30/07/2020

DISCURSO DE POSSE DA ACADÊMICA FÁTIMA CORDEIRO


Discurso de Posse
Acadêmica Fátima Cordeiro – Cadeira 20

Senhora Presidente Prof.ª Dr.ª Luísa Galvão Lessa Karlberg
Senhores Acadêmicos da AAL
Senhoras e Senhores, amigos, familiares.

Inicialmente, manifesto as minhas condolências às famílias que perderam seus entes queridos diante nesta pandemia (covid 19), que assola o nosso planeta.  Em pleno sec. XXI, novas formas de convivência social, com a Natureza e consigo mesmo, deverão ser repensadas.
Sinto-me, nesta memorável noite, tal como a personagem de Felicidade Clandestina de Clarice Lispector, que de posse de algo tão especial, no caso dela, um livro que estava além de suas possibilidades, entretanto, após muitas idas e vindas o conseguiu, finalmente! E, poderia ficar com ele pelo tempo que quisesse... No meu caso, após saber que pertenceria a esta conceituada Academia Acreana de Letras, ainda assim, finjo que não sei, só para depois ter o susto de saber que sei. Quando soube da cadeira nº 20, fingia esquecer... só para depois lembrar que nela tomei assento.  Caminhar ao lado de Doutores, Mestres, Grandes intelectuais da Literatura e Cultura Acreana? Não, não seria para mim este o enredo. É um momento inusitado.
Mas, aqui estou. Com o coração cheio de júbilo, sinto-me lisonjeada, após uma democrática eleição marcada pela lisura e a transparência, que agradeço ao Presidente da Comissão Eleitoral poeta Renã Leite Pontes.
Mas, como expressar momentos tão especiais? Destaco o livro poético dos Salmos, Salmos 30:11-12 'Mudaste o meu pranto em dança, a minha veste de lamento em veste de alegria, para que o meu coração cante louvores a ti e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te darei graças para sempre" [...]
A poetisa Cecilia Meireles dizia:

