DISCURSO DE POSSE – ENILSON AMORIM DE
LIMA - Cadeira 07
SAUDAÇÃO
Minha ilustre
Presidente, Prof.ª Dr.ª Luísa Galvão Lessa Karlberg, ilustres confrades que
comigo hoje adentram na Academia Acreana de Letras, demais pares do sodalício,
autoridades presentes, familiares e amigos, eu Vos agradeço por estarem aqui
iluminando, com vossas presenças, esta noite inesquecível para mim.
I - Minhas primeiras palavras são
de agradecimento ao sodalício da AAL que me elegeu imortal da cadeira nº 07;
agradeço e louvo a Deus que permitiu minha caminhada até esta Augusta Casa.
Agradeço a minha amada mãe, dona Francisca Amorim de Lima, ao de meu pai Manoel
Rufino de Lima, que me conceberam no amor e nele me criaram.
II - Louvo o meu antecessor Emérito:
GERALDO FREIRE BRASIL, escritor, natural de Tarauacá. Ele exerceu cargos de
muita influência em nosso Estado, dentre tantos, podemos destacar: 1)
Servidor público, que honrou e dignificou seu cargo; 2) chefe de polícia do
antigo Território Federal do Acre; 3) jornalista, assim como eu, trabalhou em
diversos estados do norte brasileiro, dentre os quais ganhou destaque no Pará,
Amazonas, Rondônia e no Acre; 4) Fundador da revista “Observador Amazônico”,
cujo teor visava mostrar os aspectos culturais e antropológicos da população
amazônica; 5). Seus trabalhos dão destaque às imagens fotográficas que denotam
sua paixão pelas artes visuais, prova disto, foi seu envolvimento com a sétima
arte no Estado de Minas Gerais, quando por lá esteve e fundou, juntamente a
outros intelectuais, “O Clube do Cinema”, quando convidou o grande Heitor Villa
Lobos para uma apresentação na cidade mineira, no ano de 1947; 6 ) É pai
do grande maestro, também imortal emérito da AAL, Prof. Dr. Mário Lima Brasil;
7) autor do livro de poemas “O Rosto do Povo”, publicado pela Editora Morais,
em 1988. Ali, nas páginas, 71 e 73 denuncia “A Morte do Rio”, a poluição dos
igarapés, conforme se avista nos versos: “Espumas esbranquiçadas de bordas
sangrentas cobriam a superfície do rio/ Motivos não faltavam, mas o rio seria
mudo se pequenos murmúrios não acompanhassem o deslizar manhoso de suas águas
poluídas”.
Aqui digo um pouco do
grandioso imortal Emérito da AAL, Geraldo Freire Brasil, que tenho a honra e
felicidade de sucedê-lo em vida. Rogo a Deus por sua saúde e vida plena de
felicidade. Prometo ser um imortal merecedor de tão digna autoridade
intelectual e humana.
III - O Patrono desta cadeira número 7 é
o médico sanitarista AMARO THEODORO DAMASCENO. Dele obtive informações
no jornal “O Acre”, onde ali o exalta como Diretor de Diretor de Saúde Púbica
do Território do Acre, quando exerceu a função de 1929 até 1936, interinamente,
nomeado pelo interventor Assis Vasconcelos, então Prefeito de Rio Branco, nos
anos 1931-1932. Todavia, a sua história literária findou sendo sepultada
e esquecida pelo pouco apreço que se deu, outrora, por
administrações passadas, em resguardar a história e a memória de nossos
imortais. Por toda essa lacuna que muito me deixa entristecido, deixo firmada
aos seus familiares e descendentes, a asseveração de tratar-se de homem
das letras e de lindas palavras que, infelizmente, foram arremessadas aos
vento, por uma política que nunca esteve preocupada em resguardar a memória dos
literatos.
IV - Sobre ENILSON AMORIN DE LIMA –
este que vos fala, e hoje toma assento na cadeira nº 7, dantes pertencentes a
tão valorosos homens públicos e senhores das letras e da ciência médica, o
menino que saltava da ponte para banhar-se nas águas barrentas do rio Acre,
tornou-se homem, pai de família, amigos dos amigos, respeitador dos costumes e
tradições, amante das letras e dos bons livros. Hoje me sinto muito feliz por
tomar assento na cadeira nº 7, ser confrade de pessoas tão ilustres do
sodalício acreano. Serei guardião dos escritos, do logos e de todos os
códigos que compõem a nossa formidável língua portuguesa, que é o nosso maior
pecúlio. Além disso, defenderei a literatura como o mais sublime instrumento de
construção de uma sociedade. Isto porque a obra literária é um testemunho da
linguagem da vida social, carregada de significados próprios e cujo valor não
reside apenas em sua capacidade de dar respostas concretas a questões pontuais
do viver humano. A literatura traduz o próprio viver humano.
Então, para finalizar,
vos digo que o menino que mergulhava nas águas barrentas do rio Acre, no
segundo distrito, trabalhava vendendo quibe e refresco nas ruas do bairro do
Taquari, hoje assentado entre imortais é um testemunho de que as letras, a
literatura e as artes sempre serão braços fortes para retirar inúmeros Enilsons
das vielas, becos e ruelas da vida, a quem, muitas vezes, não tem amparo do
poder público. Os livros são democráticos, assim como o conhecimento.
Fui alfabetizado por uma brilhante
professora de nome Mariazinha, que me ensinou as primeiras letras na escola
Anita Garibaldi. E nesta noite Vos confesso: Esta professora nunca saiu
de dentro de meu coração. Aos 17 anos, comecei a trabalhar em jornais,
inicialmente de forma principiante, utilizando a primeira forma de comunicação
humana: o desenho. Essa técnica eu dominava desde os 5 anos de idade. Todavia,
o barulho das antigas Olivetti, na redação do matutino o Rio Branco,
criava uma sonoridade bela em meus ouvidos e anunciava que minha missão também
era o uso das palavras. E foi entre a junção de textos, traços e cor que
nasceu minha primeira obra “Mapinguari a Lenda”, gerado no ventre do
jornalismo, berço de minha sabedoria, obra esta que se tornou o carro chefe de
minha carreira e que encanta as crianças, desde que eu a idealizei e a
publiquei. Essa obra foi meu acesso ao mundo literário.
Então, senhoras e senhores, nobres imortais, meus pares da AAL, a minha
vida está envolta num caldeirão de pobreza, esforço, trabalho, superação.
Adentra, nesta Augusta Casa, na noite de hoje, 18 de novembro de 2019, a
literatura infantil para educar, instruir e distrair as crianças os
adultos de amanhã. E neste ano de festa de 82 anos de fundação da Academia
Acreana de Letras, seguirei seu farol com minhas mãos enlaçadas as dos
meus pares, para iluminar o caminho daqueles que buscam o conhecimento e a
preservação do idioma pátrio, o respeito à literatura como guardiã da memória
humana. Penso que “um livro fechado é a boca implorando voz, igual aos
sonhos da infância que se extraviaram de nós”. Esta frase do poeta e cantor
Pirisca Grecco traduz o sentimento de uma ação simples, mas que pode mudar
muita coisa na vida de alguém: a leitura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário