05/12/2019

DISCURSO Prof.ª Dr.ª Luísa Karlberg, por ocasião da visita do Presidente da ABRAFIL e diplomação de imortais por mérito acadêmico e Cultural


DISCURSO Prof.ª Dr.ª Luísa Karlberg, por ocasião da visita do Presidente da ABRAFIL e diplomação de imortais por mérito acadêmico e Cultural

Estou dirigindo há Academia Acreana de Letras há exatamente três anos. Tem sido uma das tarefas mais difíceis que tive na vida. Aqui estão reunidas as cabeças mais fantásticas e fabulosas do Estado do Acre. Cada um possui suas peculiaridades, seu modus vivendi, sua cultura, jeito de sentir e olhar o mundo. Liderar grupo tão seleto sem cometer erros é uma tarefa impossível. Com todo amor que tenho pela AAL, com todo o respeito e carinho que dedico aos meus pares, sempre haverá olhares diferenciados de ambos os lados. Por isso tudo, permitam-me, eu ando reflexiva, às vezes entristecida com uma missão que não me cabe à mão, na justa medida.
Por tudo isso, nesta noite, desejo fazer reflexões sobre convivência/diversidade/respeito.  E, embora seja complexo e desafiador, conviver com a diversidade, é um imperativo inseparável da promoção dos direitos humanos, o que implica, entre outros pontos, o respeito e o reconhecimento das diferentes formas de viver e sentir a vida. Conviver com a diferença, seja ela de pensamento, étnica ou social, sempre foi um desafio durante a história humana. Portanto, entendo, que a dificuldade em lidar com as diferenças é uma tendência humana. Isto porque o diferente sempre desacomoda exigindo um exercício intelectual e emocional distinto do que estamos habituados. Aquilo que não compreendemos parece, no primeiro momento, como incorreto, uma vez que não é reconhecido e aceito por nós. Assim, não havendo uma logica e um sentido, tende a ser desclassificado e negado.
Portanto, eu não trago tema novo, faço uma reflexão e vos convido a acompanhar. A resistência em lidar com o diferente está dentro de nós. Temos dificuldade de lidar com mudanças muitas vezes pequenas, como a alteração de comportamentos ou hábitos que mesmo não sendo bons para nós, são ainda mantidos, como se o diferente gerasse insegurança e desorientação ou até mesmo estivesse errado. Mas de toda diversidade, há uma frase fantástica que aqui trago: Não importam as dificuldades que a vida coloca à sua frente, e sim as atitudes que você vai tomar diante delas (Horácio Massuanganhe).
Conhecer, respeitar e conviver: porque parece ser tão difícil? Acredito que a dificuldade maior, é cada um perceber que o sagrado que carrega consigo não precisa ser maior que o do outro. Nossa atitude pode ser  parecida à dos hindus que, sabiamente, dizem “Namastê – O Deus que habita em mim, saúda o Deus que habita em ti.” Essa deveria ser sempre a nossa atitude diante do que é diferente: deixar que meu sagrado respeite, louve, se alegre com o sagrado do outro. Não tentar impor que um está certo e o outro errado, ou tentar fazer que minha fé, meu sagrado seja soberano, seja o verdadeiro “divinizado”. Conhecer para respeitar, respeitar para conviver.
Encontrei um texto, que desconheço o autor, mas que trago à nossa reflexão:
“Se foi pra diferenciar
Que Deus criou a diferença
Que irá nos aproximar
Intuir o que Ele pensa
Se cada ser é só um
E cada um com sua crença
Tudo é raro, nada é comum
Diversidade é a sentença
A humanidade caminha
Atropelando os sinais
A história vai repetindo
Os erros que o homem trás
O mundo segue girando
Carente de amor e paz
Se cada cabeça é um mundo
Cada um é muito mais”.
Assim, o conviver com o outro - que nós muitas vezes chamamos "diferente"- nos faz sair do mundo individual e social a que estamos acostumados e abre diante de nós um universo a ser explorado e vivido. A diversidade torna-se pouco a pouco um valor, transforma-se em riqueza e faz saborear a vida numa amplitude mais profunda. A diversidade é uma realidade no convívio humano, em particular, no espaço da migração. Esta, quando aceita, torna-se fonte de mudança e riqueza, e quando rejeitada, torna-se razão de medo, agressividade e discriminação.
João Paulo II, em seu discurso na Assembleia da ONU, a 5 de Outubro de 1995 dizia a respeito da diversidade cultural:
Querer ignorar a realidade da diversidade – ou pior ainda, tratar de anulá-la - significa excluir a possibilidade de explorar as profundidades do mistério da vida humana. A verdade sobre o homem é o critério imutável com o qual todas as culturas são julgadas, mas cada cultura tem algo a ensinar acerca de uma ou outra dimensão daquela complexa verdade. Portanto, a diferença que alguns consideram tão ameaçadora poderá ser, mediante um diálogo respeitoso, a fonte de uma compreensão mais profunda do mistério da existência humana.