Ai, palavras, ai, palavras,
Que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
Sois de vento, ides no vento,
No vento que não retorna [...]
Não seria possível neste rito de posse, neste discurso, deixar de agradecer e de reconhecer alguns nobres imortais:
Inicialmente, a coragem e a alegria da escritora, advogada, professora, mãe e filha dedicada, DEISE BRANDÃO TORRES LEAL - Cadeira de nº 12 - que usando de palavras tão singelas e altruístas se manifestou em apresentar-me a concorrer ao Sodalício da Academia Acreana de Letras – AAL, meus sinceros agradecimentos pela sua paciência, pela humildade de compartilhar conhecimentos, pela sua irreverência de ser poeta, nos contagiando com o seu estilo de expressar a alegria, a vida, as flores, os sentimentos, o amor pelas artes e pela poesia.
A todos os confrades e confreiras, que depositaram confiança na minha candidatura desejando votos de vitória! Como também, a consideração ao responder-me aos e-mails. Muito Obrigada!
MARGARETE EDUL PRADO, pelas incansáveis vezes que me deu ânimo em acreditar que publicaria um livro, ora revisando, ora fazendo convites para participar em Antologias e, na sua turma de Mestrado na UFAC, para contação de histórias.
A MAZE OLIVER, que muito me incentivou a acreditar que, um dia, eu escreveria um livro! Já estou a caminho do 4º livro...
JOSÉ DO CARMO CARILE concedeu-me a honra de recitar no lançamento de seu livro, em 2015, como também, CECILIA UGALDE que, de forma afetuosa, me fez este honroso convite.
CLAUDEMIR MESQUITA, no lançamento do meu 1º livro: SEMENTES DE MOSTARDA, em 2016, fala: ‘Vem pra Academia’’!          
MOISÉS DINIZ, em 2019, provoca-me: -Você já concorreu alguma vez para a Academia Acreana de Letras?
DALMIR FEREREIRA, GREGÓRIO FILHO, ambos, compartilham em comum: o amor pela Cultura, incentivadores, seja no contar Histórias ou na precisão das ferramentas para entalhar a arte das palavras, através das formas, texturas, cor, ou simplesmente, a criatividade na revisão do que pode ser melhorado.
A SLA –SOCIEDADE LITERÁRIA ACREANA, em nome de Maria Xavier, da qual também faço parte, espaço que permite a igualdade de oportunidades para quem deseja colaborar para o engrandecimento da leitura entre as crianças, jovens e adultos.  
Mas, é preciso compreender que este exato momento é construído pelas mãos do tempo.  Vinicius de Moraes nos convida “a viver cada segundo como nunca mais” (...)
A nós, mulheres, muito nos foi negado ou arrancado no contexto da História. Quantas cientistas, filósofas, matemáticas, tiveram que lutar para fazer jus a sua sede pelo conhecimento. A corajosa Sophie Germain que estudava à luz de velas, escondida, embaixo dos cobertores os proibidos livros de Matemática.
Quantas outras foram queimadas vivas na fogueira da ignorância. Condenadas como “feiticeiras” apenas por seus experimentos na pesquisa de ervas para a cura de muitos males.   
Como, também, não está tão distante o nosso direito ao voto. Visto que até o início do século XX, o voto, na quase totalidade dos países, era um direito exclusivo dos homens.
Aqui, gostaria de destacar uma Mulher de grande valor e além de seu tempo! PROF.ª DR.ª LUÍSA GALVÃO LESSA KARLBERG- Nascida no Igarapé Humaitá, Seringal São Luís – situado às cabeceiras do Rio Muru, distante de Tarauacá oito dias de barco –   para ela “a Academia deve espelhar a alma, retratar o espírito, expressar a gênese e as potencialidades de um povo”; seus membros, chamados “imortais”, traduzem o lastro cultural do povo acreano.    
