulo, Rondônia, Acre.
Parte 12 – Epílogo (1 poema) – Culmina a obra com soneto de Vinícius de Moraes, “Amigo”, uma escolha que retrata toda sua temática: a amizade verdadeira, isto porque podemos comparar esse elo de amizade ao tempo que passa por alterações climáticas constantemente, mas é dessa forma que aprendemos a nos conhecer, compartilhar momentos, que se desenvolve uma amizade verdadeira, em meio às diferenças, peculiaridades de cada um de nós. Amigos são irmãos que a vida nos deu para caminhar conosco ao longo da nossa jornada espiritual, extrapolando os limites do tempo, continuando quando e onde Deus assim o permitir.
Deise é muito feliz nessa obra. Caminha com os avanços científicos que dizem dos benefícios dos relacionamentos interpessoais. Estudos epidemiológicos demonstram que indivíduos socialmente integrados vivem mais (Fehr, 1996). Relacionamentos pessoais ou mais próximos – por exemplo, com familiares, amigos e parceiros românticos– atenuam a solidão e proporcionam bem-estar subjetivo, tendo, portanto, papel importante na felicidade pessoal e na promoção da saúde (Argyle,2001; Berscheid & Regan, 2005). Desejo a poeta, advogada, imortal da Academia Acreana de Letras, que agora toma assento na cadeira... Que siga esse caminho da harmonia, da paz, amizade, amor. São ingredientes que justificam o nosso viver. Parabéns por nos legar tão belo livro, tecido no zelo que lhe é peculiar.
Parte 13 – Prêmios e outros reconhecimentos (o que recebeu a sua literatura como louvor – enumera aqui nove prêmios, todos importantes para uma escritora que edita seus próprios livros, num estado longínquo, onde os leitores são raros, os críticos ausentes, mas o espírito poético não empalidece, é forte, intenso, heroico, valente).
Parabéns acadêmica Deise Torres!



















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