Logicamente, existem algumas "regras de convivência" que ouvimos desde criança e crescemos com elas. Nossos pais nos ensinam que devemos respeitar o próximo porque isso é o correto, que não devemos julgar ninguém, que precisamos ser tolerantes, etc. Até que alguma coisa aconteça e nos faça criticar, julgar e tomar atitudes contraditórias. Ocorre, como falei alhures, que vivemos em um mundo plural: diferentes religiões, crenças, costumes, gostos, etnias. Diversas coisas que nos separam em “classes” e que acabam afastando grandes ideias de se moverem pelo mundo. Uma ideia pode simplesmente mudar tudo o que está à nossa volta. A ideia tem de ser “revolucionária” e essa revolução está em cada vez mais aceitarmos a diferença de outra pessoa e a compartilhar o que existe em meio a essa diferença.
O grande desafio é fazer com que as pessoas não usem as diferenças com o intuito de julgar e ou subjulgar, mas sim, de promover um encontro entre as diferenças. As diferenças sempre existirão, mas se cada um fizer a sua parte, conhecer e respeitar o sagrado do outro, superando a ideia de certo e errado, elas irão se enfraquecer, até o ponto de que as tentativas de “salvar a fé” serão deixadas de lado e o compartilhamento das ideias se fará grande e necessário para que a convivência harmônica seja realmente um fato real e existente em nosso mundo.
No dicionário a palavra mérito significa merecimento, aquilo que torna alguém digno de reconhecimento, elogio, recompensa, valor e prêmio. Na AAL todos os imortais são importantes, todavia alguns se destacam pelo zelo, dedicação, presteza e, sobremaneira, um trabalho de excelência que engrandece a instituição, sob variados aspectos, seja de divulgação da AAL junto à comunidade, seja no trabalho com o idioma, a literatura, seja na preparação de textos científicos e obras literárias, n editoração, no trabalho junto aos estudantes, enfim uma labuta que eleva os feitos do sodalício e, em muitas oportunidades, proporciona, aos estudantes, o diálogo para além das reflexões tidas em sala de aula.
Para nós, a literatura é olhada e sentida como um dos elementos de construção do pensamento social, considerando que almeja uma direção para os verdadeiros valores da nacionalidade ao evidenciar crenças e percepções pessoais, possibilitando que os seres humanos possam refletir no seu modo de ver a vida e de estar no mundo.
De acordo com o “Dicionário Brasileiro Globo”, a palavra literatura que se originou
do latim “litterae” que significa letras, pode ser compreendida como “arte de compor obras literárias; carreira de letras; conjunto de trabalhos literários de um país ou de uma época; os homens de letras”. Logo, pode-­se perceber que a definição de literatura está ligada à concepção estética, onde a proposta inicial é possibilitar uma sensação de prazer e emoção ao receptor.
Entretanto, apesar de ser considerada ficção por muitos, esta demonstra o cotidiano da
humanidade dentro de um contexto temporal e espacial, consagrando­-se, ao mesmo tempo, como indicadora de estruturas. Dessa forma, os textos literários possibilitam a realização de leituras dos princípios defendidos pela nação ao almejar uma direção para os verdadeiros valores da nacionalidade, visto que expõem as diversas transformações políticas e sociais vivenciadas por uma sociedade. Portanto, por ser um dos instrumentos de construção teórico­-metodológica da interpretação da realidade, isto é, tudo o que existe de maneira perceptível ou não, a literatura por meio de sua textualidade, ajuda a compreender a constituição da vida intelectual e da sociedade pertencente a um determinado momento histórico.
Nossos imortais, como Olinda Batista, Eduardo Carneiro, Maria José Bezerra, Edir, Mauro, Carile, Renã, Cecília, Telmo, Profiro, Álvaro, Claudemir, Dalmir, Margarete, Araken, Sílvio, Reginâmio, dentre os demai da confraria, procuram destacar os valores históricos, literários, culturais do Acre, em obras fantásticas. Alguns, mais científicos, produzem atlas regional, observando, cuidadosamente, o comportamento linguístico entre as camadas sociais, os gêneros, as faixas-etárias, a escolaridade, os espaços geográficos. Outros buscam reconstituir a história, muitos recontam  o viver humano em prosa e verso, mas todos buscam mostrar o valor, o gênio, a graça, o encanto do povo que aqui vive e, assim, deixar fotografias do tempo presente para o tempo futuro. E tudo isso não se faz sem essa ferramenta fantástica que o idioma pátrio, a Língua Portuguesa que tão bem exaltou o Prof. Dr. Antônio Martins, a quem nesta noite louvamos, agradecemos, por sua contribuição ao Acre, por 19 anos. Ficamos numa jornada de pós-graduação por quase duas décadas, formamos, nesse tempo, professores para a nossa UFAC, em especial para o Campus Floresta, onde realizamos seis edições Lato Sensu em Língua Portuguesa. Ainda formamos os gestores educacionais que atuam em Sena Madureira e muitos em Rio Branco, num total de 400 professores.