Desta forma, fico a imaginar, quantas renúncias pessoais, preconceitos, ou até mesmo incredulidades oriundas tanto dos homens quanto das próprias mulheres, ela teve que enfrentar para ser a 1ª MULHER a ocupar a presidência desta importante Entidade Cultural, prezando pela ética, respeito aos seus pares,  espírito democrático, zelo pela Literatura Acreana e, acima de tudo amiga das Letras, da Literatura, da Cultura.
Senhores, senhoras,
Sou uma mulher simples, filha do êxodo rural da década de 70, amontanhando milhares de pessoas nas periferias de Rio Branco, sem condições dignas.  Filha de Antônia Valdira Mendes Cordeiro, uma lavadeira de roupas e que possuía muitos canteiros de belíssimas alfaces, pepinos e couves. Meu pai, José Arruda Cordeiro, um guarda que tinha orgulho de sua farda da antiga A MERCHED LTDA.
Sim, conheço a realidade e a carência dos que vivem na periferia, expostos as mais diversas formas de violência. Por muitos anos, caminhei por trapiches para chegar até a escola, nosso quintal alagava e, quando isso acontecia, eu e meus irmãos pegávamos uma grande bacia de alumínio de nossa mãe e fazíamos um grande barco.Sim, sei o que é olhar sua mãe dividir um pão entre cinco filhos e ela dizer que não está com fome!
Mas, minha mãe sempre me deu um conselho: - estude! Pois, é a única herança que levamos. Eu não tive esta oportunidade, mas você tem! Nem é preciso dizer que a minha saia escolar de tergal azul marinho de pregas era, religiosamente, lavada na goma e passada a ferro de carvão, kichute engraxado e meias brancas até a altura dos joelhos.
Meu pai, outro conselho: - sempre pague o mal com um bem! Mas, a vida não traz manual de instruções para não errarmos no caminho. Assim, vamos construindo os nossos caminhos, ora sofridos, ora alegres, ora temerosos...Fazemos as nossas escolhas, embora, muitas vezes, as nossas escolhas não nos escolhem.
A leitura faz parte da minha vida desde criança através das cartas de minha avó Jandira Ferreira Lima, moradora do município de Manuel Urbano. Naquela época, então, Vila Castelo.  Todos os meses, as cartas chegavam, devidamente, acompanhadas por um grande embrulho de papel, que finalizavam com um forte laço de barbante. Minha avó era caprichosa! Nossa alegria de adivinhar o que teria desta vez naquele embrulho. Mas, tinha algo que nunca faltava: o colorau. Ela dizia ter sido feito no seu velho pilão.
Posso dizer que os professores desempenham um grande papel social na vidas das crianças e jovens, pois, muito do que eu sou devo as falas de incentivo de alguns de meus professores Prof.ª Elza Viana ao olhar meus desenhos da época do antigo ginásio falava –Tu ainda vai ser professora de Arte (dos 30 anos na Educação, 16 foram dedicados a esta disciplina); prof.ª Eunice – Um dia vou assistir a uma exposição tua! E, foi mesmo!
Mas, o meu primeiro texto foi somente depois que Ismália enlouqueceu. Explico: a Prof.ª Raquel Santos, na época do magistério, nos apresentou a poesia Ismália, de Alphonsus de Guimarães, daí nos pediu uma tarefa. Chega o dia, eu não havia feito porque minha família não tinha condições para comprar o livro! minhas colegas, mais que depressa, me emprestaram um livro, dai, às pressas me deu um’’ insight’’ - já sei! Vou escrever Ismália antes da loucura, porque ela enlouqueceu.
