05/12/2019

DISCURSO DA PRESIDENTE DA AAL NA POSSE DOS IMORTAIS: Deise Torres, Enilson Amorin, Jefferson Cidreira, Maria José de Oliveira, Sebastião Isac de Melo



Excelentíssimos Imortais do Sodalício da Academia Acreana de Letras, Autoridades presentes ou representadas, senhoras, senhores.

Caríssimos imortais que nesta noite adentraram a esta Augusta Casa: Deise Torres, Enilson Amorin, Jefferson Cidreira, Maria José de Oliveira, Sebastião Isac de Melo
Tendo a cultura das letras e o saber emanado delas, como Presidente desta instituição eu não poderia saudá-los se não conhecesse a escrita. Não poderia ter votado em Vossas Excelências. Não estaríamos, aqui, reunidos se não existisse a escrita, essa ferramenta fantástica que veste e anima o pensamento humano e ilumina, na noite de hoje, a Academia Acreana de Letras, neste rito solene, na semana de aniversário de 82 anos, a contar de 1937.
 Permitam-me, caríssimos acadêmicos, percorrer, um pouco, os caminhos da escrita, a importância do livro na constituição das culturas das sociedades humanas. Somente desta forma estarei saudando a poetiza e bacharel em Direito Deise Torres, o historiador, chargista, jornalista e literato infantil Enilson Amorim, o historiador e poeta Jefferson Cidreira, o teólogo, poeta e cordelista  Sebastião Isac de Melo, a professora, pedagoga, poeta e literata infantil Mazé Oliver, personalidades que nesta noite usam, pela primeira vez, a veste talar da Academia Acreana de Letras.
Vemos o longo passo da difusão da cultura oral para a cultura escrita, que levou entre 25 a 30 séculos. Repentinamente, com a televisão e o computador, é possível ao jovem, de hoje, passar da cultura oral para uma nova forma de cultura, a visual, algo, antes, nunca imaginado. Da mesma forma, como nos templos pré-históricos, as pinturas representavam a caça, a vida e a morte, cenário de um ritual. A televisão, hoje, mostra imagens abstratas e pode criar pseudos-fatos, envolvendo a toda gente, como uma espécie de feitiçaria.
O computador também mostra à criança, que mal sabe falar, mas sabe “clicar o mouse” para “navegar na internet”. Dominado pelo efêmero, pelo instantâneo, o computador — e sou uma usuária que o explora — ele não fixa conhecimento como faz a escrita. A escrita, bem representada nos livros é a mais importante descoberta do ser humano porque eterniza a memória.
Em tempos distantes, Platão fez Sócrates refletir com Fedro o problema da linguagem escrita, contando uma lenda egípcia que dizia assim: - quando Thot inventou os números, a astronomia, e finalmente a escrita., as levou ao rei de Tebas, Thamus, e as explicou uma a uma, defendendo sua utilidade. Quando chegou na escrita, falou assim: ‘Oh rei! essa invenção tornará os egípcios mais sábios e reterá a sabedoria em suas memórias; eu descobri um remédio contra a dificuldade de aprender e recordar.’O Faraó ouviu e respondeu: o livro produzirá nas almas o esquecimento dos que tiverem conhecido a sabedoria, fazendo com que negligenciem a memória; confiando no livro, eles deixarão os caracteres materiais ao cuidado das lembranças e não da sabedoria”. Dás a teus discípulos a sombra da ciência e não a ciência. Quando eles tiverem aprendido muitas coisas sem mestres, eles acreditarão serem sábios, mas serão, em geral, ignorantes e falsos sábios, insuportáveis no trato da vida”
 É duro ler estas palavras e perdoar o Faraó. E, nesta hora eu penso no perdão, o que ele significa na vida humana: Devíamos ter aulas de perdão desde o jardim de infância. Essa sim seria uma grande matéria de cunho intelectual que faria de nós, seres humanos, muito mais úteis, capazes e felizes. Perdoar não é um ato de bondade e sim de inteligência! Carregar fardos é para os burros!
Mas vamos adiante! Esta questão do que é a sabedoria é a grande agonia do tempo atual, da sociedade da informação, em que faz chover como tempestade, e inunda as pessoas de tanta informação, assim como a enchente que invade o rio. Mas a civilização se fez, desde a Mesopotâmia e a China, nestas pequenas representações da linguagem, capazes de se preservar e transmitir, cacos e fragmentos que hoje emocionam como o começo da história.
A tecnologia da escrita foi usada, desde o começo, como instrumento de poder. Claude Lévi-Strauss Disse: “a escrita é usada para facilitar a escravidão de outros seres humanos”. Desde o começo a escrita esteve associada com a estruturação das sociedades, a formação de hierarquias internas e externas. A capacidade de aprender sem mestre, a questão do faraó, foi, desde o começo, uma das grandes façanhas da escrita. Mas a verdadeira façanha foi acelerar a velocidade em que o conhecimento, a informação, mas, também, sabedoria é transmitida. O livro... o livro... o livro.
Hoje, as línguas que passaram milênios para se formarem, e séculos para encontrar sua expressão escrita, são substituídas por programas binários. Num pequeno pen-drive, que caberia na palma da mão, podem ser acumulados todos os livros que já foram escritos. Busca-se o conhecimento com a facilidade oposta à dificuldade que se tem de encontrar a sabedoria, como previa o faraó.
