04/09/2015

DIRETORIA (biênio 2015-207): TECIDO DA CULTURA ACREANA


Duas coisas enchem meu espírito de uma admiração e de um respeito enormes: o céu estrelado sobre mim e a lei moral em mim.” Emmanuel Kant, filósofo alemão, em sua obra Crítica da Razão Prática.
"A pátria é o idioma, e só no idioma pátrio se pode pensar bem e dizer besteira." Monteiro Lobato

1 – BREVE HISTÓRICO
A Academia Acreana de Letras, com sigla AAL, é  a associação literária máxima do Estado do Acre, fundada em 17 de novembro de 1937. Sua fundação coincide com a data da assinatura do Tratado de Petrópolis, que pôs fim à disputa pelo território acreano contra a Bolívia. Foi considerada de Utilidade Pública por Lei estadual 117/67.Registrada no Conselho Nacional do Serviço Social sob n.° 30864/30.
Sua sede (provisória), é na Rua Pernambuco, Casa da Cultura, Rio Branco, Acre.
Academia  Acreana de Letras reúne literatos e intelectuais de várias áreas do conhecimento humano e deve se destacar como fomentadora da literatura regional. Seus membros devem ser responsáveis por alimentar a literatura de expressão regional. Por isso mesmo deve trabalhar integrada com fundações, governos e sociedade
A Diretoria é composta por um Presidente e seu vice, 1º e 2º Secretários, 1º e 2º Tesoureiros, e diretores: de Relações Públicas, de Biblioteca e de Patrimônio, além de um Conselho Fiscal. Tal como a Academia Brasileira de Letras, a AAL é composta de 40 Cadeiras, cada uma delas sob um Patronato, segundo descrição que se segue:
01 - Aprígio de Menezes
02 - Alberto Rangel
03 - Alberto Torres
04 - Alexandre de Gusmão
05 - Alexandre Rodrigues Ferreira
06 - Amanajós de Araújo
07 - Amaro T. Damasceno Junior
08 - Aníbal Teófilo
09 - Antonio Areal Souto
10 - Araújo Lima
11 - Assis Brasil
12 - Augusto dos Anjos
13 - Barão de Rio Branco
14 - Barbosa Rodrigues
15 - Belarmino de Mendonça
16 - Cândido Rondon
17 - Carlos Vasconcelos
18 - Couto de Magalhães
19 - Craveiro Costa
20 - Emílio Goeldi
21 - Epaminondas Jácome
22 - Euclides da Cunha
23 - Francisco de Oliveira Conde
24 - Francisco Mangabeira
25 - Heliodoro Balbi
26 - Humberto de Campos
27 - João Donato de Oliveira
28 - Jose de Carvalho
29 - José Lopes de Aguiar
30 - José Veríssimo
31 - Juvenal Antunes
32 - Juvenal Galeno
33 - José Higino de Sousa Filho
34 - Manoel Eugênio Raulino
35 - Mário Lobão
36 - Nelson Lemos Bastos
37 - Osvaldo Cruz
38 - Plácido de Castro
39 - Raimundo Morais
40 - Ramalho Júnior
Dos 40 fundadores, nove deles ainda ocupam as cadeiras - embora a AAL já esteja em sua quarta geração de Imortais (maio de 2006).
Atuais Membros da Academia Acreana de Letras:
01 – Jorge Araken Farias da Silva
02 – Reginâmio Bonifácio de Lima
03 - Clodomir Monteiro da Silva
04 – Florentina Esteves
05 – Sebastião A. M. Viana Neves
06 – Antônio Hamilton Bentes
07 – Geraldo Brasil
08 – Carlos Alberto Alves de Souza
09 – Clara Elizabeth Simão Bader
10 – Glória Maria Ferrante Perez
11- Edir Figueira M. de Oliveira
12- Íris Célia Cabanellas Zanini
13- Mauro Modesto
14- Sílvio Martinello
15 – Mário Lima Brasil
16 – João Crescêncio de Santana
17 – Francisco Gregório Filho
18 – Jorge Tuffic
19 – José Dourado de Souza
20 – Maria da Glória Oliveira
21- Gilberto Braga de Mello
22- Dalmir Rodrigues Ferreira
23- Edson Ferreira de Carvalho
24- Olinda Batista Assmar