Eu ficava comovida lendo a situação vivida pela pobre da Ismália... E, esse foi o meu primeiro excelente na disciplina de Literatura. Guardei por anos aquele trabalho.
Muitas experiência interessantes pude vivenciar seja no teatro, cinema ou artes visuais, como, também, nas comunidades de base com as irmãs Missionárias de Jesus Crucificado, Pe.Emanuel e Pe. Maximo Lombardi.
Dos 30 anos dedicados a Educação na escola pública, pude perceber a importância da leitura lúdica na vida do leitor, seja criança, jovem ou adulto. Assim, também, como professora de Arte, Ensino Religioso e Filosofia, motivar os jovens a serem protagonistas do conhecimento, usando as diversas linguagens artísticas como forma de expressão. A dança, o teatro, a música, as artes visuais, são formas de dialogar com a realidade, manifestando a imensa criatividade e a capacidade intelectual de nossos jovens tão carentes de oportunidades. Mas, também, presenciei a forma pejorativa de tratamento desta área do conhecimento quanto às demais. Arte como apenas passatempo, ou para entretenimento. Não! Não é isso. Arte é ciência, arte é vida, arte é conhecimento. Arte é Cultura!   O espírito humano cria, continuamente, sua consciência de existir na busca para o sentido da vida. Não existe Arte sem conhecimento. Existe, sim, a necessidade de novos paradigmas quanto aos novos conceitos neste século XXI, diante das transformações políticas, sociais e culturais, como também da Neurociência.  A faculdade imaginativa está na raiz de qualquer processo de conhecimento, seja científico, artístico ou técnico.
Michelangelo foi um pintor, escultor, poeta e arquiteto italiano uma de suas frases sobre escultura diz: “Vi um anjo no bloco de mármore e simplesmente fui esculpindo até libertá-lo.'’
Ao PATRONO da cadeira 20 - Emílio Augusto Goeldi, podemos destacar que EMÍLIO AUGUSTO GOELDI - Cientista Naturalista nascido na Suíça, cujos estudos se centraram na fauna brasileira atraíram a atenção de todo o mundo. Formou-se em zoologia no país natal, onde defendeu tese sobre osteologia e anatomia dos peixes.  Ele foi convidado pelo governador do Estado do Pará, Lauro Sodré, para reorganizar o Museu de Pará de História Natural e Etnografia, em Belém, que tinha sido fundada em 1866 por Domingos Soares Ferreira Penna.  Foi contratado (1891) para reorganizar o Museu Paraense, em Belém do Pará, e novamente de mudança (1894), passou a dirigir o Museu Paraense (1895). O museu passou por uma reforma total, onde foram criadas diversas seções científicas, sendo este patrimônio considerado um dos maiores parques zoobotânicos do mundo.  Contratou especialistas que deram projeção científica internacional ao museu. Em 1902, o “Museu Paraense de História Natural e Etnografia” foi renomeado em sua homenagem. Ele agora é chamado o Museu Paraense Emílio Goeldi. Em 1905, Emilio Goeldi renunciou ao seu cargo, devido a problemas de saúde, e voltou para a Suíça, onde morreu em Berna, em 1917, com a idade de apenas 58 anos.
Aproveito-me de alguns trechos da pesquisa biográfica cedida pela respeitável confreira historiadora Dr.ª MARIA JOSÉ BEZERRA, pesquisadora de assuntos ligados à inclusão social. A Pesquisa intitulada: RECONHECIMENTO E VALORIZAÇÃO DA CULTURA ACREANA, CELEIRO DE PRÁTICAS EDUCATIVAS E SOCIAIS, para homenagear a minha antecessora, a pedagoga Glória Oliveira, ressaltando que:  
