Há muitas notas sobre esta obra, num total de 14 Depoimentos, cada um deles a enaltecer a literatura de Deise Torres, sobra pouco a dizer.
Mas atendendo pedido da autora, teço algumas considerações. Inicio
pela composição da obra.
13 Partes ou capítulos
e 67 poemas – Temática, amizade, amor, gratidão, lembranças, andanças – Parece
ser uma tessitura de uma vida, um romance em versos. Algo maravilhoso, pouco
lido e visto por esse mundo afora.
Parte 1 – A família (5
poemas) – Diz que sem o perdão a família se torna uma arena de conflitos e um
reduto de mágoas. Muita sabedoria – Família é como poesia/Tem que ter
inspiração/Família é como uma canção/Em que todos dão a mão e aprendem a
recomeçar/Família é uma maravilha/Quando se acorda com harmonia/ E se ama com o
coração.
Parte 2 – Família de
segundo grau (6 poemas) – Minha família
de sangue e a de união/Eu não importo não/Porque família é família/De laços ou
adoção/Mas o que importa é o coração/Na minha história eu escolho/Minha família
que convivo/Dia-a-dia sem preconceito/E aqui termino com um conceito/Que
independe do sujeito/Amo de coração.
Parte 3 – Amigas de
minha infância (6 poemas) - Percebe-se que
mesmo com toda a importância que a infância e a amizade ganharam ao
longo do século XX, na filosofia, na medicina e nas políticas públicas, por
meio da especialização de saberes voltados para a compreensão dos dilemas
específicos enfrentados pelos sujeitos que ocupam essa faixa etária, sua
presença na literatura não é tão ampla. Igualmente a amizade, quando a ciência
aponta que ela faz parte da felicidade humana.
No entanto, embora limitada do ponto de vista quantitativo, ela é
significativa, se considerarmos o investimento na reflexão sobre o papel
formativo e determinante da infância, como na obra de autores capitais para as
literaturas do século XX, como Marcel Proust e Graciliano Ramos, ou da
investigação do universo infantil e seu potencial criativo de transformação da
própria linguagem literária, como na obra de Lewis Carroll e de Manoel de
Barros. Em Deise Torres há um amplo manejo de recursos trópicos, a um
investimento simbólico nas vivências infantis, seus textos parecem fazer
referência a algo que está além dela mesma, são louvores ao vivido, experenciado,
apreendido. E as amizades fazem parte dessa ambiência feliz, que estimula e
alegra a vida.
Parte 4 – Amigas
(transmigrações – Brasília/São Paulo (5 poemas) - Segundo o filósofo, o desejo
de amizade pode surgir depressa entre as pessoas, mas a amizade em si, não,
porque ela precisa ser colocada à prova; é preciso convívio constante e
profunda intimidade entre os amigos, o que garante o seu caráter permanente.
Por outro lado, a amizade baseada na utilidade e na troca de vantagens dura
apenas enquanto duram as vantagens. Esta é a amizade entre os maus, acidental,
porque se associam em busca do interesse próprio e se estabelece por analogia
com a amizade perfeita, entre os bons, que se tornam amigos por si mesmos, sem
visar a qualquer benefício. Para Aristóteles (2000), a convivência é um dos
mais importantes pilares da amizade. Nesse sentido, não é possível ser amigo de
muitas pessoas ao mesmo tempo, já que a intimidade demanda dedicação, tempo e
muito esforço. Amar parece ser a virtude característica do amigo, mais do que
ser amado. E esse amor deve ser voltado para as virtudes, para o caráter que o
outro possui e, não, pelo prazer ou pela utilidade que dele possam provir.
Aristóteles (2000) diz que a amizade que se constrói sob os pilares das
vantagens e dos benefícios próprios deve ser rompida assim que for constatado
esse aspecto utilitarista da convivência, pois o que é mau não merece ser
amado.
Parte 5 – Amizades – Rio Branco (7 poemas) - Uma
pesquisa realizada pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e
mencionada pela revista brasileira Superinteressante, indica que não é o
dinheiro, a genética ou a alimentação que faz uma pessoa ser saudável, são os
amigos. Esse capítulo 5 traz importante reflexão sobre a importância da amizade
para o desenvolvimento humano, pois propõe uma discussão para além das relações
e vínculos estabelecidos na infância e na adolescência, abordando a amizade na
idade adulta e na velhice.