O próprio Bill Gates chamou a atenção de que é preciso saber ler e escrever para criar o computador. Sem o livro não há o computador, como não há o conteúdo do computador. O caminho para a civilização passa pelo livro. O livro abre a porta do conhecimento, da ciência, da arte. O livro transforma o efêmero em permanente, o humano em imortal. Assim caminham Deise Torres, Enilson Amorim, Maria José Oliveira, Jefferson Cidreira, Sebastião Isac de Melo. Quão belos são vossos livros. Quão bela é esta noite que vos acolhe, diplomados e inscritos no livro da imortalidade! Vossos livros vos trouxeram para a Academia Acreana de Letras, para a imortalidade.
Os livros encantam o mundo há séculos. A biblioteca de Alexandria reuniu o conhecimento no mais ambicioso projeto cultural da humanidade. Não apenas se armazenavam os livros e as ideias, mas eles eram traduzidos, retraduzidos, copiados, estudados, divulgados.
Em Roma, os “primeiros homens” deviam ser, ao mesmo tempo, escritores. Era parte essencial de sua reputação a qualidade do que escreviam. Assim, a memória de Cícero e César encontra a de Virgílio e Plutarco.
A leitura e o livro caminham. Na Idade Média a cópia era uma arte, os livros e as bibliotecas eram preciosidades. Foi quando chegou a revolução de Gutenberg. Com a imprensa, começaria a difusão do conhecimento, e, pouco a pouco, o ler e o escrever foram se encontrando.
O livro de Gutenberg, livro de papel, impresso com tinta, é a maior invenção tecnológica da humanidade, um modelo perfeito, não precisa de modificação. Pode ser feito em mil e uma variedades, mais bonito ou mais feio, barato ou caro, de luxo ou de bolso, em tiragem limitada ou em milhões de exemplares, em chinês, russo, norueguês, basco, português. Saber ler — e ler o livro — é a mais básica das necessidades.
O papel foi o primeiro aporte tecnológico inventado. Mas a máquina de Gutenberg, com o tipo metálico móvel, muda a escala do possível. Foi assim que Montaigne pode ler, em alguns meses, mais livros do que qualquer erudito antes dele.
Outro avanço: o livro impresso. Quando, em 1310, Dante escreve a Divina Comédia, em italiano, em vez de latim, e louva a poesia provençal, faz um enorme desafio à sociedade culta. O Estado surge em livros: Maquiavel, Montaigne, Hobbes, vão dialogar com om público. E é o Estado, construído pelos políticos leitores — e autores destes livros -- que vão controlar a liberdade de imprensa, identificando no livro o elemento de debate sobre uso do poder.
No final do século XVI, surge o jornal. Blaise Pascal monta uma rede de impressores clandestinos para desafiar o poder da polícia de Richelieu e a autoridade de Louis XIV. Pela primeira vez, impressos piratas, contestando abertamente o Estado, circulavam em grande quantidade, com tiragem de 10 mil exemplares. Reunidas, as Lettres de Pascal se transformam no livro mais popular do século XVII = o jornal.
Assim, caríssimos acadêmicos, a relação entre o livro e o conhecimento é ainda mais profunda que do livro com a política: ele não só difunde o que já foi descoberto, como muda a circulação do conhecimento.
É sob o signo do livro que José Bonifácio viaja pela Europa na complementação de seus estudos. Foi o signo do mecenato que levou Francisco I a patrocinar Leonardo da Vinci; Cristina da Suécia a chamar, para seu lado, Descartes e Vieira; Catarina II a se corresponder com Voltaire. Assim, os políticos que recriam o mundo, como em Roma, veem o livro como instrumento fundamental. A difusão do livro, da tecnologia do poder, abriu caminho para a democracia. Foi a ampla circulação das ideias das revoluções francesa e americana, da liberdade, da igualdade, da fraternidade, do nacionalismo que, pelo mundo inteiro, se espalhou na forma de novos países e novos regimes. Surge a Alemanha, a Itália, a Bélgica, os países latino-americanos.
O livro é, portanto, o instrumento fundamental da democracia, seja ela estruturada em forma de Estado ou simplesmente o acesso aos bens sociais. O livro é sinônimo de educação. E é de Confúcio a máxima: “onde houver boa educação, não há distinção de classes”. A sabedoria milenar já nos aponta o caráter libertador da educação. Através dela, e só através dela, a ascensão social se torna igualitária.
            É, desse modo, grandioso o valor do livro. E como Vossas Excelências conhecem o valor dos livros, chega de história. Não vou mais cansá-los. Eu a percorri, em parte, para valorizar a chegada de Vossas Excelências a esta Casa de Imortalidade e, também, porque foi a escrita que nos fez, embora em ofícios distantes, comungar um mesmo ideal: o grande encontro desta noite.
Pois bem, chegam, hoje, a esta Academia, escolhidos pelo voto da maioria dos seus membros, para ocuparem as cadeiras: 01, 06, 07, 10, 12, 14. E, agora, voltando ao início desta saudação, vejam Vossas Excelências que aqui chegam, a Casa congrega personalidades ilustres, de coloração heroica e grandiosidade de uma cavalaria medieval. Aqui estão reunidos escritores, poetas, historiadores, cronistas, romancistas, cientistas, pesquisadores, filósofos, juristas, filólogos, literatos, artistas. Então, que faço nesta saudação, além das boas vindas?!
Vossas Excelências trazem uma bagagem invejável, as produções de Vossas vidas. São desbravadores das letras, contos, histórias, poesia de cordel, literatura infantil. Saúdo-vos, nobres imortais, com a redobrada satisfação de fazê-lo, firmada na justiça; e, em tal medida, me valho do grande mestre Manoel Bandeira:
           - Entrem: Deise, Enilson, Jefferson, Mazé, Isac. Vossas Excelências não precisam pedir licença, chegaram a Vossa Casa.
           Muito obrigada.