MARIA DA GLÓRIA DE QUEIROZ OLIVEIRA, nasceu em 12 de fevereiro de 1953, na cidade de Cruzeiro do Sul. Filha de Pedro Gomes de Oliveira e Antônia de Queiroz Oliveira. É membro da Academia Acreana de Letras, desde 1987, na cadeira de nº 20, cujo Patrono e Membro Fundador são, respectivamente, Emílio Göeldi e Roberval Cardoso. E, numa fase mais recente foi elevada à categoria de Membro Emérita. Iniciou seus estudos no Instituto Santa Terezinha, em Cruzeiro do Sul.
Glória Oliveira é licenciada em Ciências Físicas e Biológicas, pela Universidade Federal de Pernambuco UFPE (1975); licenciada em Pedagogia, pela UFAC (1977), sendo, ainda, pós-graduada, em termos de especialização em: administração Escolar – Universidade Federal de Santa Maria – RS (1978); Metodologia do Ensino Superior – UFAC (1982); e Métodos Quantitativos em Educação, através do Convênio UFAC – UFC (1983).
 Iniciou suas experiências em sala de aula, no ano de 1968, no “Colégio São José”, em Cruzeiro do Sul, permanecendo nesta unidade escolar até o ano de 1970.  Em 1975 prestou concurso público na UFAC, para o provimento de cargo de agente administrativo, porém na prática exerceu atividades relativas à Secretaria e Assessora.
No ano de 1978 ingressa no quadro docente do Curso de Pedagogia, da Universidade Federal do Acre, permanecendo nesta função até 1996, quando se aposentou. Se notabilizou pela seriedade e competência no cumprimento do que se propõe a realizar.
Exerceu o cargo de Coordenadora Pedagógica do IESACRE, (2000 – 2006), faculdade privada localizada em Rio Branco, que, juntamente com a Professora Clara Bader e Maria José Bezerra, foi uma das fundadoras. Porém, esta instituição foi vendida e passou a integrar a UNINORTE.
Os trabalhos desenvolvidos por Glória Oliveira, consistiram em Projetos de criação de cursos, materiais alusivos à legislação Superior de Ensino e ao Projeto Pedagógico para UFAC, “Sapupema, a comunicação cabocla com o saber amazônico”, durante a gestão do Reitor Sansão Ribeiro, além de artigos publicados nos jornais locais e dos trabalhos de conclusão dos cursos realizados (Graduação/especialização).
Todavia, no exercício docência, a peculiaridade de Glória Oliveira, consistia em repensar o ensino, principalmente, de 1ª a 4ª série, no que se refere aos índices de repetência e evasão escolar.
Neste sentido, em parceria com, a também, pedagoga, Clara Bader, elaborou e publicou os resultados de uma pesquisa desenvolvida por elas, no livro “Educação Ambiental para alfabetizar crianças repetentes de 1ª a 4ª série”, que se constituiu uma inovação no contexto da época.
Hoje, Glória Oliveira, além de se manter atualizada, continua apaixonada pela educação, no entendimento de que esta é fundamental para re-humanizar a humanidade.
Senhores, senhoras!
Parabenizo aos demais confrades e confreiras que hoje ingressam neste Sodalício.
Agradeço aos amigos, aos leitores e familiares pelo incentivo. Aos colegas de trabalho da escola Estadual Samuel Barreira em nome da diretora Adriana Lima.
Aos meus filhos, Jerllyano, Gelciano e Luana Cordeiro Oliveira pela paciência.
À pessoa que é amigo, confidente, parceiro, e, que todos os dias insiste em me fazer acreditar que a alma gêmea existe e nunca é tarde para recomeçar uma nova história de amor, Dorielsom Lima.
Para concluir, minha saudação ao Sodalício desta Augusta Casa que hoje adentro.
Muito Obrigada!

