DISCURSO Prof.ª Dr.ª Luísa Karlberg,
por ocasião da visita do Presidente da ABRAFIL e diplomação de imortais por
mérito acadêmico e Cultural
Estou dirigindo há Academia Acreana de
Letras há exatamente três anos. Tem sido uma das tarefas mais difíceis que tive
na vida. Aqui estão reunidas as cabeças mais fantásticas e fabulosas do Estado
do Acre. Cada um possui suas peculiaridades, seu modus vivendi, sua cultura, jeito de sentir e olhar o mundo.
Liderar grupo tão seleto sem cometer erros é uma tarefa impossível. Com todo
amor que tenho pela AAL, com todo o respeito e carinho que dedico aos meus
pares, sempre haverá olhares diferenciados de ambos os lados. Por isso tudo,
permitam-me, eu ando reflexiva, às vezes entristecida com uma missão que não me
cabe à mão, na justa medida.
Por tudo isso, nesta noite, desejo fazer reflexões sobre
convivência/diversidade/respeito. E, embora
seja complexo e desafiador, conviver com a diversidade, é um imperativo
inseparável da promoção dos direitos humanos, o que implica, entre outros
pontos, o respeito e o reconhecimento das diferentes formas de viver e sentir a
vida. Conviver com a diferença, seja ela de pensamento, étnica ou social,
sempre foi um desafio durante a história humana. Portanto, entendo, que a
dificuldade em lidar com as diferenças é uma tendência humana. Isto porque o
diferente sempre desacomoda exigindo um exercício intelectual e emocional
distinto do que estamos habituados. Aquilo que não compreendemos parece, no
primeiro momento, como incorreto, uma vez que não é reconhecido e aceito por
nós. Assim, não havendo uma logica e um sentido, tende a ser desclassificado e
negado.
Portanto, eu não trago tema novo, faço uma
reflexão e vos convido a acompanhar. A resistência em lidar com o diferente
está dentro de nós. Temos dificuldade de lidar com mudanças muitas vezes
pequenas, como a alteração de comportamentos ou hábitos que mesmo não sendo
bons para nós, são ainda mantidos, como se o diferente gerasse insegurança e
desorientação ou até mesmo estivesse errado. Mas de toda diversidade, há uma
frase fantástica que aqui trago: Não importam as dificuldades que a vida coloca
à sua frente, e sim as atitudes que você vai tomar diante delas (Horácio
Massuanganhe).
Conhecer, respeitar e conviver: porque
parece ser tão difícil? Acredito que a dificuldade maior, é cada um perceber
que o sagrado que carrega consigo não precisa ser maior que o do outro. Nossa
atitude pode ser parecida à dos
hindus que, sabiamente, dizem “Namastê – O Deus que habita em mim, saúda o Deus
que habita em ti.” Essa deveria ser sempre a nossa atitude diante do que é
diferente: deixar que meu sagrado respeite, louve, se alegre com o sagrado do
outro. Não tentar impor que um está certo e o outro errado, ou tentar fazer que
minha fé, meu sagrado seja soberano, seja o verdadeiro “divinizado”. Conhecer
para respeitar, respeitar para conviver.
Encontrei um texto, que desconheço o autor, mas que trago à
nossa reflexão:
“Se foi pra diferenciar
Que Deus criou a diferença
Que irá nos aproximar
Intuir o que Ele pensa
Se cada ser é só um
E cada um com sua crença
Tudo é raro, nada é comum
Diversidade é a sentença
A humanidade caminha
Atropelando os sinais
A história vai repetindo
Os erros que o homem trás
O mundo segue girando
Carente de amor e paz
Se cada cabeça é um mundo
Cada um é muito mais”.
Que Deus criou a diferença
Que irá nos aproximar
Intuir o que Ele pensa
Se cada ser é só um
E cada um com sua crença
Tudo é raro, nada é comum
Diversidade é a sentença
A humanidade caminha
Atropelando os sinais
A história vai repetindo
Os erros que o homem trás
O mundo segue girando
Carente de amor e paz
Se cada cabeça é um mundo
Cada um é muito mais”.