Há pessoas que têm o poder de transformar vidas, o Senhor, Dr. Antonio Martins, é uma destas pessoas. Mais do que um professor, o Senhor é um mestre, uma pessoa que nos inspira a querermos ser a melhor versão de nós mesmos. Com o Senhor aprendemos muito mais do que teoria, aprendemos valores humanos para colocarmos em prática. O Senhor é um é um mestre generoso, que tem o dom de ensinar com simplicidade. O Senhor consegue despertar em nós a curiosidade e a vontade de aprender sempre mais. O Senhor será sempre para nós uma referência de ética e amor pela profissão. Obrigada, querido professor, pela sua dedicação e paciência, obrigado por transmitir todo o seu conhecimento e sabedoria, obrigada por nos fazer sonhar e acreditar em nossas capacidades!
Para concluir, digo que para ganhar conhecimento é fundamental adicionar coisas, na vida, todos os dias. Para ganhar sabedoria é necessário eliminar coisas, na vida, todos os dias. Aos diplomados meu respeito e estima, sempre. Ao sodalício, aos professores, alunos, amigos da Academia, deixo a nossa estima e gratidão por nos prestigiarem nesta noite tão significativa para a AAL.

Muito Obrigada!

DISCURSO DE POSSE – ENILSON AMORIM DE LIMA, chargista, historiador, escritor e membro da Academia Acreana de Letras- AAL, ocupando a cadeira de número 07.


DISCURSO DE POSSE – ENILSON AMORIM DE LIMA, chargista, historiador, escritor e membro da Academia Acreana de Letras- AAL, ocupando a cadeira de número 07.

SAUDAÇÃO
Minha ilustre Presidente, Prof.ª Dr.ª Luísa Galvão Lessa Karlberg, ilustres confrades que comigo hoje adentram na Academia Acreana de Letras, demais pares do sodalício, autoridades presentes, familiares e amigos, eu Vos agradeço por estarem aqui iluminando, com vossas presenças, esta noite inesquecível para mim.
I - Minhas primeiras palavras são de agradecimento ao sodalício da AAL que me elegeu imortal da cadeira nº 07; agradeço e louvo a Deus que permitiu minha caminhada até esta Augusta Casa. Agradeço a minha amada mãe, dona Francisca Amorim de Lima, ao de meu pai Manoel Rufino de Lima, que me conceberam no amor e nele me criaram.
II - Louvo o meu antecessor Emérito: GERALDO FREIRE BRASIL, escritor, natural de Tarauacá. Ele exerceu cargos de muita influência em nosso Estado, dentre tantos, podemos destacar: 1)  Servidor público, que honrou e dignificou seu cargo; 2) chefe de polícia do antigo Território Federal do Acre; 3) jornalista, assim como eu, trabalhou em diversos estados do norte brasileiro, dentre os quais ganhou destaque no Pará, Amazonas, Rondônia e no Acre; 4) Fundador da revista “Observador Amazônico”, cujo teor visava mostrar os aspectos culturais e antropológicos da população amazônica; 5). Seus trabalhos dão destaque às imagens fotográficas que denotam sua paixão pelas artes visuais, prova disto, foi seu envolvimento com a sétima arte no Estado de Minas Gerais, quando por lá esteve e fundou, juntamente a outros intelectuais, “O Clube do Cinema”, quando convidou o grande Heitor Villa Lobos  para uma apresentação na cidade mineira, no ano de 1947; 6 ) É pai do grande maestro, também imortal emérito da AAL, Prof. Dr. Mário Lima Brasil; 7) autor do livro de poemas “O Rosto do Povo”, publicado pela Editora Morais, em 1988. Ali, nas páginas, 71 e 73 denuncia “A Morte do Rio”, a poluição dos igarapés, conforme se avista nos versos: “Espumas esbranquiçadas de bordas sangrentas cobriam a superfície do rio/ Motivos não faltavam, mas o rio seria mudo se pequenos murmúrios não acompanhassem o deslizar manhoso de suas águas poluídas”.
Aqui digo um pouco do grandioso imortal Emérito da AAL, Geraldo Freire Brasil, que tenho a honra e felicidade de sucedê-lo em vida. Rogo a Deus por sua saúde e vida plena de felicidade. Prometo ser um imortal merecedor de tão digna autoridade intelectual e humana.