07/10/2019

Discurso de diplomação do Emérito Prof. Dr. Jorge Araken Faria da Silva


Autoridades presentes e representadas,
nobre sodalício da AAL, Senhoras e Senhores,                    
Ilustre imortal Prof. Dr. Jorge Araken Faria da Silva. Digo, inicialmente, que esta cerimônia de concessão do titulo de Professor Emérito a um imortal da nossa Augusta Casa, quase centenária, é um dos momentos mais solenes da Academia e, por isso, toca, sobremaneira, os meus sentimentos mais profundos, de emoção e de gratidão aos pares que reconheceram na personalidade do Dr. Jorge Araken, na sua trajetória de vida, nas conquistas, nos títulos acadêmicos, no homem de personalidade forte que a todos encanta por sua erudição, o título que nesta noite recebe para orgulho de todos imortais, autoridades acreana, comunidade do Estado do Acre. E hoje, serei breve, mas preciso narrar alguns fatos. Em 17 de novembro de 1937, um grupo de intelectuais aqui do Acre se reuniu para fundar a Academia Acreana de Letras, que teve por primeiro Presidente Amanajós de Araújo. Decorridos 82 anos, esta Casa teve 5 Presidentes. Sou a primeira mulher a dirigir esta instituição, e faço com honra, dedicação, louvor. Trabalhei, na minha gestão, para mudar o cenário da AAL, em vários aspectos, o principal deles foi a inaugurar uma administração calçada em decisões colegiadas;  depois, trabalhar a estrutura organizacional de seus Quadros. Em 18 de setembro de 2018 aprovamos, em Assembleia Geral, um Novo Estatuto, e ali, na Seção II, Parágrafo 3º, criou-se o Quadro de Eméritos para imortais de reconhecida e irrefutável história de vida acadêmica e laboral. E desde meu ingresso na AAL conheci pessoas de inigualável valor. Dentre elas destaco o imortal Prof. Dr. Jorge Araken Faria da Silva, a  quem o vernáculo não tem palavras suficientes para adjetivá-lo.

