13/12/2019

DISCURSO DE POSSE – ENILSON AMORIM DE LIMA, chargista, historiador, escritor e membro da Academia Acreana de Letras- AAL, ocupando a cadeira de número 07.


DISCURSO DE POSSE – ENILSON AMORIM DE LIMA - Cadeira 07

SAUDAÇÃO 
Minha ilustre Presidente, Prof.ª Dr.ª Luísa Galvão Lessa Karlberg, ilustres confrades que comigo hoje adentram na Academia Acreana de Letras, demais pares do sodalício, autoridades presentes, familiares e amigos, eu Vos agradeço por estarem aqui iluminando, com vossas presenças, esta noite inesquecível para mim.
I - Minhas primeiras palavras são de agradecimento ao sodalício da AAL que me elegeu imortal da cadeira nº 07; agradeço e louvo a Deus que permitiu minha caminhada até esta Augusta Casa. Agradeço a minha amada mãe, dona Francisca Amorim de Lima, ao de meu pai Manoel Rufino de Lima, que me conceberam no amor e nele me criaram.
II - Louvo o meu antecessor Emérito: GERALDO FREIRE BRASIL, escritor, natural de Tarauacá. Ele exerceu cargos de muita influência em nosso Estado, dentre tantos, podemos destacar: 1)  Servidor público, que honrou e dignificou seu cargo; 2) chefe de polícia do antigo Território Federal do Acre; 3) jornalista, assim como eu, trabalhou em diversos estados do norte brasileiro, dentre os quais ganhou destaque no Pará, Amazonas, Rondônia e no Acre; 4) Fundador da revista “Observador Amazônico”, cujo teor visava mostrar os aspectos culturais e antropológicos da população amazônica; 5). Seus trabalhos dão destaque às imagens fotográficas que denotam sua paixão pelas artes visuais, prova disto, foi seu envolvimento com a sétima arte no Estado de Minas Gerais, quando por lá esteve e fundou, juntamente a outros intelectuais, “O Clube do Cinema”, quando convidou o grande Heitor Villa Lobos  para uma apresentação na cidade mineira, no ano de 1947; 6 ) É pai do grande maestro, também imortal emérito da AAL, Prof. Dr. Mário Lima Brasil; 7) autor do livro de poemas “O Rosto do Povo”, publicado pela Editora Morais, em 1988. Ali, nas páginas, 71 e 73 denuncia “A Morte do Rio”, a poluição dos igarapés, conforme se avista nos versos: “Espumas esbranquiçadas de bordas sangrentas cobriam a superfície do rio/ Motivos não faltavam, mas o rio seria mudo se pequenos murmúrios não acompanhassem o deslizar manhoso de suas águas poluídas”.
Aqui digo um pouco do grandioso imortal Emérito da AAL, Geraldo Freire Brasil, que tenho a honra e felicidade de sucedê-lo em vida. Rogo a Deus por sua saúde e vida plena de felicidade. Prometo ser um imortal merecedor de tão digna autoridade intelectual e humana.
III - O Patrono desta cadeira número 7 é o médico sanitarista AMARO THEODORO DAMASCENO. Dele obtive informações no jornal “O Acre”, onde ali o exalta como Diretor de Diretor de Saúde Púbica do Território do Acre, quando exerceu a função de 1929 até 1936, interinamente, nomeado pelo interventor Assis Vasconcelos, então Prefeito de Rio Branco, nos anos 1931-1932.  Todavia, a sua história literária findou sendo sepultada e esquecida pelo pouco apreço  que se deu, outrora,  por administrações passadas, em resguardar a história e a memória de nossos imortais. Por toda essa lacuna que muito me deixa entristecido, deixo firmada aos seus familiares e descendentes, a  asseveração de tratar-se de homem das letras e de lindas palavras que, infelizmente, foram arremessadas aos vento, por uma política que nunca esteve preocupada em resguardar a memória dos literatos.
IV - Sobre ENILSON AMORIN DE LIMA – este que vos fala, e hoje toma assento na cadeira nº 7, dantes pertencentes a tão valorosos homens públicos e senhores das letras e da ciência médica, o menino que saltava da ponte para banhar-se nas águas barrentas do rio Acre, tornou-se homem, pai de família, amigos dos amigos, respeitador dos costumes e tradições, amante das letras e dos bons livros. Hoje me sinto muito feliz por tomar assento na cadeira nº 7, ser confrade de pessoas tão ilustres do sodalício acreano. Serei guardião dos escritos, do logos e de todos os códigos que compõem a nossa formidável língua portuguesa, que é o nosso maior pecúlio. Além disso, defenderei a literatura como o mais sublime instrumento de construção de uma sociedade. Isto porque a obra literária é um testemunho da linguagem da vida social, carregada de significados próprios e cujo valor não reside apenas em sua capacidade de dar respostas concretas a questões pontuais do viver humano. A literatura traduz o próprio viver humano.
Então, para finalizar, vos digo que o menino que mergulhava nas águas barrentas do rio Acre, no segundo distrito, trabalhava vendendo quibe e refresco nas ruas do bairro do Taquari, hoje assentado entre imortais é um testemunho de que as letras, a literatura e as artes sempre serão braços fortes para retirar inúmeros Enilsons das vielas, becos e ruelas da vida, a quem, muitas vezes, não tem amparo do poder público. Os livros são democráticos, assim como o conhecimento.
Fui alfabetizado por uma brilhante professora de nome Mariazinha, que me ensinou as primeiras letras na escola Anita Garibaldi. E nesta noite Vos confesso:  Esta professora nunca saiu de dentro de meu coração. Aos 17 anos, comecei a trabalhar em jornais, inicialmente de forma principiante, utilizando a primeira forma de comunicação humana: o desenho. Essa técnica eu dominava desde os 5 anos de idade. Todavia, o  barulho das antigas Olivetti, na redação do matutino o Rio Branco, criava uma sonoridade bela em meus ouvidos e anunciava que minha missão também era o uso das palavras.  E foi entre a junção de textos, traços e cor que nasceu minha primeira obra “Mapinguari a Lenda”, gerado no ventre do jornalismo, berço de minha sabedoria, obra esta que se tornou o carro chefe de minha carreira e que encanta as crianças, desde que eu a idealizei e a publiquei. Essa obra foi meu acesso ao mundo literário.
  Então, senhoras e senhores, nobres imortais, meus pares da AAL, a minha vida está envolta num caldeirão de pobreza, esforço, trabalho, superação. Adentra, nesta Augusta Casa, na noite de hoje, 18 de novembro de 2019, a literatura infantil para educar, instruir e distrair as crianças  os adultos de amanhã. E neste ano de festa de 82 anos de fundação da Academia Acreana de Letras, seguirei seu farol  com minhas mãos enlaçadas as dos meus pares, para iluminar o caminho daqueles que buscam o conhecimento e a preservação do idioma pátrio, o respeito à literatura como guardiã da memória humana. Penso que “um  livro fechado é a boca implorando voz, igual aos sonhos da infância que se extraviaram de nós”. Esta frase do poeta e cantor Pirisca Grecco traduz o sentimento de uma ação simples, mas que pode mudar muita coisa na vida de alguém: a leitura.

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