III - O Patrono desta cadeira número 7 é o médico sanitarista AMARO THEODORO DAMASCENO. Dele obtive informações no jornal “O Acre”, onde ali o exalta como Diretor de Diretor de Saúde Púbica do Território do Acre, quando exerceu a função de 1929 até 1936, interinamente, nomeado pelo interventor Assis Vasconcelos, então Prefeito de Rio Branco, nos anos 1931-1932.  Todavia, a sua história literária findou sendo sepultada e esquecida pelo pouco apreço  que se deu, outrora,  por administrações passadas, em resguardar a história e a memória de nossos imortais. Por toda essa lacuna que muito me deixa entristecido, deixo firmada aos seus familiares e descendentes, a  asseveração de tratar-se de homem das letras e de lindas palavras que, infelizmente, foram arremessadas aos vento, por uma política que nunca esteve preocupada em resguardar a memória dos literatos.
IV - Sobre ENILSON AMORIN DE LIMA – este que vos fala, e hoje toma assento na cadeira nº 7, dantes pertencentes a tão valorosos homens públicos e senhores das letras e da ciência médica, o menino que saltava da ponte para banhar-se nas águas barrentas do rio Acre, tornou-se homem, pai de família, amigos dos amigos, respeitador dos costumes e tradições, amante das letras e dos bons livros. Hoje me sinto muito feliz por tomar assento na cadeira nº 7, ser confrade de pessoas tão ilustres do sodalício acreano. Serei guardião dos escritos, do logos e de todos os códigos que compõem a nossa formidável língua portuguesa, que é o nosso maior pecúlio. Além disso, defenderei a literatura como o mais sublime instrumento de construção de uma sociedade. Isto porque a obra literária é um testemunho da linguagem da vida social, carregada de significados próprios e cujo valor não reside apenas em sua capacidade de dar respostas concretas a questões pontuais do viver humano. A literatura traduz o próprio viver humano.
Então, para finalizar, vos digo que o menino que mergulhava nas águas barrentas do rio Acre, no segundo distrito, trabalhava vendendo quibe e refresco nas ruas do bairro do Taquari, hoje assentado entre imortais é um testemunho de que as letras, a literatura e as artes sempre serão braços fortes para retirar inúmeros Enilsons das vielas, becos e ruelas da vida, a quem, muitas vezes, não tem amparo do poder público. Os livros são democráticos, assim como o conhecimento.
Fui alfabetizado por uma brilhante professora de nome Mariazinha, que me ensinou as primeiras letras na escola Anita Garibaldi. E nesta noite Vos confesso:  Esta professora nunca saiu de dentro de meu coração. Aos 17 anos, comecei a trabalhar em jornais, inicialmente de forma principiante, utilizando a primeira forma de comunicação humana: o desenho. Essa técnica eu dominava desde os 5 anos de idade. Todavia, o  barulho das antigas Olivetti, na redação do matutino o Rio Branco, criava uma sonoridade bela em meus ouvidos e anunciava que minha missão também era o uso das palavras.  E foi entre a junção de textos, traços e cor que nasceu minha primeira obra “Mapinguari a Lenda”, gerado no ventre do jornalismo, berço de minha sabedoria, obra esta que se tornou o carro chefe de minha carreira e que encanta as crianças, desde que eu a idealizei e a publiquei. Essa obra foi meu acesso ao mundo literário.
  Então, senhoras e senhores, nobres imortais, meus pares da AAL, a minha vida está envolta num caldeirão de pobreza, esforço, trabalho, superação. Adentra, nesta Augusta Casa, na noite de hoje, 18 de novembro de 2019, a literatura infantil para educar, instruir e distrair as crianças  os adultos de amanhã. E neste ano de festa de 82 anos de fundação da Academia Acreana de Letras, seguirei seu farol  com minhas mãos enlaçadas as dos meus pares, para iluminar o caminho daqueles que buscam o conhecimento e a preservação do idioma pátrio, o respeito à literatura como guardiã da memória humana. Penso que “um  livro fechado é a boca implorando voz, igual aos sonhos da infância que se extraviaram de nós”. Esta frase do poeta e cantor Pirisca Grecco traduz o sentimento de uma ação simples, mas que pode mudar muita coisa na vida de alguém: a leitura.

DISCURSO PARA POSSE NA AAL Acadêmica: Maria José da Silva Oliveira – Cadeira 10


DISCURSO PARA POSSE NA AAL
Acadêmica: Maria José da Silva Oliveira – Cadeira 10
Data: 18.11.2019
Horário: 18 h
Local: Auditório do Tribunal de Justiça (TJ)
Rio Branco – Acre (BR)
Senhora Presidente da Academia Acreana de Letras, Autoridades, minha respeitosa saudação a Vossas Excelências, imortais do Sodalício da Academia Acreana de Letras, às autoridades, os professores, a comunidade, estudantes e familiares, senhoras, Senhores!