29/07/2020

DISCURSO DE POSSE DO ACADÊMICO PROF. DR. ALEXANDRE MELO

Discurso de Posse
Alexandre Melo de Sousa - Cadeira 01
Exma Sra, presidente da Academia Acreana de Letras, Dra. Luísa Galvão Lessa Karlberg;
Exmos. Acadêmicos do Sodalício;
Demais autoridades;
Estimados Convidados, boa noite!

Para mim é tarefa de grande alegria e honra estar aqui na Academia Acreana de Letras, na qual, por eleição no ano corrente, passo a ocupar a Cadeira de Número 1.
Este é o momento de celebrar a vida em todas as suas dimensões e acepções. Celebrar a vida desta Academia, lugar que fez brotar no meio dos mistérios e da exuberância de uma floresta, outras formas-flor: as letras – estas plantadas nos terrenos de papel e hoje brotando em telas de computador.
Celebrar a vida dos meus irmãos nordestinos, cearenses, que aqui chegaram, em séculos passados, carregando em suas bagagens sonhos de uma vida melhor.
Coloco-me na condição deles e de todos os outros brasileiros que aqui chegaram, pois, também nordestino e cearense, aqui fui acolhido com minha força de trabalho, força essa diferente dos meus primeiros conterrâneos que faziam escorrer a borracha dos sulcos das árvores. No meu ofício, procuro tirar das palavras a matéria prima para contribuir com o cenário cultural do Acre, do Brasil.
Nesta celebração, o nome de Aprígio de Menezes deve ser lembrado, pois é o Patrono da cadeira que passo a ocupar. A cadeira de número 1, como disse anteriormente.
O Dr. Aprígio de Menezes nasceu na Bahia. Formou na Faculdade de Medicina de Salvador em 1867, logo viajando para a então Província do Amazonas, fixando residência em Manaus. Era poeta e publicou diversas obras, dentre elas: “Névoas Matutinas” (versos); “Almanaque da Província do Amazonas de 1884”; “História do Amazonas” em 1884. Foi deputado provincial de várias legislaturas, tendo seu nome indicado para deputado a Assembleia legislativa do Império, para o período de 1881-1884.
O Dr. Aprígio de Menezes faleceu em Manaus, sendo sepultado em 19 de abril de 1891 no cemitério de São João Batista em Manaus.
 Também celebro o nome do professor Dr. Jorge Araken Faria da Silva, que foi elevado ao quadro de eméritos, no último mês de setembro. Tive a honra de assistir à solenidade pública da referida elevação e me emocionei muito com suas palavras no momento de seu discurso. Aqui destaco: “nada mais sou que um aprendiz!”.
Sim... todos nós somos aprendizes. Somos aprendizes da vida, dos outros e, principalmente, de nós mesmos. No entanto, quase nunca nos damos conta disto...
Dr. Jorge Araken Faria da Silva, meu antecessor, é bacharel em Ciências Jurídicas Sociais pela Faculdade Nacional de Direito, desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Acre e professor aposentado da Universidade Federal do Acre. É diplomado pela Escola Superior de Guerra, mestre em Direito Processual pela Universidade de São Paulo, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Acre, da Academia Acreana de Letras, do Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/AC), tendo sido também professor da Escola Superior da Advocacia da OAB/AC.
De ambos, Aprígio de Menezes e Jorge Araken Faria da Silva, procurei recolher ensinamentos e o amor por este povo que, com certeza, busca neste espaço de cultura, arte e saber, caminhos para trilhar sua aventura humana.
Além de celebrar, é o momento de refletir o futuro. Futuro este do qual agora faço parte, já que me concederam a honra de figurar entre os grandes nomes das letras acreanas.
Pensando na história e na frágil condição humana, tenho em mente um sonho: trazer cada vez mais o povo até este centro de saber, ao mesmo tempo que tenho como missão levar meu conhecimento aos povos cuja vida existe no interior deste estado, no interior deste Brasil tão rico e tão carente ao mesmo tempo.
Penso, com carinho especial, na comunidade surda, da qual, mesmo sendo um ouvinte, faço parte por participar tão fortemente, junto aos surdos, pela educação inclusiva, para valorização da língua de sinais, das produções em literatura surda, da cultura surda e da valorização e do respeito da identidade surdo. Este é um espaço das letras. A Academia Acreana de Letras é um espaço de vocês também.
Aceito esta cadeira com humildade, mas também com a alma cheia de orgulho... não somente por mim mesmo, mas por uma grande mulher: minha mãe, Marlene de Melo - que hoje está aqui representada por meu irmão: Adriano Melo de Sousa. Este momento é de todos nós... e é por todos nós!
     São Tomás de Aquino em seu ‘Tratado da Gratidão”, estabelece três níveis para o ato de agradecer: O primeiro nível é o do reconhecimento do benefício recebido. Quando dizemos ”thank you”, em inglês, por exemplo, expressamos o reconhecimento pelo favor que recebemos. Está diretamente ligado ao nosso intelectual, pois precisamos pensar e ponderar para então reconhecer determinado feito; O segundo é o nível do agradecimento, que consiste em louvar e dar graças. Ao falar ”merci” em francês, ”gracias” em espanhol ou ”grazie” em italiano, estamos dando uma graça por aquilo que recebemos; O terceiro é o nível mais profundo, o nível da retribuição, do vínculo. Nos sentimos vinculados e comprometidos a retribuir o outro. A expressão portuguesa ”obrigado” é a única que expressa o nível mais profundo de gratidão. A singularidade e a beleza do agradecimento de nossa língua são fortemente expressas pela palavra. 
       Aqui, então, expresso meu MUITO OBRIGADO!
       Obrigado a todas as famílias às quais me vinculo: à UFAC, à APADEQ, aos meus diletos amigos, aos meus amados familiares, e ao Sodalício da Academia Acreana de Letras.
Mais uma vez: Muito obrigado!