Jorge Araken Faria da Silva é um homem que ultrapassou e venceu o seu tempo.  Nesta tarde, serei breve nas palavras, recordo o discurso de Martins Luther King Jr, "I Have Drean" ( Eu tenho um sonho), Washington, 28 de agosto de 1963. Cinco anos antes de ser assassinado em Memphis, o Rev. Martin Luther King falou diante de 200 mil pessoas em Washington, D.C. Seu discurso está cheio de referências bíblicas e é um apelo à igualdade de todas as pessoas, no contexto da não violência. Este discurso é um momento decisivo na história dos Estados Unidos pela defesa dos direitos civis. Hoje, este momento também é histórico na Academia Acreana de Letras, no Tribunal de Justiça do Acre, porquanto prestamos, em vida, homenagem a um homem que orgulha a espécie humana. Um homem que trilhou o caminho das letras jurídicas, da literatura, colheu exemplos de grandes literatos do mundo, conviveu entre filólogos e gramáticos como Sousa da Silveira e Said Ali e hoje, entre nós, aqui, nos enche de emoção. GRANDE EXEMPLO HUMANO, GRANDE JURISTA, MODELAR PROFESSOR. Eu lhe trago, agora, algumas lembranças de seus pares, alguns aqui presentes, outros ausentes.
Os presentes são livros editados pelos imortais da AAL, nesta minha gestão, muitos e precisos, como dantes não havia. De 40 cadeiras, 40 acadêmicos, maior produção, proporcional, do que a UFAC com 900 professores.
Concluo essa fala dizendo que o sentido da vida consiste em participar conscientemente dos acontecimentos históricos. Quanto mais eu penso nisso e mais me parece verdadeiro. Isso significa posicionar-me, ativamente, contra tudo que diminui os seres humanos diante da vida, nas desigualdades, sobretudo na ausência de cidadania, quando grande parte da população brasileira não sabe ler nem escrever.
A leitura de todos os bons livros é uma conversação
com as mais honestas pessoas dos séculos passados.
(René Decartes)
PLATÃO – fundador da primeira Academia, na antiga Grécia, berço da civilização ocidental preconizava: toda vez que surge um novo Acadêmico a humanidade inteira fica mais enriquecida culturalmente! É o que acontece nesta tarde em que a AAL guinda ao grau de Eméritos o Prof. Dr. Jorge Araken Faria da Silva.

Ato de diplomação

26/03/2018

DISCURSO DE 80 ANOS DA AAL





 DISCURSO DE 80 anos da AAL
Luísa Karlberg
Presidente da Academia Acreana de Letras – AAL