25 – Moisés Diniz Lima
26 – Naylor George
27- Maria de Fátima H. de Almeida
28– Francisco de Moura Pinheiro
29– Antônio Manoel C. Rodrigues
30- Claudemir Mesquita
31- Álvaro Sobralino de Albuquerque Neto
32- Margarete Edul Prado Sousa Lopes
33– Renã Leite Pontes
34- Luisa Galvão Lessa Karlberg
35– Robélia Fernandes Souza
36– Arquilau de Castro Melo
37– Francis Mary Alves de Lima
38– Jarbas Passarinho
39– Aury Félix de Medeiros
40– Maria José Bezerra.
Destes 40 imortais, acima nominados, cinco deles faleceram: Omar Sabino de Paula, Jorge Kalume, Manoel Mesquita, José Higino de Souza Filho, Francisco Thaumaturgo. Deveremos realizar uma missa ecumênica, in memorian dos grandes vultos histórico-culturais que tanto legaram ao Acre e se eternizam pelas exemplares histórias de vida.
2 - OBJETIVOS E METAS
Neste pretendido mandato, a AAL deverá estar presente nas mais diversas discussões sociais, políticas e de caráter comunitário, devendo ser representada em vários conselhos, em nível federal, estadual, municipal. Também deverá promover, periodicamente, debates sobre questões atuais ou problemas regionais, assim como incentivar a produção literária e cultural no Estado do Acre.
Deverá, esta Academia, encadear discussões de natureza diversa:
Ø O idioma pátrio (Congressos, Seminários, Cursos, Colóquios, Palestras, Oficinas);
Ø A literatura de expressão nacional (Congressos, Seminários, Cursos, Colóquios, Palestras, Oficinas;
Ø A literatura de expressão regional (Congressos, Seminários, Cursos, Colóquios, Palestras, Oficinas);
Ø Às questões e problemáticas regionas, por bacias hidrográficas, com a participação efetiva dos acadêmicos que possuem trabahos e formação nas áreas específicas do conhecimento científico (Reunião de trabalhos empreendidos nessas bacias; o potencial humano dessas bacias; o potencial literário, o potencial histórico, o potencial ecológico, o potencial econômico).
Ø Otimizar políticas, junto ao Governo do Acre, para organizar ontologias, dos movimentos literários, para dar a conhecer ao Acre e ao país os monumentos de expressão  literária.
Ø Icentivar e promover encontros culturais para sedimentar, sempre, a produção literária.
Deverá a Academia Acreana de Letras, como entidade de cunho linguístico e  literário, que possui clara filosofia, afiliar, a ela, as Academias existentes no Acre:
·         Academia dos Poetas;
·         Academia de Jornalismo;
·         Academia de Filosofia.
Deverá a AAL ter uma página  num jornal local para ampla divulgação de suas atividades e publicação de matérias de interesse da cultura e das artes locais;
Deverá a AL ter um site atualizado onde poderá agregar as páginas e os blogs dos acadêmicos e dos profissionais que trabalhem com a linguagem, a literatura, a pesquisa, a arte e a música de expressão regional.
A Academia Acreana de Letras deverá caminhar como parceira do governo estadual, municipal e as instituições mantenedores dos poderes: executivo, legislativo e judiciário, no sentido de:
§  Apoiar ações e políticas de natureza literária, poética, histórica, social, jornalística, ambiental;
§  Angariar Recusos (Material e financeiro) para realizar ações capazes de melhorar o mundo da leitura e da escrita, pelo culto do idioma pátrio, nas diversas áreas do conhecimento humano.