É com imensa felicidade que me dirijo ao seleto público a fim de me apresentar como acadêmica desta ilustre Arcádia. Fui eleita no pleito realizado no dia 13 de Setembro do corrente ano, recebendo o segundo maior número de votos: 22.
Tenho por PATRONO PEDRO DE ARAÚJO LIMA e sou sucessora, com muita honra, da Acadêmica Emérita, escritora e novelista Glória Maria Rebelo Ferrante, cadeira de número 10, a imortal que tanto prende à atenção dos telespectadores, quando de suas fabulosas novelas.
Concorri a uma vaga na AAL com o objetivo de contribuir para a grandeza desta tradicional Academia de Saberes, com a atividade que mais amo fazer: a literatura infantil.
     Meu Patrono é PEDRO DE ARAÚJO LIMA, O MARQUÊS DE OLINDA, estadista brasileiro, regente único e primeiro ministro do Império do Brasil. Ele foi Presidente do Conselho de Ministros, por muitos anos, e uma figura representativa da aristocracia rural do Nordeste, ligado aos elementos mais poderosos da lavoura açucareira. Estudou humanidades em Olinda. Em 1813 seguiu para Portugal onde se formou em Direito pela Universidade de Coimbra, retornando ao Brasil em 1819. Destacou-se, ainda, na política, tornando-se uma das principais figuras do movimento da Independência do Brasil. Com mais de 50 anos de vida pública escreveu vários ensaios sobre assuntos políticos e administrativos, inclusive um Projeto de Constituição para o Império. Portanto, eu vos digo que para mim, mulher, cabocla da Amazônia, que passou a primeira infância em colônias acreanas, é motivo de honra e orgulho ter importante personalidade da política brasileira por Patrono.
Minha antecessora da cadeira 10, a escritora acreana, de Rio Branco, GLÓRIA MARIA REBELO FERRANTE, mais conhecida como Glória Perez, é roteirista, novelista e produtora brasileira de descendência italiana, cuja trajetória, na televisão brasileira, é intensa, já tendo sido agraciada, entre outros países com o premio Emmy International de melhor telenovela no ano de 2010, pela a obra Caminho das Indias. Sua rica produção é notada por trazer temas de alcance social e de grande repercussão, inclusive internacional. Sinto-me duplamente honrada em suceder tão ilustre escritora brasileira, acreana.
     Quando criança, vivendo nas colônias acreanas, eu gostava de inventar histórias, para mim mesma, depois para as coleguinhas da escola e para a minha tia mais nova, Olindina Dias. Jamais imaginei que escreveria livros, tampouco que chegaria a ser eleita para a Academia Acreana de Letras. Tudo foi aconteceu, naturalmente, talvez decorrente do meu labor literário ao público infantil.
     Na adolescência cheguei a iniciar a escrita de poemas, mas estes se perderam nos cadernos do Ensino Médio. Foram tantas as vezes que escrevi poesias nos intervalos das aulas, quando concluia as tarefas ou quando, simplesmente, queria desabafar. Nesses momentos a poesia ajudava-me nos momentos intensos de paixão adolescente, de rebeldia ou de alegria. Fui criando, com a poesia uma intimidade de divã, e, nos meus textos, realizava a catarse de minhas emoções. Assim, digo que a poesia foi, foi por longos anos, a dileta companheira e a melhor amiga. Com a vida adulta vieram os compromissos com a profissão, a família, ficando esse meu hábito, por vezes, esquecido.
No ano de 2008 recomecei a escrever, no início timidamente, no blog Um Pensamento Virtual e fui recuperando, aos poucos, a antiga prática. E no intuito de criar um arquivo para não repetir o erro de perder meus novos poemas, publiquei meu primeiro livro, em 2015, DEVANEIOS, e desde então não consegui mais parar, porque estava envolvida com a literatura infantil escolar, com o objetivo de incentivar pequenos poetas nas escolas.
A partir de então consegui ampliar esse trabalho para outras escolas, com a ajuda dos amigos da Sociedade Literária Acreana (SLA), grupo que ajudei a fundar e fui a primeira presidente oficial. Depois veio o sonho de pertencer a Academia Acreana de Letras e, para alimentá-lo, segui escrevendo meus livros e alimentando meu blog com os textos que produzia. Publiquei meu segundo livro em 2016, um conto infantil, A Poção Mágica. Foi então que criei a performance teatral de apresentá-lo às crianças da minha cidade. Uma iniciativa que deu muito certo, porque agrada às crianças e os adultos também. Literatura e teatro é o casamento perfeito.