Assim, o conviver com o outro - que nós muitas vezes chamamos
"diferente"- nos faz sair do mundo individual e social a que estamos
acostumados e abre diante de nós um universo a ser explorado e vivido. A
diversidade torna-se pouco a pouco um valor, transforma-se em riqueza e faz
saborear a vida numa amplitude mais profunda. A diversidade é uma realidade no
convívio humano, em particular, no espaço da migração. Esta, quando aceita,
torna-se fonte de mudança e riqueza, e quando rejeitada, torna-se razão de
medo, agressividade e discriminação.
João Paulo II, em seu discurso na Assembleia da ONU, a 5 de
Outubro de 1995 dizia a respeito da diversidade cultural:
Querer
ignorar a realidade da diversidade – ou pior ainda, tratar de anulá-la -
significa excluir a possibilidade de explorar as profundidades do mistério da
vida humana. A verdade sobre o homem é o critério imutável com o qual todas as
culturas são julgadas, mas cada cultura tem algo a ensinar acerca de uma ou
outra dimensão daquela complexa verdade. Portanto, a diferença que alguns
consideram tão ameaçadora poderá ser, mediante um diálogo respeitoso, a fonte
de uma compreensão mais profunda do mistério da existência humana.
Logicamente, existem algumas
"regras de convivência" que ouvimos desde criança e crescemos com
elas. Nossos pais nos ensinam que devemos respeitar o próximo porque isso é o
correto, que não devemos julgar ninguém, que precisamos ser tolerantes, etc.
Até que alguma coisa aconteça e nos faça criticar, julgar e tomar atitudes
contraditórias. Ocorre, como falei alhures, que vivemos em um mundo plural:
diferentes religiões, crenças, costumes, gostos, etnias. Diversas coisas que
nos separam em “classes” e que acabam afastando grandes ideias de se moverem
pelo mundo. Uma ideia pode simplesmente mudar tudo o que está à nossa volta. A
ideia tem de ser “revolucionária” e essa revolução está em cada vez mais
aceitarmos a diferença de outra pessoa e a compartilhar o que existe em meio a
essa diferença.
O grande desafio é fazer com que as pessoas
não usem as diferenças com o intuito de julgar e ou subjulgar, mas sim, de
promover um encontro entre as diferenças. As diferenças sempre existirão, mas
se cada um fizer a sua parte, conhecer e respeitar o sagrado do outro,
superando a ideia de certo e errado, elas irão se enfraquecer, até o ponto de
que as tentativas de “salvar a fé” serão deixadas de lado e o compartilhamento
das ideias se fará grande e necessário para que a convivência harmônica seja
realmente um fato real e existente em nosso mundo.
No dicionário a palavra mérito significa
merecimento, aquilo que torna alguém digno de reconhecimento, elogio,
recompensa, valor e prêmio. Na AAL todos os imortais são importantes, todavia
alguns se destacam pelo zelo, dedicação, presteza e, sobremaneira, um trabalho
de excelência que engrandece a instituição, sob variados aspectos, seja de
divulgação da AAL junto à comunidade, seja no trabalho com o idioma, a
literatura, seja na preparação de textos científicos e obras literárias, n
editoração, no trabalho junto aos estudantes, enfim uma labuta que eleva os
feitos do sodalício e, em muitas oportunidades, proporciona, aos estudantes, o
diálogo para além das reflexões tidas em sala de aula.
Para nós, a literatura
é olhada e sentida como um dos elementos de construção do pensamento social,
considerando que almeja uma direção para os verdadeiros valores da
nacionalidade ao evidenciar crenças e percepções pessoais, possibilitando que
os seres humanos possam refletir no seu modo de ver a vida e de estar no mundo.
De acordo com o
“Dicionário Brasileiro Globo”, a palavra literatura que se originou
do latim “litterae” que significa letras, pode ser compreendida como “arte de compor obras literárias; carreira de letras; conjunto de trabalhos literários de um país ou de uma época; os homens de letras”. Logo, pode-se perceber que a definição de literatura está ligada à concepção estética, onde a proposta inicial é possibilitar uma sensação de prazer e emoção ao receptor.
do latim “litterae” que significa letras, pode ser compreendida como “arte de compor obras literárias; carreira de letras; conjunto de trabalhos literários de um país ou de uma época; os homens de letras”. Logo, pode-se perceber que a definição de literatura está ligada à concepção estética, onde a proposta inicial é possibilitar uma sensação de prazer e emoção ao receptor.