§  Realizar eventos literários e culturais, com a participação de todas as Academias do Acre e construir pontes com outras Academias no país.
A Academia deverá apoiar e fortalecer:
Ø As Academias Municipais do Estado do Acre;
Ø Os escritores e poetas;
Ø As salas de leitura;
Ø Os profissionais desencadeadores da expressão e manifestação cultural de cada município do Acre;
Ø Oficinas de leitura/escrita.
A Academia deverá promover, juntamente a sociedade, a formação de grupos capazes de estimular e fortalecer:
Ø  As especificidades emergentes das culturas, por bacias hidrográficas:
1.    Salas de leitura;
2.    Folclore;
3.    Dança;
4.    Artesanato;
5.    Ecologia;
6.    Música.
Ø  Implantação dos Departamentos:
ü Educação
ü Filosofia
ü Sociologia
ü Matemática
ü Física
ü Química
ü História
ü Geografia
ü Antropologia
ü Direito
ü Psicologia
ü Teologia
ü Engenharia
ü Jornalismo
Ø Estimular os Acadêmicos para profícua atuação junto à sociedade, no sentido de promover;
·      Oficinas de textos;
·      Oficinas de crônicas;
·      Oficinas de Poesia;
·      Oficinas de Gêneros Literários.
·      Deverá a AAL realizar encontros de confraternização no meio acadêmico, não somente para festejar a arte do encontro, mas também para conhecer as produções dos confrades e confreiras, no sentido de confeccionar Antologias e discutir estratégias para divulgação das produções dos acadêmicos.
·      Deverá fazer Concursos literários para incentivar novos talentos.
Ø Deverá propor um ciclo de conferências capazes de discutir temas de interesse social e cultural, no sentido de gerar edições de coletâneas das palestras dadas pela Casa.
Ø Deverá criar um programa "A Escola vai à Academia", para que os estudantes conheçam os acadêmicos escritores, cronistas, poetas, historiadores, juristas, literatos, linguistas e demais profissionais.
Ø Deverá elaborar políticas para ampliar o acervo de sua biblioteca, no sentido de fazer da AAL num grande centro de cultura e pesquisa na região.
Ø Deverá fomentar produções Literárias e científicas, voltadas à multiplicação do saber.
Ø Deverá empreender intercâmbios com instituições congêneres, com os poderes públicos, federal, estadual, municipal, internacional e com as organizações privadas comprometidas e vinculadas direta ou indiretamente com o saber.
Ø Deverá resgatar valores da comunidade em benefício da literatura.
Ø Deverá reunir pessoas ligadas às Letras e às Artes Literárias, formando um meio de intermediação e exposição da poesia e da literatura acreana.
Ø Deverá colaborar com as manifestações artístico-culturais, locais, regionais e nacionais, objetivando o enriquecimento, a iluminação e a fixação da cultura e da cidadania.
Ø Deverá apoiar projetos afins e que promovam o bom nome da Academia  Acreana de Letras.
Ø Deverá motivar e incentivar os valores da comunidade em benefício da literatura e do idioma pátrio.
3 - DIRETORIA
Presidente: Luísa Galvão Lessa Karlberg
Vice-Presidente: Claudemir Mesquita
1º Secretário: Margarete Edul Prado Sousa Lopes
2º Secretário: Maria de Fátima H. Almeida
1º Tesoureiro: Álvaro Sobralino Neto
2º Tesoureiro: Olinda Batista Assmar
Diretoria de Patrimônio: Mauro D’Ávila Modesto
Diretoria de Imprensa: Sílvio Martinello
Diretoria de Biblioteca: Renã Leite Pontes
Relações Públicas: Moisés Diniz
Assessoria Jurídica: João Crescêncio de Santana