Nesse ano de 2019 publiquei mais três livros: Frida Poeta, um livro de poemas infantil; Beleza Misteriosa, um conto para adolescentes; Paixões, um livro de poemas juvenil, todos pela Editora SLA; ainda em dezembro deste ano, estarei lançando, agora, pela Academia Acreana de Letras (AAL), uma coletânea de textos intitulada Emoções Inesquecíveis, com 82 poemas, pela ocasião do aniversário de 82 anos da AAL.
     Aristóteles, na primeira abordagem antológica da literatura, nos ensina que ela é prazerosa, libertária e ainda, cura e ensina. Dizia que é “graças à imitação, a mimese, que a sociedade se capacita”, deleitando-se em seus prazeres, sendo a catarse, a sua finalidade. Por acreditar nessa premissa, foi que aos trinta e sete anos de trabalho, como especialista em educação, em escolas rio-branquenses, no Estado do Acre, que sempre priorizei a literatura no mundo escolar, tendo-a como instrumento de cidadania. Para reafirmar essa convicção sigo na tarefa de instrumentalizar as crianças desse conhecimento libertário, continua sendo meu maior prêmio da vida: libertar-se pelas letras, pelas palavras, pela escrita, pela literatura.
Nesse caminhar pretendo contribuir com a Academia Acreana de Letras, com aquilo que mais me fascina: fomentar a literatura no mundo infantil e juvenil, por meio das performances, letras e livros, no intuito de proporcionar ao jovem leitor a reflexão sobre a realidade e, principalmente, estimular a busca da leitura de mundo e de uma melhor atuação na sociedade, para que esses estudantes possam ser sujeitos protagonistas de suas próprias histórias.
     Tomo posse hoje da cadeira número 10, como acadêmica da instituição mais tradicional do Acre, a AAL, confiando no apoio dos meus confrades e confreiras, comunidade, amigos e familiares, para viverem comigo essa nova história de alegria, deixando para todos que comigo convivem esse legado de transformar a vida em poesia e histórias inventadas e contadas em livros, acreditando que posso contribuir na construção de uma sociedade leitora e mais rica em cultura no meu Estado do Acre.
Gratidão a Deus pelo dom da vida e por me permitir viver este momento. A minha família, pelo carinho e apoio constantes na caminhada; aos acadêmicos do quadro permanente e eméritos da Academia Acreana de Letras, que depositaram em minha pessoa o voto de reconhecimento e confiança, a minha emocionada gratidão; aos amigos e leitores, que hoje estão aqui, prestigiando este momento sublime, e que fazem parte dessa linda história, prometo seguir produzindo literatura, com ênfase na infantil. Isso porque sinto que nunca foi tão importante, como agora, produzir boa literatura infantil, porque as crianças são atraídas por milhares de coisas mais fáceis, instantâneas e mais baratas que o livro. Com boa literatura infantil, defende-se o livro.
  Muito obrigada!
                                                                                                           

DISCURSO DA PRESIDENTE DA AAL NA POSSE DOS IMORTAIS: Deise Torres, Enilson Amorin, Jefferson Cidreira, Maria José de Oliveira, Sebastião Isac de Melo



Excelentíssimos Imortais do Sodalício da Academia Acreana de Letras, Autoridades presentes ou representadas, senhoras, senhores.

Caríssimos imortais que nesta noite adentraram a esta Augusta Casa: Deise Torres, Enilson Amorin, Jefferson Cidreira, Maria José de Oliveira, Sebastião Isac de Melo
Tendo a cultura das letras e o saber emanado delas, como Presidente desta instituição eu não poderia saudá-los se não conhecesse a escrita. Não poderia ter votado em Vossas Excelências. Não estaríamos, aqui, reunidos se não existisse a escrita, essa ferramenta fantástica que veste e anima o pensamento humano e ilumina, na noite de hoje, a Academia Acreana de Letras, neste rito solene, na semana de aniversário de 82 anos, a contar de 1937.
 Permitam-me, caríssimos acadêmicos, percorrer, um pouco, os caminhos da escrita, a importância do livro na constituição das culturas das sociedades humanas. Somente desta forma estarei saudando a poetiza e bacharel em Direito Deise Torres, o historiador, chargista, jornalista e literato infantil Enilson Amorim, o historiador e poeta Jefferson Cidreira, o teólogo, poeta e cordelista  Sebastião Isac de Melo, a professora, pedagoga, poeta e literata infantil Mazé Oliver, personalidades que nesta noite usam, pela primeira vez, a veste talar da Academia Acreana de Letras.