Cumprimentos às autoridades: Governador Tião Viana (ilustre confrade); Presidente da ALAC Ney Amorin; ilustre Desembargadora Dr.ª DENISE CASTELO BONFIM, Deputado Federal Moisés Diniz, Prof.ª Dr.ª Guida Aquino (Reitora da UFAC, em exercício); Presidente da Academia dos Poetas Acreanos Prof, Renã Leite Pontes, Cel. Julio Cesar dos Santos, Comandante da PMAC, Presidente da OAB,, demais autoridades presentes ou aqui representadas, Senhores Acadêmicos,Senhoras e senhores aqui presentes.
A instituição e a palavra academia têm origem interessante na Grécia Antiga, provindo de uma escola instalada em Atenas, por volta do ano de 386 antes de Cristo, por Platão. O filósofo havia sido, traiçoeiramente, vendido como escravo pelo rei Dioniso I, de Siracusa, na Sicília. Libertado por um tal de Aniceres, que pagou o preço do resgate e depois recusou a quantia de três mil dracmas cotizadas por amigos de Platão para ressarcir o comprador. Então, esses amigos utilizaram o dinheiro para comprar uma espécie de chácara, situada no subúrbio de Atenas. Lá existia um jardim dedicado a um herói ateniense, por nome Akademos, que revelou a Castor e Pólux o lugar onde se encontrava a irmã deles. Helena – de Tróia. Em homenagem a Akademos, deram ao sítio o nome de Academia. “Ali fundou Platão” a universidade que estava destinada a ser o centro intelectual da Grécia durante novecentos anos. A partir de então, muitas academias foram fundadas, mas tiveram vida efêmera.  As academias de letras modernas começaram a surgir com a fundação da Academia Francesa, no século XVII, em Paris, pelo Cardeal Richelieu, todo-poderoso no reinado de Luís XIII. Richelieu elaborou o estatuto, e fixou o número de acadêmicos – quarenta – que se tornou padrão de quase todas as academias congêneres. No Brasil houve diversas academias no período colonial, todas de vida efêmera.
A Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, foi àquela que ganhou vida e perdura até hoje. Fundaram-na, principalmente, Lúcio de Mendonça e Machado de Assis, em 1896, e foi instalada em 1897. No discurso de instalação da Academia – um modelo de concisão e elegância – Machado de Assis, eleito presidente, começou a definir a missão, o papel e o sentido da academia dizendo o seguinte: “Não é preciso definir esta instituição. Iniciada por um moço, aceita e completada por moços, a Academia nasce com a alma nova e naturalmente ambiciosa. O vosso desejo é conservar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige não só a compreensão pública, mas ainda e principalmente a vossa constância na vida do país. É claro que esse ideal permanece vivo em todas as Academias de Letras.
Digo-vos, com convicção, que foi um ato de extrema coragem e ausadia, naquele ano de 1937, fundar, no Acre, uma Academia de Letras. Digo-vos, também, que a  intervenção dos anos não nos separam das dificuldades do passado. Foi fundada sem sede e permanece há 80 anos sem sede. Nunca recebeu incentivo dos Governos, muito embora esta Casa concentre o maior número de escritores e poetas do Estado do Acre. Temos também grandes cientistas (em número menor do que a UFAC, aqui temos 40 imortais, e a UFAC possui mais de 500 docentes). Contudo, temos gente que produz muito, faz história, literatura, memória e culto ao idioma pátrio, num trabalho peregrino que deixa marcas profundas nos jovens.
Com todo esse discurso desejamos dizer que os anos não nos isolam de seus fundadores e tão pouco das dificuldades daquele ano de 1937. Hoje, talvez mais do que dantes, é  forçoso proclamar que as quimeras e as ilusões, originárias neste inquietante discurso comemorativo de 80 anos, nunca se afastarão de sua matriz singular: o culto ao idioma pátrio. Mais que nunca, na origem e no destino, estamos enlaçados ao pacto que nos força a ouvir o coração da população acreana, representada por todos nós, a clamar por apoio às letras, o respeito aos escritores, aos poetas, aos cientistas.
Nós escrevemos, fazemos a memória cultural da região. Afinal, a língua é a alegria dos seres humanos. Nesta Casa repousa a poesia do desejo, a melancolia dos gritos premidos, o advento das estações, a exaltação do fino mistério soprado, quem sabe, pelo próprio Deus. Falar, escrever, pensar, alcançar as fendas onde a metáfora pousa solitária, circunscreve-nos ao picadeiro dos imortais, ao galeão dos condenados, aos salões galhardeados, às terras onde se trava a batalha do verbo e das exegese. Sob o estímulo desta tradição, a Academia Acreana de Letras sempre rendeu-se às turbulências da arte, às tentações do pensamento, à insubordinação criadora. Instaurou em seu cotidiano o ritual da cerimônia, quis conciliar o que emana do sagrado e do profano, amenizar as discrepâncias, rejeitar os expurgos arbitrários, tornar o convívio fonte de concórdia.