CONSELHO FISCAL:
Naylor George
Florentina Esteves
Edir Marques

4 – CONCLUSÃO
Nós seremos os Gigantes nessa Nova Jornada. Seremos os acadêmicos que saltarão dos fatos para a imaginação e da imaginação para o mundo das ideias, das realizações, em busca de dias melhores para a AAL. Pensamos como Victor Hugo: O futuro tem muitos nomes. Para os fracos é o inalcançável; Para os temerosos, o desconhecido; Para os valentes é a oportunidade. É esta última que abraçamos.
Conclui-se com a célebre frase de John Kennedy: “A mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente irão, com certeza, perder o futuro”. E nós iremos trabalhar para dignificar a Academia Acreana de Letras, aproximá-la dos escritores, poetas, cientistas e a comunidade do Acre e do mundo.

30/06/2014

EDITAL DE CONVOCAÇÃO


ACADEMIA ACREANA DE LETRAS


Edital de Convocação



O Presidente da AAL, convoca estatutariamente, seus membros regulares para elegerem cinco membros efetivos, em posições seguintes às atuais, das cadeiras 02, 15, 21, 33 e 36 onde permanecem perpetuamente seus titulares anteriores, após terem sido realizadas as etapas preliminares conforme art. 10, § 1º e 2º, do Estatuto da AAL. A votação será realizada em Plenário das 9  às 17 horas do dia 07 de julho próximo, na Casa da Cultura, à Rua Pernambuco 1026, Bairro Bosque, nesta cidade.


Rio Branco, 27 de junho de 2014.

CLODOMIR MONTEIRO DA SILVA
 Presidente da AAL

09/06/2014

FUNERAL DA MONTANHA

J. G. de Araújo Jorge (1914-1987)
Melancolicamente reclinada
sobre a amurada verde das encostas,
– a tarde, como um vulto de mãos postas,
cai de joelhos sombreando os vãos da estrada...

Vem a noite chegando, e acende os círios
das estrelas nos altos castiçais,
– e as derradeiras luzes lembram lírios
envolvidos em gazes funerais...

Há um cântico de pássaros em coro,
e dos órfãos regatos, nas encostas,
ouve-se um quase imperceptível choro...
Há um silêncio que punge, no ar contrito...

............................................................................

A montanha é um cadáver de mãos postas
no ataúde infinito do Infinito!


JORGE, J.G. de Araújo. Eterno Motivo. Rio de Janeiro: Vecchi, 1954. p.225-226

30/05/2014

O POETA DO POVO

Gilberto Braga de Mello
Fui à Brasília pela primeira vez em 1980. O Brasil ainda vivia apeado pela ditadura militar. Metido até o pescoço no movimento estudantil, quis conhecer o Congresso Nacional e arriscar ver pessoalmente os grandes líderes da oposição ao regime. Mas no Salão Verde da Câmara dos Deputados, alguém me puxou pelo braço: – esse você não esperava conhecer, mas vai gostar! Então abordou um senhor que saia do Plenário: – Deputado, o Gilberto é seu leitor, recita seus poemas de cor.

Assim conheci um dos poetas mais lido do Brasil. E agora me ocorre que talvez ali, naquele momento, eu também tenha conhecido o primeiro acreano na minha vida. Surpreso, ouvi sua apresentação: – Muito prazer, JG de Araújo Jorge.

Jorge Amado, um dos escritores mais querido, lido e amado pelos brasileiros, não raro era questionado por ser lido por milhares, não apenas por meia dúzia, maldição que castiga grandes escritores. Muitos críticos opõem popularidade e qualidade. Um preconceito besta.

JG de Araújo Jorge foi na poesia como Jorge Amado nos romances. O povo leia o que ele escrevia, recitava seus poemas, sonhava com suas musas e se encorajava com suas ideias.
Começou publicando poemas nos jornais do Rio de Janeiro, no começo dos anos 1930. Incomodou o Estado Novo de Getúlio Vargas e acabou na cadeia.

Sua poesia romântica encantou gerações. A esperança viva nos seus versos corresponde a uma atuação política coerente. Eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro em 1970, 1974 e 1978 – estava lá na Câmara Federal em 1980, quando a musa do improvável me deu o privilégio de conhecer o Poeta do Povo.

Falecido no Rio de Janeiro, em 1987, sua poesia tem força para sobreviver ao esquecimento da critica e a negligência do mercado editorial. Impressiona sua presença na internet. É dos mais procurados nos sebos e site de livros usados.

JG de Araújo nasceu em 20 de maio de 1914. Agora é o seu centenário e a Academia Acreana de Letras quer o resgate da sua importância. O presidente Clodomir Monteiro iniciou esforços para tornar 2014 o Ano JG de Araújo Jorge.