Vemos o longo passo da difusão da cultura oral para a cultura escrita, que levou entre 25 a 30 séculos. Repentinamente, com a televisão e o computador, é possível ao jovem, de hoje, passar da cultura oral para uma nova forma de cultura, a visual, algo, antes, nunca imaginado. Da mesma forma, como nos templos pré-históricos, as pinturas representavam a caça, a vida e a morte, cenário de um ritual. A televisão, hoje, mostra imagens abstratas e pode criar pseudos-fatos, envolvendo a toda gente, como uma espécie de feitiçaria.
O computador também mostra à criança, que mal sabe falar, mas sabe “clicar o mouse” para “navegar na internet”. Dominado pelo efêmero, pelo instantâneo, o computador — e sou uma usuária que o explora — ele não fixa conhecimento como faz a escrita. A escrita, bem representada nos livros é a mais importante descoberta do ser humano porque eterniza a memória.
Em tempos distantes, Platão fez Sócrates refletir com Fedro o problema da linguagem escrita, contando uma lenda egípcia que dizia assim: - quando Thot inventou os números, a astronomia, e finalmente a escrita., as levou ao rei de Tebas, Thamus, e as explicou uma a uma, defendendo sua utilidade. Quando chegou na escrita, falou assim: ‘Oh rei! essa invenção tornará os egípcios mais sábios e reterá a sabedoria em suas memórias; eu descobri um remédio contra a dificuldade de aprender e recordar.’O Faraó ouviu e respondeu: o livro produzirá nas almas o esquecimento dos que tiverem conhecido a sabedoria, fazendo com que negligenciem a memória; confiando no livro, eles deixarão os caracteres materiais ao cuidado das lembranças e não da sabedoria”. Dás a teus discípulos a sombra da ciência e não a ciência. Quando eles tiverem aprendido muitas coisas sem mestres, eles acreditarão serem sábios, mas serão, em geral, ignorantes e falsos sábios, insuportáveis no trato da vida”
 É duro ler estas palavras e perdoar o Faraó. E, nesta hora eu penso no perdão, o que ele significa na vida humana: Devíamos ter aulas de perdão desde o jardim de infância. Essa sim seria uma grande matéria de cunho intelectual que faria de nós, seres humanos, muito mais úteis, capazes e felizes. Perdoar não é um ato de bondade e sim de inteligência! Carregar fardos é para os burros!
Mas vamos adiante! Esta questão do que é a sabedoria é a grande agonia do tempo atual, da sociedade da informação, em que faz chover como tempestade, e inunda as pessoas de tanta informação, assim como a enchente que invade o rio. Mas a civilização se fez, desde a Mesopotâmia e a China, nestas pequenas representações da linguagem, capazes de se preservar e transmitir, cacos e fragmentos que hoje emocionam como o começo da história.
A tecnologia da escrita foi usada, desde o começo, como instrumento de poder. Claude Lévi-Strauss Disse: “a escrita é usada para facilitar a escravidão de outros seres humanos”. Desde o começo a escrita esteve associada com a estruturação das sociedades, a formação de hierarquias internas e externas. A capacidade de aprender sem mestre, a questão do faraó, foi, desde o começo, uma das grandes façanhas da escrita. Mas a verdadeira façanha foi acelerar a velocidade em que o conhecimento, a informação, mas, também, sabedoria é transmitida. O livro... o livro... o livro.
Hoje, as línguas que passaram milênios para se formarem, e séculos para encontrar sua expressão escrita, são substituídas por programas binários. Num pequeno pen-drive, que caberia na palma da mão, podem ser acumulados todos os livros que já foram escritos. Busca-se o conhecimento com a facilidade oposta à dificuldade que se tem de encontrar a sabedoria, como previa o faraó.
O próprio Bill Gates chamou a atenção de que é preciso saber ler e escrever para criar o computador. Sem o livro não há o computador, como não há o conteúdo do computador. O caminho para a civilização passa pelo livro. O livro abre a porta do conhecimento, da ciência, da arte. O livro transforma o efêmero em permanente, o humano em imortal. Assim caminham Deise Torres, Enilson Amorim, Maria José Oliveira, Jefferson Cidreira, Sebastião Isac de Melo. Quão belos são vossos livros. Quão bela é esta noite que vos acolhe, diplomados e inscritos no livro da imortalidade! Vossos livros vos trouxeram para a Academia Acreana de Letras, para a imortalidade.
Os livros encantam o mundo há séculos. A biblioteca de Alexandria reuniu o conhecimento no mais ambicioso projeto cultural da humanidade. Não apenas se armazenavam os livros e as ideias, mas eles eram traduzidos, retraduzidos, copiados, estudados, divulgados.
Em Roma, os “primeiros homens” deviam ser, ao mesmo tempo, escritores. Era parte essencial de sua reputação a qualidade do que escreviam. Assim, a memória de Cícero e César encontra a de Virgílio e Plutarco.