Parte 6 – Amigas –
Professoras Universitárias – UFAC (7 poemas) 12 poemas – Ainda sobre amizade - quando
faltar ao amigo constância e virtude afrouxe-se a amizade, até que ela se
“descosture”. Note-se que, em vez de utilizar o verbo “romper”, o sábio prefere
“descosturar”, que produz um efeito de sentido diferente. Mas pode o justo ser
amigo do injusto, o moderado do licencioso, o bom ser amigo do mau, questiona
Sócrates. E conclui: “Vejamos ainda outra hipótese, não se dê mais o caso de
nos tornar a escapar que o amigo, na realidade, não é nenhuma dessas coisas.
Aquilo que não é bom nem mau é que, por isso mesmo, se torna amigo do bom.”
(PLATÃO, 1995, p. 52).
Parte 7 - Outros poemas
lauréis (14 poemas)
Parte 8 – Louvores ao
Estado do Acre (4 poemas) – A autora enaltece a terra onde vive, reverencia os
amigos, as amigas, faz da poesia uma cortesia às mulheres com quem convive(u),
de uma forma gentil, elegante, nunca antes vista por aqui. Digo isso porque o
poeta costuma ser vaidoso, faz o mundo girar em torno de si. Deise não, ela
poetiza em homenagem, louvores e tributos. Tem traços de Cecília Meireles, em
toda sua poesia.
Parte 9 – Tributo a
Cruz e Sousa (10 poemas) – Poeta do movimento literário do século XIX que
defende a presença da emoção e da subjetividade humana na arte. A obra de Cruz
e Souza é marcada pela musicalidade, subjetivismo, individualismo, pessimismo,
misticismo e espiritualidade. Tal qual as obras de outros poetas simbolistas,
seus escritos estão repletos de figuras de linguagem: metáfora, aliteração,
sinestesia, etc. Igualmente Deise Torres, afora o pessimismo e o individualismo
que não percebi nenhum traço.
Parte 10 – Amor
infinito Amor (1 amor) – Diz que acreditava ser o amor um cálculo matemático
que somava as compreensões; mais tarde compreendeu que é na incompreensões que
se ama verdadeiramente. A partir deste olhar tece um belo poema,
silenciosamente, eternamente, simplesmente, O AMOR! Maravilhoso... emocionante,
um canto divino... Obrigada, estimada poeta por esse sentir tão humano.
Parte 11 – Andanças (1
poema) – Retrata a vida da autora, metaforicamente, pelos espaços geográficos
por onde viveu, Maranhão, São Paulo, Rondônia, Acre.
Parte 12 – Epílogo (1
poema) – Culmina a obra com soneto de Vinícius de Moraes, “Amigo”, uma escolha
que retrata toda sua temática: a amizade verdadeira, isto porque podemos
comparar esse elo de amizade ao tempo que passa por alterações climáticas
constantemente, mas é dessa forma que aprendemos a nos conhecer, compartilhar
momentos, que se desenvolve uma amizade verdadeira, em meio às diferenças,
peculiaridades de cada um de nós. Amigos são irmãos que a vida nos deu para
caminhar conosco ao longo da nossa jornada espiritual, extrapolando os limites
do tempo, continuando quando e onde Deus assim o permitir.
Deise é muito feliz
nessa obra. Caminha com os avanços científicos que dizem dos benefícios dos
relacionamentos interpessoais. Estudos epidemiológicos demonstram que
indivíduos socialmente integrados vivem mais (Fehr, 1996). Relacionamentos
pessoais ou mais próximos – por exemplo, com familiares, amigos e parceiros
românticos– atenuam a solidão e proporcionam bem-estar subjetivo, tendo,
portanto, papel importante na felicidade pessoal e na promoção da saúde
(Argyle,2001; Berscheid & Regan, 2005). Desejo a poeta, advogada, imortal
da Academia Acreana de Letras, que agora toma assento na cadeira... Que siga
esse caminho da harmonia, da paz, amizade, amor. São ingredientes que
justificam o nosso viver. Parabéns por nos legar tão belo livro, tecido no zelo
que lhe é peculiar.
Parte 13 – Prêmios e
outros reconhecimentos (o que recebeu a sua literatura como louvor – enumera
aqui nove prêmios, todos importantes para uma escritora que edita seus próprios
livros, num estado longínquo, onde os leitores são raros, os críticos ausentes,
mas o espírito poético não empalidece, é forte, intenso, heroico, valente).
Parabéns acadêmica Deise Torres!
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