A motivação da Academia é inconteste: o poeta que encantou o Brasil era um acreano do pé rachado. Um menino nascido José Guilherme, lá em Tarauacá.


> Artigo publicado originalmente em Jornal A Gazeta do Acre (21.05.2014)

26/05/2014

TARAUACÁ: ATO SOLENE DA ACADEMIA ACREANA DE LETRAS POR OCASIÃO DO CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO POETA J.G. DE ARAÚJO JORGE

TEATRO JOSÉ POTYGUARA RESPIROU INTELECTUALIDADE NA ÚLTIMA SEXTA-FEIRA
Reginaldo Palazzo
Sexta-feira passada (23) foi comemorado o centenário do escritor J. G. de Araújo Jorge no Teatro Municipal José Potyguara, com a presença dos ilustres imortais Clodomir Monteiro, Presidente da Academia Acreana de Letras, Robélia Fernandes Souza, Margarete Edul Prado S. Lopes, Moisés Diniz, Claudemir Mesquita e Álvaro Sobralino de A. Neto, todos com alguma ligação com Tarauacá.

Sr. Clodomir Monteiro Presidente da AAL- Academia Acreana
de Letras
Como bem disse o empresário João Maia, com esse Ato Solene resgatou-se uma parte da dívida que o município tem com uma de suas figuras mais ilustres, dentre outras que passa pelo mesmo esquecimento irresponsável. Isaac Melo uma pessoa engajada em resgatar esses nomes, apesar de temporariamente morando fora, também foi uma pessoa muito citada pelos imortais na solenidade. Isaac é um parceiro colaborador da Academia e quiçá futuramente ocupará uma de suas cadeiras. Um belo exemplo de seu esforço é um post em seu blog que fala justamente isso, do POETA ESQUECIDO.

Empresário João Maia - História Viva de
Tarauacá
O Teatro José Potyguara ganhou vida e parecia agradecer o retorno aos bons tempos mesmo que por apenas uma noite já que antigamente era usado para a finalidade a qual foi construído, ou seja, peças teatrais, e outras atividades afins e não ser usado somente para reuniões políticas, estacionamento de bicicletas ou pior, por uma autoridade que não tem a mínima educação e a cultura do cuidado colocando o pé na poltrona da frente.

Assim como na sua inauguração, a chuva chegou anunciando a presença espiritual do imortal poeta J. G. para lavar a alma dos que anseiam por um nível melhor na cultura literária tarauacaense. Todos esses fatos juntos só nos fizeram ratificar a importância de tal evento.





Que os jovens hoje em dia possam perpetuar seus antepassados conhecendo-os a partir de agora para que sejam comemorados no futuro os cento e cinquenta e duzentos anos de J. G e das outras pessoas que honraram o nome de Tarauacá. 

Alguém já disse que conhece-se uma pessoa não pelos livros que ela leu, mas sim pelos livros que ela releu. A IMORTALIDADE CONTINUA.

25/05/2014

EM BUSCA DA POÉTICA DE J. G. DE ARAÚJO JORGE

Rogel Samuel


Faço aqui uma breve tentativa de ensaio crítico sobre este grande poeta – e como “ensaio”, algo provisório, limitado a alguns poemas de “Harpa submersa” (1952), para mim reveladores, indicadores daquela arte do poeta acreano, no centenário de seu nascimento.

Até hoje, ele ainda é o poeta mais lido do Brasil, porque popular, fácil, melódico, oral. De certo modo, o maior poeta para o povo brasileiro. Famosíssimo mesmo hoje, tantos anos depois de sua morte (1987), publicou 36 livros, um romance, 2 LPs, várias músicas, manteve programa de rádio, é nome de rua no Rio de Janeiro e em várias cidades brasileiras. Suas músicas foram gravadas por Orlando Silva, Nana Caymmi, Carlos Galhardo, Silvio Caldas, Agnaldo Timóteo, etc.

Foi professor do Colégio Pedro II, no tempo em que lá só chegavam grandes mestres. 

Enfim, uma vida plena e gloriosa.

Morreu aos 73 anos.

