05/12/2019

DISCURSO DE POSSE – ENILSON AMORIM DE LIMA, chargista, historiador, escritor e membro da Academia Acreana de Letras- AAL, ocupando a cadeira de número 07.


DISCURSO DE POSSE – ENILSON AMORIM DE LIMA, chargista, historiador, escritor e membro da Academia Acreana de Letras- AAL, ocupando a cadeira de número 07.

SAUDAÇÃO
Minha ilustre Presidente, Prof.ª Dr.ª Luísa Galvão Lessa Karlberg, ilustres confrades que comigo hoje adentram na Academia Acreana de Letras, demais pares do sodalício, autoridades presentes, familiares e amigos, eu Vos agradeço por estarem aqui iluminando, com vossas presenças, esta noite inesquecível para mim.
I - Minhas primeiras palavras são de agradecimento ao sodalício da AAL que me elegeu imortal da cadeira nº 07; agradeço e louvo a Deus que permitiu minha caminhada até esta Augusta Casa. Agradeço a minha amada mãe, dona Francisca Amorim de Lima, ao de meu pai Manoel Rufino de Lima, que me conceberam no amor e nele me criaram.
II - Louvo o meu antecessor Emérito: GERALDO FREIRE BRASIL, escritor, natural de Tarauacá. Ele exerceu cargos de muita influência em nosso Estado, dentre tantos, podemos destacar: 1)  Servidor público, que honrou e dignificou seu cargo; 2) chefe de polícia do antigo Território Federal do Acre; 3) jornalista, assim como eu, trabalhou em diversos estados do norte brasileiro, dentre os quais ganhou destaque no Pará, Amazonas, Rondônia e no Acre; 4) Fundador da revista “Observador Amazônico”, cujo teor visava mostrar os aspectos culturais e antropológicos da população amazônica; 5). Seus trabalhos dão destaque às imagens fotográficas que denotam sua paixão pelas artes visuais, prova disto, foi seu envolvimento com a sétima arte no Estado de Minas Gerais, quando por lá esteve e fundou, juntamente a outros intelectuais, “O Clube do Cinema”, quando convidou o grande Heitor Villa Lobos  para uma apresentação na cidade mineira, no ano de 1947; 6 ) É pai do grande maestro, também imortal emérito da AAL, Prof. Dr. Mário Lima Brasil; 7) autor do livro de poemas “O Rosto do Povo”, publicado pela Editora Morais, em 1988. Ali, nas páginas, 71 e 73 denuncia “A Morte do Rio”, a poluição dos igarapés, conforme se avista nos versos: “Espumas esbranquiçadas de bordas sangrentas cobriam a superfície do rio/ Motivos não faltavam, mas o rio seria mudo se pequenos murmúrios não acompanhassem o deslizar manhoso de suas águas poluídas”.
Aqui digo um pouco do grandioso imortal Emérito da AAL, Geraldo Freire Brasil, que tenho a honra e felicidade de sucedê-lo em vida. Rogo a Deus por sua saúde e vida plena de felicidade. Prometo ser um imortal merecedor de tão digna autoridade intelectual e humana.
III - O Patrono desta cadeira número 7 é o médico sanitarista AMARO THEODORO DAMASCENO. Dele obtive informações no jornal “O Acre”, onde ali o exalta como Diretor de Diretor de Saúde Púbica do Território do Acre, quando exerceu a função de 1929 até 1936, interinamente, nomeado pelo interventor Assis Vasconcelos, então Prefeito de Rio Branco, nos anos 1931-1932.  Todavia, a sua história literária findou sendo sepultada e esquecida pelo pouco apreço  que se deu, outrora,  por administrações passadas, em resguardar a história e a memória de nossos imortais. Por toda essa lacuna que muito me deixa entristecido, deixo firmada aos seus familiares e descendentes, a  asseveração de tratar-se de homem das letras e de lindas palavras que, infelizmente, foram arremessadas aos vento, por uma política que nunca esteve preocupada em resguardar a memória dos literatos.
IV - Sobre ENILSON AMORIN DE LIMA – este que vos fala, e hoje toma assento na cadeira nº 7, dantes pertencentes a tão valorosos homens públicos e senhores das letras e da ciência médica, o menino que saltava da ponte para banhar-se nas águas barrentas do rio Acre, tornou-se homem, pai de família, amigos dos amigos, respeitador dos costumes e tradições, amante das letras e dos bons livros. Hoje me sinto muito feliz por tomar assento na cadeira nº 7, ser confrade de pessoas tão ilustres do sodalício acreano. Serei guardião dos escritos, do logos e de todos os códigos que compõem a nossa formidável língua portuguesa, que é o nosso maior pecúlio. Além disso, defenderei a literatura como o mais sublime instrumento de construção de uma sociedade. Isto porque a obra literária é um testemunho da linguagem da vida social, carregada de significados próprios e cujo valor não reside apenas em sua capacidade de dar respostas concretas a questões pontuais do viver humano. A literatura traduz o próprio viver humano.
Então, para finalizar, vos digo que o menino que mergulhava nas águas barrentas do rio Acre, no segundo distrito, trabalhava vendendo quibe e refresco nas ruas do bairro do Taquari, hoje assentado entre imortais é um testemunho de que as letras, a literatura e as artes sempre serão braços fortes para retirar inúmeros Enilsons das vielas, becos e ruelas da vida, a quem, muitas vezes, não tem amparo do poder público. Os livros são democráticos, assim como o conhecimento.
Fui alfabetizado por uma brilhante professora de nome Mariazinha, que me ensinou as primeiras letras na escola Anita Garibaldi. E nesta noite Vos confesso:  Esta professora nunca saiu de dentro de meu coração. Aos 17 anos, comecei a trabalhar em jornais, inicialmente de forma principiante, utilizando a primeira forma de comunicação humana: o desenho. Essa técnica eu dominava desde os 5 anos de idade. Todavia, o  barulho das antigas Olivetti, na redação do matutino o Rio Branco, criava uma sonoridade bela em meus ouvidos e anunciava que minha missão também era o uso das palavras.  E foi entre a junção de textos, traços e cor que nasceu minha primeira obra “Mapinguari a Lenda”, gerado no ventre do jornalismo, berço de minha sabedoria, obra esta que se tornou o carro chefe de minha carreira e que encanta as crianças, desde que eu a idealizei e a publiquei. Essa obra foi meu acesso ao mundo literário.
  Então, senhoras e senhores, nobres imortais, meus pares da AAL, a minha vida está envolta num caldeirão de pobreza, esforço, trabalho, superação. Adentra, nesta Augusta Casa, na noite de hoje, 18 de novembro de 2019, a literatura infantil para educar, instruir e distrair as crianças  os adultos de amanhã. E neste ano de festa de 82 anos de fundação da Academia Acreana de Letras, seguirei seu farol  com minhas mãos enlaçadas as dos meus pares, para iluminar o caminho daqueles que buscam o conhecimento e a preservação do idioma pátrio, o respeito à literatura como guardiã da memória humana. Penso que “um  livro fechado é a boca implorando voz, igual aos sonhos da infância que se extraviaram de nós”. Esta frase do poeta e cantor Pirisca Grecco traduz o sentimento de uma ação simples, mas que pode mudar muita coisa na vida de alguém: a leitura.

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