12/05/2020

DISCURSO DE POSSE DO ACADÊMICO PROF. DR. EDUARDO DE ARAÚJO CARNEIRO - Cadeira 38



Discurso de Posse
Acadêmico Eduardo de Araújo Carneiro - Cadeira 38

Digníssima Presidente da Academia Acreana de Letras

SENHORAS E SENHORES,
AUTORIDADES,
CONFRADES, AMIGOS
E A TODOS OS PRESENTES
Meu Muito Boa Noite,

Foi com muita alegria e satisfação que recebi a notícia de ter sido eleito como imortal dessa honrosa academia. Por isso, quero, desde já, agradecer publicamente àqueles que me dignificaram com os seus respectivos votos, em especial a Professora Dra. Maria José Bezerra, minha patrocinadora, a quem coube a missão de me indicar ao Sodalício. Quero também estender os meus agradecimentos a todos os confrades que, mesmo não tendo votado em mim, estão aqui presentes para me acolher nessa cerimônia de posse.
Na minha vida, tudo parece acontecer de maneira bem natural. Há 15 anos eu nunca me imaginaria um professor universitário, nem um escritor, nem um editor de livros, nem um doutor, muito menos um “imortal”. Há 15 anos eu era mais um policial militar à serviço da manutenção da ordem pública. Mas a minha grande virtude foi nunca ter parado de estudar. O que me faltou na escola pública, onde sempre estudei, eu ia buscar nos livros por esforço próprio. E foi dessa forma que adotei a Cultura do Livro como estilo de vida. Abdiquei das “festinhas e baladas” de convites fáceis como é para qualquer jovem e, desde cedo, dediquei-me aos livros, mesmo vindo de uma família cujos pais eram semianalfabetos.
A dedicação às leituras acabou me afastando do convívio social e muito dos meus amigos passaram a dizer que havia me tornado “um ser um tanto antissocial”. Mas a leitura é uma atividade de caráter individual: eu tive que pagar o preço. Com o tempo, valeu em mim o provérbio: “quem muito lê um dia se depara com a vontade de escrever”. Com 21 anos escrevi meu primeiro livro “O Perigo da Apostasia” ainda por ser publicado, que espelhava bem o jovem religioso egresso do curso de Teologia. Passei a escrever artigos para jornais até ser colunista durante meses em um jornal local. Hoje, aos 38 anos, tenho 5 livros publicados e mais três em fase final de redação. Apesar das minhas limitações, de uma fase difícil pelo qual venho passando em minha vida particular, ainda consegui colaborar com alguns autores locais, alguns dos quais presentes nessa solenidade, editorando seus respectivos livros. Ao todo já foram mais de 30 livros editorados em menos de 1 ano, de modo que eu acho que serei lembrado no futuro mais como editor do que como escritor propriamente dito. Se assim o for, ficarei feliz com isso.
Todos nós da AAL estamos imersos na cultura do livro, mesmo sem saber. Essa cultura não se restringe apenas à fomentação do hábito da leitura. É preciso promover e valorizar todo o processo que envolve a produção e o consumo do livro. Nesse processo que o ESCRITOR assume um papel fundamental. A biblioteca, templo do livro, também.  E eu como editor estou na base, como um parteiro que ajuda a nascer um filho alheio.
O poder público deveria ser o maior promotor da cultura do livro, no entanto, em nosso Estado, as Fundações de Cultura estão sucateadas e inoperantes. Mas nem mesmo a Secretaria de Estado de Educação tem se atentado para isso. Na minha opinião, os estabelecimentos de ensino deveriam estar comprometidos com a “articização do escritor” e a “manumentalização das bibliotecas”. Ora, o que é isso afinal?
Valorizar a cultura do livro é, acima de tudo, adotar uma política de ensino que trate o escritor como celebridade, como um artista. (Torná-lo notório. Engrandecê-lo, enobrecê-lo, evidenciando-o nas mídias). Isso porque valorizar a cultura do livro é tratar as bibliotecas como um monumento. Um local de apreço, em as pessoas se sintam atraídas a apreciar a beleza estética das curvas do conhecimento.
Afinal, se escrever fosse fácil, a comunidade letrada seria composta por escritores. Porém, o máximo que se consegue, mesmo após terminar uma faculdade ou até mesmo um doutorado, é se tornar AUTOR de uma monografia ou tese. E vocês sabem que há uma diferença muito grande em ser autor e escritor. Então vamos homenagear os com as devidas honras. 
No entanto, falta CULTURA DO LIVRO mesmo em estabelecimentos que deveria sobejá-la. Vou citar apenas o caso da Universidade Federal do Acre:
- Eventos como este da posse de dois imortais não estão sendo prestigiados por representantes da IFES, mesmo tendo um dos seus funcionários agraciados com a imortalidade literária;
- Biblioteca e Editora sucateados;
- Coisas escabrosas acontecem, por exemplo, na FICHA DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DOCENTE temos:
- LIVROS publicados por editoras de circulação regional = 0,6 pts
- Revisão de um documento institucional da UFAC = 0,3 pts
- Editoração de livro = 0,0 pts
- Cargo em comissão em pró-reitoria = 6 pts