A obra literária, sua poética, se confunde com a sua ideologia política, que ele escreveu para povo, para o leitor semialfabetizado, rural, proletário, operário, para as belas normalistas suburbanas, que com elas queria comunicar-se, para as massas, deu voz às massas, como poeta.

Creio que foi o único parlamentar brasileiro moderno que conseguiu eleger-se como poeta, com a fama de Poeta, com a popularidade de seus livros, que eram publicados e vendidos aos milhares, mesmo no interior brasileiro, em papel jornal pela Editora Vecchi. “Amo!” vendeu 80 mil. Ele foi o único poeta brasileiro que vendeu mais de um milhão de livros.

JG por volta dos 18/19 anos.
Foto cedida por Rogel Samuel,
retirada de livro do poeta.
Nasceu em 20 de maio de 1914, em Tarauacá (que na época devia ser uma pequena vila na beira do rio), no Acre.

Curso primário no Acre, secundário nos Colégios Anglo-Americano e Pedro II do Rio.

Em 1931, ainda estudante, publicou um poema no “Correio da Manhã”, depois transcrito no popular “Almanaque Bertand”, em 1932.

Em 1932, no Externato Pedro II, foi escolhido “Príncipe dos Poetas”, saudado por Coelho Neto.

Estudou na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil.

Foi orador oficial do CACO, da União Democrática Estudantil, precursora da UNE, da Associação Universitária. 

Foi locutor e redator da Rádio Nacional, Tupi e Eldorado.

Em Coimbra, recebeu o título de “estudante honorário” e na Alemanha fez Curso de Extensão Cultural na Universidade de Berlim.

Elegeu-se Deputado Federal em 1970, pela Guanabara, reelegendo-se para o terceiro mandato em 1978.

Ocupou a vice-liderança do MDB e a presidência da Comissão de Comunicação na Câmara dos Deputados.

Só não foi reeleito pela 4ª vez devido na uma greve dos Correios, que (dizem) o deixou endividado e deprimido, morrendo anos depois, em 1987, creio que em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro.

Ele adorava Friburgo.

Politicamente, era homem de esquerda, desde estudante, quando combateu o “Estado Novo”. Preso e perseguido várias vezes. Deixou de ser orador de sua turma por estar detido na Vila Militar, em 1937.   

Ficou famoso como Poeta do Povo e da Mocidade, pela mensagem socialista da sua obra lírica.

Um dia, uma pessoa querendo me ofender, me disse:

- Sabe quem gostou do seu livro?... A minha empregada!

Isto não seria problema para o grande J. G. de Araújo Jorge, que se dirigia à massa proletária!

Ele mesmo tem um livro que se chama “O poeta na praça” (1981).

Sua poesia é oral, livre, espacial, fácil.

Como não compreender sua poética?

“O diabo é que não sou complicado / sempre sei o que sinto, o que quero, / pelo menos no momento que passa. // Por isso não tenho dificuldade em meu verso, / na verdade, não tenho nenhum trabalho, / ele vem e me diz: aqui estou! / Pois bem: que cante!” (“Harpa Submersa” 1952 )

No seu “Canto Banal”, ele diz:

“Não te quero dizer palavras difíceis e deformantes / nem inventar imagens que embelezam talvez / mas que não reconheces. // Não tocarei música para os teus ouvidos / nem criarei poesia para a tua imaginação, / nem nada esculpirei que já não esteja em ti... // Nesse instante serei banal, / não respeitarei nem mesmo o silêncio, / nada que nos eleve além do plano em que estamos, / não serás estrela, não serás a nuvem, não serás a flor... // Quando chegares, e eu tomar teu corpo em meus braços nervosos, te direi apenas: / - meu amor!” (“Harpa Submersa” 1952).