Uma tradição que nos ensinou a conviver com os impasses da história, a resistir aos tormentos da modernidade fáctua. A ousar falar do futuro. Obstinada em realçar que a glória da instituição, repousando em tantas vitórias individuais, favorece o fervor coletivo.
Como filhos da pátria da língua, de um idioma composto com sobras latinas, gregas, asiáticas, africanas, espalhada em 4 continentes, possui feição arqueológica. Os inventos verbais desta língua, que peregrina pela península ibérica, pela África, pela Ásia, pela nossa América, trazem a chancela natural da transgressão. Arrasta consigo a luxúria mesmo quando confrontada com experiências radicais, místicas, vizinhas do abismo de Deus.
Esse grito acima é para dizer que somos os guardiões do idioma pátrio que traduz a vida nesta região do Acre. E, aqui, esta Augusta Casa não tem um teto. Não desejamos cotizar dracmas para erigir um templo. Entendemos ser esse um dever do Estado Brasileiro de cultuar a literatura e o idioma de feição nacional, assim, abrigar, com dignidade, o sodalício. Aqui as autoridades, raras exceções, reverenciam os imortais. Esquecem-se que a língua portuguesa possui extrema importância no dia a dia. De sua expressividade dependem a guerra e a paz. Esquecem-se que a leitura abre portas que nem sempre podemos abrir com as próprias mãos, porque nem sempre a ação física é tudo. Esquecem-se que a literatura é a expressão da criatividade, da cultura e das ideias que alguém tem consigo e as delibera, na forma escrita, para a história cultural de uma nação ou sociedade. Esquecem-se que escrever é comum, incomum é escrever poesia, contos, romances, textos científicos. Uma sociedade qualquer que ela seja, exprime-se e realiza-se através de sua cultura, ou seja, do conjunto de características humanas que não são inatas, e que se criam e se preservam ou aprimoram por intermédio da comunicação e cooperação entre indivíduos em sociedade. Constitui a cultura como que uma ambiência, um sistema de referência que modela as condutas e hierarquiza os juízos de valor em função das normas, princípios ou padrões sociais que nela são privilegiados É urgente a necessidade de um novo olhar sobre as academias, a literatura, o idioma pátrio. Tudo isso faz parte da imortalidade que permeia entre nós. E ao falar em imortalidade, dizemos que essa adjetivação há muito ronda esta instituição. Fomentada, decerto, pelo imaginário popular, que na ânsia de crer na perenidade das coisas, na permanência da arte, reveste o criador com o manto da ilusão. Insiste em desprender a arte das agruras do cotidiano, em devolver o artista à vida, sob forma transfigurada. A imortalidade forma de livros/romances/contos/poesia/ciência.
Que os senhores do poder leguem um sítio à Academia sem que o sodalício pague dracmas cotizadas, porque a cultura, o saber, a literatura e a poesia são armas libertadoras da alma humana na construção de um mundo belo e feliz. Nós escrevemos, fazemos a memória cultural da região significando tão-somente o desejo coletivo de prorrogar as ações humanas vinculadas à construção artística, seja ela representada na prosa, na poesia, na ciência, na literatura em geral. Afinal, a língua é a alegria dos seres humanos. Nesta AAL repousa a poesia do desejo, a melancolia dos gritos premidos, o advento das estações, a exaltação do fino mistério soprado, quem sabe, pelo próprio Deus.
E, finalmente,  como mulher, escritora, cientista, poeta, professora, pesquisadora,  digo que a coragem é a força que me guia. É a virtude que me permite, com firmeza, afrontar os perigos e suportar os trabalhos na lição de Cícero e, assim, me contrapor ao “cauteloso pouco a pouco” registrado no verso de Mario de Andrade [Eu me esqueço o tempo todo e pouco a. Pouco eu sinto outro em meu lugar.]. Esta Academia é a maior casa de cultura que possui o Estado do Acre, vamos, pois, cultivá-la e ouvi-la traduzir a vida que o Acre deixará para as gerações futuras. Aqui estamos nós, nesta noite, uma amostra fiel da inteligência acreana, tão variada como ela mesma em sua história. Viva os 80 anos da AAL. Muito Obrigada!