Entretanto, apesar de
ser considerada ficção por muitos, esta demonstra o cotidiano da
humanidade dentro de um contexto temporal e espacial, consagrando-se, ao mesmo tempo, como indicadora de estruturas. Dessa forma, os textos literários possibilitam a realização de leituras dos princípios defendidos pela nação ao almejar uma direção para os verdadeiros valores da nacionalidade, visto que expõem as diversas transformações políticas e sociais vivenciadas por uma sociedade. Portanto, por ser um dos instrumentos de construção teórico-metodológica da interpretação da realidade, isto é, tudo o que existe de maneira perceptível ou não, a literatura por meio de sua textualidade, ajuda a compreender a constituição da vida intelectual e da sociedade pertencente a um determinado momento histórico.
humanidade dentro de um contexto temporal e espacial, consagrando-se, ao mesmo tempo, como indicadora de estruturas. Dessa forma, os textos literários possibilitam a realização de leituras dos princípios defendidos pela nação ao almejar uma direção para os verdadeiros valores da nacionalidade, visto que expõem as diversas transformações políticas e sociais vivenciadas por uma sociedade. Portanto, por ser um dos instrumentos de construção teórico-metodológica da interpretação da realidade, isto é, tudo o que existe de maneira perceptível ou não, a literatura por meio de sua textualidade, ajuda a compreender a constituição da vida intelectual e da sociedade pertencente a um determinado momento histórico.
Nossos imortais, como Olinda Batista, Eduardo Carneiro, Maria
José Bezerra, Edir, Mauro, Carile, Renã, Cecília, Telmo, Profiro, Álvaro,
Claudemir, Dalmir, Margarete, Araken, Sílvio, Reginâmio, dentre os demai da
confraria, procuram destacar os valores históricos, literários, culturais do
Acre, em obras fantásticas. Alguns, mais científicos, produzem atlas regional,
observando, cuidadosamente, o comportamento linguístico entre as camadas
sociais, os gêneros, as faixas-etárias, a escolaridade, os espaços geográficos.
Outros buscam reconstituir a história, muitos recontam o viver humano em prosa e verso, mas todos
buscam mostrar o valor, o gênio, a graça, o encanto do povo que aqui vive e,
assim, deixar fotografias do tempo presente para o tempo futuro. E tudo isso
não se faz sem essa ferramenta fantástica que o idioma pátrio, a Língua
Portuguesa que tão bem exaltou o Prof. Dr. Antônio Martins, a quem nesta noite
louvamos, agradecemos, por sua contribuição ao Acre, por 19 anos. Ficamos numa
jornada de pós-graduação por quase duas décadas, formamos, nesse tempo,
professores para a nossa UFAC, em especial para o Campus Floresta, onde
realizamos seis edições Lato Sensu em Língua Portuguesa. Ainda formamos os
gestores educacionais que atuam em Sena Madureira e muitos em Rio Branco, num
total de 400 professores.
Há pessoas que têm o poder de
transformar vidas, o Senhor, Dr. Antonio Martins, é uma destas pessoas. Mais do
que um professor, o Senhor é um mestre, uma pessoa que nos inspira a querermos
ser a melhor versão de nós mesmos. Com o Senhor aprendemos muito mais do que
teoria, aprendemos valores humanos para colocarmos em prática. O Senhor é um é
um mestre generoso, que tem o dom de ensinar com simplicidade. O Senhor
consegue despertar em nós a curiosidade e a vontade de aprender sempre mais. O
Senhor será sempre para nós uma referência de ética e amor pela profissão.
Obrigada, querido professor, pela sua dedicação e paciência, obrigado por
transmitir todo o seu conhecimento e sabedoria, obrigada por nos fazer sonhar e
acreditar em nossas capacidades!
Para concluir, digo que para ganhar conhecimento é
fundamental adicionar coisas, na vida, todos os dias. Para ganhar sabedoria é
necessário eliminar coisas, na vida, todos os dias. Aos diplomados meu respeito
e estima, sempre. Ao
sodalício, aos professores, alunos, amigos da Academia, deixo a nossa estima e
gratidão por nos prestigiarem nesta noite tão significativa para a AAL.
Muito Obrigada!
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