Ele também sabia dizer coisas como:

“Meu coração, como uma harpa submersa, / jaz no fundo de que ignorado oceano? / Que estranhas correntes arrancam de suas cordas / sons líquidos e redondos que se perdem côncavos / antes de chegar à tona?... // Que peixes cegos tiram notas imprevistas / e se vão tontos na ondulação do canto que despertam / entre espectros calcários e verdes algas trementes? // Que músicas borbulhantes se agitam, nascidas / de que movimentos sem origens, incognoscíveis, / marcando um tempo morto e imensurável? // Meu coração é como uma harpa submersa, / sem dedos, sem cordas, tocando sozinha / uma canção que desvenda os mistérios da vida / para os peixes ouvirem.” (“Harpa Submersa” 1952).

Que significa Harpa Submersa?

Harpa Submersa “/ Este retardatário gosto de pureza, / que me vem à boca do fundo coração, / não sei se é tédio ou o sinal de alvoradas renascentes. / Na areia branca onde a onda tenta apagar/ vestígios de pés e levar todas as conchas, / me deixo à espera de outras vagas carregadas de conchas / ou de passos que tatuem novas marcas / na epiderme do coração. / Pobre coração marinheiro, tão marcado, / de que canto obscuro desenterras imprevistamente / esta harpa cheia de algas e de sons submersos?” (“Harpa Submersa” 1952).

A água é signo feminino. Ele sabe tocar o âmago da mulher, tocar a sua Harpa, o seu ventre submerso.

O canto lhe vem à boca, do fundo do mar do coração. O canto nasce imprevisto do obscuro das algas, do som submerso daquela harpa cheia de algas, de pureza retardatária, do seu itinerário, das marcas na areia do chão de sua vida.

Harpa Submersa significa “ventre submerso”. Ele é o poeta do sentimento, do amor, do itinerário da vida. Ele era um “poeta popular” sim.  E a depender dos leitores, o poeta da Harpa Submersa vai se tornar eterno.

Ele não entrou na Academia Brasileira, mas se sentia “Imortal”:

“Me sinto na academia, me sinto “imortal” / Não sei bem de que academia / nem sei a que morte me refiro / sei que neste momento me sinto como as crianças / e os animais / para quem a morte não é nem mesmo, / uma palavra que se lê.”

Por que deputado?

Por que o grande poeta do povo entrou na política?

Por que foi um grande político de esquerda, tão grande que morreu pobre e endividado?

Porque toda poesia é uma política. Política entendida como a arte de mudar o mundo. Era no mundo grego a “arte da polis”. A consciência comunicativa vigorava na polis grega, entre os homens livres. Mas a poesia só manifesta “arte” na medida em que está a serviço da “polis”. O mundo poético é o mundo da sociedade. A poesia, tal como ele a praticou, resume uma grande força política em prol do desenvolvimento espiritual dos povos.

O poeta dá voz aos povos, como um profeta, as massas se identificam com ele.

Ele não era porta-voz da classe dominante, da elite intelectual dominante, que combateu e por isso ela se vingou, apagando o seu nome das histórias da literatura.
Mas ele não precisava disso.

Sua legitimação vinha do povo.

Ele fez política, fez política com a sua poesia de amor. Quando canta: “meu coração é como uma harpa submersa, / sem dedos, sem cordas, tocando sozinha / uma canção que desvenda os mistérios da vida / para os peixes ouvirem” – tais peixes atuam, nadam no subconsciente revolucionário das massas proletárias.

Poucos como ele sabem que a poesia pode mudar o mundo.

Por isso ele não consta das histórias literárias e a crítica o ignora.

O seu público é outro: JG escreveu para a massa proletária dos “homens tristes” (de que ele sempre fala), para o verdadeiro Brasil operário.

Hoje ele seria aceito?

Não sei. Talvez. Mas não pela mídia, que a elite dominante continua a mesma e mais entrincheirada. O Brasil está cheio de grandes poetas esquecidos da mídia e da crítica.

Mesmo assim JG colecionou prêmios acadêmicos, como o “Prêmio Raul de Leoni”, para o melhor livro de poesia do ano, prêmio oferecido pela Academia Carioca de Letras, com o livro “Eterno motivo”, em 1943.

E até agora ele vende muito: seus livros são os primeiros a vender nos sebos, quando aparecem.

Suas obras estão quase todas na Internet.