 

DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DO IMORTAL JOSÉ DO CARMO CARILE






    Ilustres pares da Academia Acreana de Letras, sociedade acreana, autoridades, senhoras e senhores. Estando em viagem, faço, aqui, a apresentação do poeta José do Carmo Carile, em sua posse na Academia Acreana de Letras - AAL.
      O poeta Alberto Caieiro costuma dizer que “as borboletas não têm cor, nem movimento (...) A cor é que tem cor nas asas da borboleta. No movimento da borboleta, o movimento é que se move...” Já o poeta Manoel de Barros disse: “Meditei sobre as borboletas. (...) Vi que elas podem pousar nas flores e nas pedras, sem magoar as próprias asas”. E Rafael Duarte, comentou: “ As borboletas... são "flores que voam...” “Planto flores no caminho – disse Day Anne - para que não me faltem as borboletas. Foram elas que me ensinaram que o casulo não é o fim. É o começo”!
     Pois bem, quando a acadêmica Nilda Dantas me apresentou o poeta José do Carmo Carile, tive a primeira oportunidade de debruçar-me sobre seus textos poéticos. Percebi, logo de saída, que a poesia desse torcedor do São Paulo tinha sentimentos, buscas, segredos, amor contido. Uma necessidade de escancarar suas emoções, revelando divagações, sonhos, suas penitências e desilusões. Foi quando reparei que não é preciso sair por aí, com uma tarrafa na mão, com gaiolas, armadilhas, caçando mais uma borboleta para enfeitar nossos chás das letras na Academia Acreana de Letras.
      Dizem os poetas que, para ter borboletas no seu jardim, basta tão somente você plantar algumas flores e aguá-las de vez em quando. Daí para frente é só aguardar, porque as borboletas aparecerão. E foi exatamente assim que a Academia Acreana de Letras procedeu com esse poeta que sabe falar sobre o amor, esperança, saudade, perdão. José do Carmo verseja sobre a chuva que molha o telhado tão bem quanto do coração cobiçado! Encantei-me diante de seus desabafos sobre a forma como viver uma paixão. Então, o levei para declamar no palco sagrado da poesia. Daí foi um passo para introduzi-lo no meu mais ambicioso projeto literário, que é o de aproximar a poesia aos alunos do ensino fundamental e médio das escolas de Rio Branco e do interior acreano, na tentativa de desconstruir o mito de que o poeta não vai à sala de aula, VOLUNTARIAMENTE, trabalhar a poesia, de que a poesia não é objeto de estudo nas salas de aula. E, surpresa! Logo de início, o que mais chamou a atenção foi o interesse dos alunos pela poesia. O passo seguinte foi mais fácil: as professoras se entusiasmaram com a produção discente e os poetas mirins, nascidos desta semente, como borboletas dos casulos, foram convidados a participar da Roda de Poesia, sob a coordenação da Academia dos Poetas Acreanos.
      A partir de então, José do Carmo Carile se tornou o parceiro incondicional nesta agradável atividade. Acreditamos que essa atividade tenha sido um ótimo motivo para tantos outros fomentadores dessa bela arte, porque vimos, com bons olhos, a criação de várias sociedades culturais, que estão, até os dias atuais, realizando trabalhos semelhantes em várias escolas de Rio Branco. Desse modo, tivemos a grande chance de ter colocado a poesia no seu devido lugar. O acadêmico ora empossado usa a poesia como instrumento de comunicação, necessidade humana, interação, linguagem de emoção a favor do belo e do espírito. Sua obra SEGREDOS DO CORAÇÃO expressa em seus versos todo esse sentimento de amor e paixão! O poeta José do Carmo Carile, doravante Membro Efetivo da Academia Acreana de Letras, é oriundo de São Paulo, mas adotou esta terra como sua e a ama como se filho dela fosse. Aqui realiza conosco um GRANDE SONHO que hoje é uma realidade, junto com nosso grupo formado pelas acadêmicos Luísa Galvão Lessa Karlberg, Edir Marques, Renã Leite, Alessandro Borges, Cecília Pereira Ugalde, Devanilde de Souza e outros, que são as OFICINAS DE POESIA para alunos das redes pública e privada, sem distinção.
       Esta sua dedicação, disponibilidade e entusiasmo pelas atividades culturais prestarão, não há dúvida, imensos serviços neste novo espaço acadêmico que se abre com sua introdução neste sodalício. Aqui, o novo confrade José do Carmo Carile terá um ambiente propício para cultivar poemas a atrair leitores, espargindo a beleza das palavras e versos que encantam, assim como se cultivam flores a seduzir belas borboletas, voluteando em torno deste celeiro cultural, espalhando cores e movimentos! ERA O QUE TINHA A DIZER!

Poeta Mauro D’Ávila Modesto – Cadeira nº 13 Rio Branco, 22 de fevereiro de 2017.