A leitura e o livro caminham. Na Idade Média a cópia era uma arte, os livros e as bibliotecas eram preciosidades. Foi quando chegou a revolução de Gutenberg. Com a imprensa, começaria a difusão do conhecimento, e, pouco a pouco, o ler e o escrever foram se encontrando.
O livro de Gutenberg, livro de papel, impresso com tinta, é a maior invenção tecnológica da humanidade, um modelo perfeito, não precisa de modificação. Pode ser feito em mil e uma variedades, mais bonito ou mais feio, barato ou caro, de luxo ou de bolso, em tiragem limitada ou em milhões de exemplares, em chinês, russo, norueguês, basco, português. Saber ler — e ler o livro — é a mais básica das necessidades.
O papel foi o primeiro aporte tecnológico inventado. Mas a máquina de Gutenberg, com o tipo metálico móvel, muda a escala do possível. Foi assim que Montaigne pode ler, em alguns meses, mais livros do que qualquer erudito antes dele.
Outro avanço: o livro impresso. Quando, em 1310, Dante escreve a Divina Comédia, em italiano, em vez de latim, e louva a poesia provençal, faz um enorme desafio à sociedade culta. O Estado surge em livros: Maquiavel, Montaigne, Hobbes, vão dialogar com om público. E é o Estado, construído pelos políticos leitores — e autores destes livros -- que vão controlar a liberdade de imprensa, identificando no livro o elemento de debate sobre uso do poder.
No final do século XVI, surge o jornal. Blaise Pascal monta uma rede de impressores clandestinos para desafiar o poder da polícia de Richelieu e a autoridade de Louis XIV. Pela primeira vez, impressos piratas, contestando abertamente o Estado, circulavam em grande quantidade, com tiragem de 10 mil exemplares. Reunidas, as Lettres de Pascal se transformam no livro mais popular do século XVII = o jornal.
Assim, caríssimos acadêmicos, a relação entre o livro e o conhecimento é ainda mais profunda que do livro com a política: ele não só difunde o que já foi descoberto, como muda a circulação do conhecimento.
É sob o signo do livro que José Bonifácio viaja pela Europa na complementação de seus estudos. Foi o signo do mecenato que levou Francisco I a patrocinar Leonardo da Vinci; Cristina da Suécia a chamar, para seu lado, Descartes e Vieira; Catarina II a se corresponder com Voltaire. Assim, os políticos que recriam o mundo, como em Roma, veem o livro como instrumento fundamental. A difusão do livro, da tecnologia do poder, abriu caminho para a democracia. Foi a ampla circulação das ideias das revoluções francesa e americana, da liberdade, da igualdade, da fraternidade, do nacionalismo que, pelo mundo inteiro, se espalhou na forma de novos países e novos regimes. Surge a Alemanha, a Itália, a Bélgica, os países latino-americanos.
O livro é, portanto, o instrumento fundamental da democracia, seja ela estruturada em forma de Estado ou simplesmente o acesso aos bens sociais. O livro é sinônimo de educação. E é de Confúcio a máxima: “onde houver boa educação, não há distinção de classes”. A sabedoria milenar já nos aponta o caráter libertador da educação. Através dela, e só através dela, a ascensão social se torna igualitária.
            É, desse modo, grandioso o valor do livro. E como Vossas Excelências conhecem o valor dos livros, chega de história. Não vou mais cansá-los. Eu a percorri, em parte, para valorizar a chegada de Vossas Excelências a esta Casa de Imortalidade e, também, porque foi a escrita que nos fez, embora em ofícios distantes, comungar um mesmo ideal: o grande encontro desta noite.
Pois bem, chegam, hoje, a esta Academia, escolhidos pelo voto da maioria dos seus membros, para ocuparem as cadeiras: 01, 06, 07, 10, 12, 14. E, agora, voltando ao início desta saudação, vejam Vossas Excelências que aqui chegam, a Casa congrega personalidades ilustres, de coloração heroica e grandiosidade de uma cavalaria medieval. Aqui estão reunidos escritores, poetas, historiadores, cronistas, romancistas, cientistas, pesquisadores, filósofos, juristas, filólogos, literatos, artistas. Então, que faço nesta saudação, além das boas vindas?!
Vossas Excelências trazem uma bagagem invejável, as produções de Vossas vidas. São desbravadores das letras, contos, histórias, poesia de cordel, literatura infantil. Saúdo-vos, nobres imortais, com a redobrada satisfação de fazê-lo, firmada na justiça; e, em tal medida, me valho do grande mestre Manoel Bandeira:
           - Entrem: Deise, Enilson, Jefferson, Mazé, Isac. Vossas Excelências não precisam pedir licença, chegaram a Vossa Casa.
           Muito obrigada.