Mas em Tarauacá, onde nasceu o poeta, não existe nenhuma livraria...

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ROGEL SAMUEL é doutor em Letras e professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. Poeta, romancista, cronista, webjornalista. É autor, entre outros, de O Amante dasAmazonas (2005, 2a edição), Novo Manual de Teoria Literária (2013, 6reimpressão);Teatro Amazonas (2012); e Modernas Teorias Literárias: breve introdução (2014). Visite a página pessoal do autorliteraturarogelsamuel.blogspot.com

22/05/2014

TARAUACÁ: ATO SOLENE EM HOMENAGEM AO CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO POETA J. G. DE ARAÚJO JORGE


No Teatro Municipal José Potyguara, em Tarauacá, às 19:00 h, a Academia Acreana de Letras promove Ato Solene em homenagem ao poeta tarauacaense J. G. de Araújo Jorge, por ocasião de seus 100 anos de nascimento. A solenidade faz parte do quadro de eventos das comemorações dos 75 anos da Academia Acreana de Letras, que, na ocasião, proclamará 2014 como o ano do poeta Araújo Jorge.

17/05/2014

JG: OPINÕES QUE O TEMPO CONSAGROU



"O autêntico poeta do povo do Brasil, 'o poeta das massas, como judiciosamente assinalou Carlos Drummond de Andrade, é um jovem  professor no Rio de Janeiro: J. G. de Araujo Jorge. É hoje comum em certos círculos literários da Europa falar-se no poeta chileno Pablo Neruda. De idêntico valor como intérprete do ardente coração latino americano, da pobreza de sua gente, do sentimento e da beleza desse continente, é também J. G. de Araujo Jorge.
Há de chegar o dia, estou certo, em que em todas as antologias de poemas sobre a liberdade, em todas as antologias dos povos livres, serão incluídos os críticos deste profundo e empolgante poeta".

- STEFAN BACIU
Arbeiter-Zeitung, Suíça, 13/8/49


"Araujo Jorge, na forma e no conteúdo é um poeta eminentemente popular e revolucionário. O Canto da terra foi lançado em pleno regime de terror, como um desafio de inteligência livre quando a imprensa se achava amordaçada, e a polícia ameaçadora toda-poderosa rondava as casas dos inimigos da ditadura. Pela força e pelo fulgor, a poesia de Araujo Jorge pode se comparar à de Pablo Neruda, chegando mesmo a superá-la em muitos aspectos."

- EDMUNDO MONIZ,
1943 (Revista Vamos Ler)


"Estrela da Terra eleva J. G. de Araujo Jorge à galeria de Whitman e de Neruda, como Cântico do homem prisioneiro e O Canto da terra o situaram no plano de Castro Alves."

LUCÍLIO DE CASTRO,
O Globo, 21/1/45


"Quem por ventura convive com J. G. de Araujo Jorge não pode deixar de apreciar sua atitude olímpica diante da vida. É ele, na verdade, um apóstolo da Poesia. O verso é para ele uma mensagem para o povo. Detesta o hermetismo. Ama a multidão. Abomina o mistério. Idolatra o entendimento comum de todas as almas".

- JOAQUIM RIBEIRO, 1943
(Prefácio de Meus Sonetos de Amor)


"Como se trouxesse água na mão para a boca sedenta e empoeirada, assim nos chega esta Mensagem de J. G. de Araujo Jorge, o mais popular de nossos poetas, o poeta das massas, de maior projeção no Brasil, conforme (apud, citação de Franklin de Sales, na Folha de Minas de 29 de maio de 1943) já tivera a oportunidade de dizer Carlos Drummond de Andrade".

- MOACYR FELIX
Apresentação do livro Mensagem


"Se uma miopia estética me impedisse de reconhecer poesia nos versos de J. G. de Araujo Jorge, haveria o fator claro e indiscutível que mo apontaria como legítimo poeta: não lhe perdoam o inegável sucesso, e, a todo instante, procuram morder-lhe o renome com os dentes compridos e verdes de inveja."

RENATO HOMEM
Carioca, 12/9/42

> Fonte: www.jgaraujo.com.br