 Vejam que há uma pedagogia interna na UFAC de valorizar aquele que assume cargos técnicos em vez de valorizar aquele que escreve livros ou ajuda outro a publicar, como é o caso do editor.
Bem, assumo a cadeira nº 38, que tem por PATRONO Plácido de Castro e como meu antecessor Jarbas Passarinho. Pelo ritual do Sodalício, o MOMENTO AGORA É DE REVERÊNCIA. Como novo imortal, teria que, neste momento, reverenciar e destacar as virtudes do meu Patrono e do meu Antecessor. No entanto, como pesquisador que sou, após consultar o patrimoniada literário deles, me dei conta que se tornaram "IMORTAIS" mas por conta da atuação política que tiveram do que propriamente de seus dotes na arte da escrita.
Mas eu tentei manter-me em uma visão ACREANOCÊNTRICA e, numa leitura vaidosa dos meus antecessores, destacar, meio que usando uma “lupa” suas qualidades no campo da literatura. No entanto, como historiador que sou, tenho lentes “anti-epopeicas” e acabo desacreanizando tudo.
       PLÁCIDO DE CASTRO (1873-1908) - Por ironia do destino assentar-me-ei na Cadeira de N° 38, cujo Patrono é nada menos que José Plácido de Castro. Digo ironia, pois nos meus livros o militar recebe um devido julgamento histórico desapaixonado de acreanismo. Portanto, da minha boca não receberá elogios. Nem como escritor, nem como pessoa.
JARBAS PASSARINHO (1920-2016) - Xapuriense, nascido em janeiro de 1920, no entanto, pouco contato teve com o Acre, uma vez que desde os três anos foi morar no Pará. Tornou-se um oficial militar, essa era a sua profissão. Nos tempos da Ditadura Militar de 1964, se tornou político. Foi um dos principais porta-vozes da Ditadura Militar no Estado do Pará, indicado como governador do Pará (1964-66).
Menos conhecida é sua atividade como escritor e intelectual: em 1949, ganhou prêmio de concurso da Prefeitura de Belo Horizonte com o conto “Um Viúvo Solteiro”. Em 1959, com o romance “Terra Encharcada”, recebeu da Academia Paraense de Letras o prêmio Samuel Wallace Mac Dowell.
Em maio de 1991, lançou “Na Planície”, o primeiro volume de suas memórias. Em 1996, o conjunto das memórias foi publicado com o título “Um Híbrido Fértil”. Autor de outras obras, como “Amazônia, o Desafio dos Trópicos” (1971) e “Liderança Militar” (1987). Em 1967-1969 foi Ministro do Trabalho. Atuou na pior fase da Ditadura (Mais de 100 sindicalistas foram destituídos).
Quando COSTA E SILVA propôs o famigerado Ato Institucional nº 5, em 1968, como Ministro, ele foi um dos que o aprovou.
De 1969 a 1974 foi Ministro da Educação. (MOBRAL e UFAC)
De 1981-83, Presidente do Senado Federal.
De 1983 a 85, foi Ministro da Previdência Social.
De 1990-1992, Ministro da Justiça (Collor)
1967-83, Senador pelo Pará.
Tornou-se articulista do Estado de S. Paulo e ficou famoso por eleger o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) como alvo de suas críticas. Enfim, foi um homem cuja importância política excedeu à literária.
EPÍLOGO
Para finalizar, quero dedicar o meu ingresso nessa honrosa Academia à minha mãe, Helena de Araújo Carneiro, uma niteroiense (RJ) que residiu no Acre por mais de 15 anos e que veio a falecer, precocemente, por conta de um diagnóstico errado dado em um hospital público de Rio Branco. A essa mulher dedico o meu ingresso, uma analfabeta que soube, do jeito dela, ensinar os seus filhos a se dedicarem aos estudos, de modo que um virou professor universitário, outra enfermeira e outra médica. Que fique registrado nos anais desta Academia o nome dela, para que seja honrada in memoriam, já que em vida, foi somente mais uma anônima residente na periferia de Rio Branco.
Encerro o meu discurso declamando um poema de minha autoria, que foi publicado no meu livro intitulado POESIAS NOTURNAS, que seria lançado aqui, neste evento, caso não tivesse ocorrido alguns contratempos. O poema que vou declamar é dedicado a pessoa mais importante da minha vida, a minha filha Sarah Cristina.

Oh, minha pequenina,
Papai sempre vai te amar,
Ao teu lado,
Continuamente vou estar,
E entre os meus braços,
Eternamente iremos brincar.

E mesmo quando a velhice me assaltar,
E o meu vigor me abandonar,
Ao ponto de o meu corpo
Não conseguir sustentar,
O meu espírito há de me renovar.

A tua cabeça, em meu seio irás reclinar,
Para dos meus lábios os teu ouvido escutar,
Pois em versos irei declamar:

Minha primogênita,
Comigo podes contar,
Pois neste mundo nada vai nos separar,
E quando para os teus braços eu não mais voltar,
E a minha trêmula voz em um suspiro falhar,
E ao pó da terra o meu corpo tombar,
As minhas lembranças te farão dizer com fervor:
- O meu pai sempre foi o meu primeiro amor.


Eternamente seu pai,
Eduardo de Araújo Carneiro,